E se a Palma de Ouro fosse para o último título apresentado na secção competitiva de Cannes? E se, 21 anos decorridos sobre o último triunfo francês — Sob o Sol de Satánas, de Maurice Pialat —, a França voltasse a vencer o festival com Entre Les Murs, de Laurent Cantet?
A pergunta justifica-se, quanto mais não seja porque (ainda que erradamente) surge sempre essa sensação difusa de que os últimos dois dias do certame são para as "sobras"... Pois bem, Entre les Murs, sobre as relações atribuladas de professores e alunos num típico liceu francês, consegue essa proeza muito especial que é oferecer-nos um retrato subtil dos muitos conflitos que uma escola pode abarcar (geracionais, pedagógicos, morais, rácicos, etc.), preservando um realismo à flor da pele que, uma vez mais, repõe a questão fascinante da contaminação da ficção pelo documentário. Baseado num estudo de François Begaudeau, o filme integra-o (a ele e aos seus alunos) como actor para definir uma invulgar ambiencia dramática, com tanto de perturbante como de comovente. Seja qual for o palmarés, Entre les Murs fica como um dos momentos emblemáticos desta 61.ª edição do Festival de Cannes.