Pequeno grande livro de Raymond Depardon — entre as muitas edições que, actualmente, em França, evocam os acontecimentos de Maio 68, Depardon preferiu evocar, não o mês, mas o ano: 1968, publicado na colecção Points, é um livro de bolso que retraça o espantoso ziguzague do fotógrafo durante um ano em que foi vital o desenvolvimento da agência Gamma, por ele criada, em 1966, com Gilles Caron (mais tarde, viria a integrar a Magnum). Desde os eventos do mundo do espectáculo, como a estreia de Bonnie e Clyde em Paris, até aos momentos de maior dramatismo, como a agitadíssima convenção do Partido Democrático, em Agosto, em Chicago, marcada pelos protestos contra a guerra do Vietname [foto em baixo], Depardon apresenta um verdadeiro bloco-notas de um ano que, definitivamente, não pode ser reduzido ao pitoresco televisivo dos nossos dias.
Com alguma ironia, Depardon recorda que, na altura, o seu objectivo primeiro era fazer filmes. Assim aconteceu, de facto, e de então para cá a sua obra tem tanto de fotográfico como de cinematográfico — aliás, importa recordar que, ainda há poucos dias, no Festival de Cannes, pudemos descobrir a sua mais recente obra cinematográfica, o espantoso documentário La Vie Moderne.