Perante a histeria televisiva em torno da se-lecção portuguesa de futebol, vale a pena perguntar o que se passa noutros contextos — em França, por exemplo. Este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Maio), com o título 'Futebol à francesa'.
Tal como Portugal, a França também tem a sua selecção de futebol na fase final do Euro 2008. A selecção de Makelélé, Anelka e Thierry Henry possui um curriculum invejável, incomparavelmente mais rico que o dos portugueses, tendo sido campeã da Europa por duas vezes (1984 e 2000) e do Mundo em 1998 (com Barthez, Deschamps, Zidane, etc.). Daí a pergunta: como é que os canais franceses abordam a preparação da equipa orientada por Raymond Domenech?
Tendo estado em França, no Festival de Cannes (14 a 25 de Maio), tive oportunidade de acompanhar a actualidade das televisões franceses. Mesmo tendo em conta que o certame impunha uma horário muito denso, pude fazer “zapping” sobre os principais canais, em particular durante as primeiras horas da manhã e nos horários noturnos.
Lembro três factos muito básicos: primeiro, não assisti a um único telejornal que abrisse com notícias sobre a selecção francesa nem que lhe dedicasse dezenas de minutos (a preparação da equipa era habitual tema de destaque no espaço do desporto, com reportagens de dois ou três minutos); segundo, desde o “entertainment” aos programas de debate, nunca encontrei o futebol como tema dominante (deparei mesmo com emissões de uma hora de duração em que se discutia essa coisa perigosíssima e pouco recomendável que são... os livros!); enfim, não vi nenhum político ou comentador tecer considerações “patrióticas” a pretexto da selecção de futebol (muito menos alguém a sugerir que a agenda interna do seu partido devia ter em conta o calendário do Euro).
Confirmei, assim, uma certeza. Não que a televisão francesa seja o paraíso (também vi “coisas” do mais descabelado populismo...), mas que é possível manter uma relação com o mundo em que o futebol não seja a referência condutora da informação, nem uma “religião” ditatorial destinada a enquadrar gigantescos espaços de publicidade. Além do mais, mesmo tendo em conta que a França é, historicamente, uma verdadeira potência futebolística, ninguém sustenta qualquer discurso triunfalista. São esquisitos estes franceses... até se dão ao luxo de ser sensatos.
Tal como Portugal, a França também tem a sua selecção de futebol na fase final do Euro 2008. A selecção de Makelélé, Anelka e Thierry Henry possui um curriculum invejável, incomparavelmente mais rico que o dos portugueses, tendo sido campeã da Europa por duas vezes (1984 e 2000) e do Mundo em 1998 (com Barthez, Deschamps, Zidane, etc.). Daí a pergunta: como é que os canais franceses abordam a preparação da equipa orientada por Raymond Domenech?
Tendo estado em França, no Festival de Cannes (14 a 25 de Maio), tive oportunidade de acompanhar a actualidade das televisões franceses. Mesmo tendo em conta que o certame impunha uma horário muito denso, pude fazer “zapping” sobre os principais canais, em particular durante as primeiras horas da manhã e nos horários noturnos.
Lembro três factos muito básicos: primeiro, não assisti a um único telejornal que abrisse com notícias sobre a selecção francesa nem que lhe dedicasse dezenas de minutos (a preparação da equipa era habitual tema de destaque no espaço do desporto, com reportagens de dois ou três minutos); segundo, desde o “entertainment” aos programas de debate, nunca encontrei o futebol como tema dominante (deparei mesmo com emissões de uma hora de duração em que se discutia essa coisa perigosíssima e pouco recomendável que são... os livros!); enfim, não vi nenhum político ou comentador tecer considerações “patrióticas” a pretexto da selecção de futebol (muito menos alguém a sugerir que a agenda interna do seu partido devia ter em conta o calendário do Euro).
Confirmei, assim, uma certeza. Não que a televisão francesa seja o paraíso (também vi “coisas” do mais descabelado populismo...), mas que é possível manter uma relação com o mundo em que o futebol não seja a referência condutora da informação, nem uma “religião” ditatorial destinada a enquadrar gigantescos espaços de publicidade. Além do mais, mesmo tendo em conta que a França é, historicamente, uma verdadeira potência futebolística, ninguém sustenta qualquer discurso triunfalista. São esquisitos estes franceses... até se dão ao luxo de ser sensatos.