Os These New Puritans têm um novo single extraído do seu segundo álbum, Hidden. Tem por título Attack Music e aqui fica o teledisco, realizado por Matthew Stone.quarta-feira, março 31, 2010
Ataque com música (e coreografia)
Os These New Puritans têm um novo single extraído do seu segundo álbum, Hidden. Tem por título Attack Music e aqui fica o teledisco, realizado por Matthew Stone.E mais uma ressaca...
Acontece (em Maio)
Les Ballets Russes em exposição
No programa de exposições que o museu londrino Victoria & Albert tem para este ano conta-se, a partir de 25 de Setembro, uma mostra que vai evocar os 20 anos de actividade dos Les Ballets Russes (de 1909 a 1929), o visionário espaço que juntou a música mais visionária do seu tempo às artes performativas e a figuras igualmente marcantes nos universos da criação de figurinos e cenários. Starvinsky, Debussy, Satie, Nijinsky, Picasso, Matisse, Chanel são nomes centrais nesta aventura que teve como peça central a figura de Serge Diaghilev. O staff do museu está neste momento a tentar recuperar figurinos e outras peças ligadas à história dos Les Ballets Russes, muitos destes objectos tendo sido dispersos por leilões nos anos 70.
Pela discografia dos Bomb The Bass (3)
Continuando a revisitar a discografia dos Bomb The Bass passamos hoje por Clear, o terceiro disco do colectivo reunido por Tim Simenon em torno de uma ideia que, progressivamente, evoluiu rumo a um espaço mais próximo da composição com instrumentos mais “convencionais”, afastando-se das técnicas de corte e colagem que haviam sido protagonistas, sobretudo no álbum de estreia. Editado em 1995, Clear é um álbum claramente mais elaborado, revelando um interesse pelos domínios do dub, o que se reflecte na equipa que Simenon juntou em estúdio, na qual militavam alguns músicos ligados à editora (e também sound system) On-U Sound. Nas vozes surgem também novas presenças, de Leslie Winer a Will Self, em canções menos luminosas. William Burroughs é figura de referência em torno deste disco que chega mesmo a usar, samplado, um excerto áudio da adaptação ao cinema, por David Cronenberg, de Naked Lunch.
terça-feira, março 30, 2010
E agora o segundo capítulo...
Os MGMT lançaram hoje no seu site oficial o teledisco para Flash Delirium, mais um tema do seu segundo álbum de originais que terá edição em inícios de Abril. Nas imagens, a dada altura, ambientes que evocam o cinema de Cronenberg.Pode ver o teledisco dos MGMT aqui.
Mais uma reunião....
Palavras e ideias antes do concerto
O tenor John Potter acompanha amanhã o compositor britânico Ambrose Field no concerto que ambos vão apresentar pelas 22.00 no Teatro Maria Matos, em Lisboa. O concerto centra-se no trabalho de parceria que ambos desenvolveram em Being Dufay, disco de 2009 que parte de peças de Guillaume Dufay compostas no século XV e as transporta para um espaço novo, desafiante, definido por electrónicas que em tudo traduzem caminhos e ideias do século XXI. Falei com John Potter há poucos dias e dessa conversa surgiu o texto que é publicado na edição de hoje do DN.Pode ler o artigo aqui.
Dia 10... a festa continua (e com extra)
Pop Fora do Armário(de Bowie a Gaga) – Parte 2
Centro LGBT, 10 de Abril, 21.30
A noite começa com uma sessão sobre Madonna. Segue depois a música… Ou seja, dia 10, a noite começa outra vez por ali…
Dia 10 de Abril há nova noite Pop Fora do Armário no Centro LGBT, desta vez com um extra, juntando à música para dançar uma sessão sobre Madonna promovida pelos autores deste blogue e contando com a presença de ambos. Esta será a primeira de uma série de iniciativas do género que o Sound + Vision organizará, todos os meses, em colaboração com a ILGA Portugal. A sessão assinala ainda o lançamento do novo DVD de Madonna.
Pela discografia dos Bomb The Bass (2)
O segundo álbum dos Bomb The Bass, Unknown Territorry, teve um início de vida menos fácil quando, em 1991, o nome do grupo se viu na lista dos que certas estações de rádio acharam por bem afastar do ar em tempo da primeira guerra do golfo (o mesmo acontecendo, por exemplo, com os Massive Attack). O primeiro single, Love So True, acabou mesmo originalmente lançado sob o nome de Tim Simenon. Um sample dos Pink Floyd atrasou depois o lançamento do álbum que, quando chegou finalmente aos escaparates em 1991 revelou sinais de evolução numa música que, mantendo interesses semelhantes aos revelados no álbum de estreia, e fazendo do sampling uma ferramenta estrutural (entre outros é usado um elemento de Ghosts, dos Japan), caminha num sentido de busca de uma ideia que não se esgota em fragmentos de três minutos, antes procurando estabelecer a coerência de um todos que se espera de um álbum. Simon Reynolds chegou a usar a expressão “progressive dance” ao referir-se a este disco.
segunda-feira, março 29, 2010
A "americanização" do IMDb
Referência incontornável do cinema na Net, o IMDb tem de tanto de utilidade como de arbitrariedade — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 de Março), com o título 'Os limites do IMDb'.Tal como muitos cinéfilos de todo o mundo, sou consultor regular do site Internet Movie Database ou, mais simplesmente, IMDb. Tem as vantagens de uma acumulação de filmografias (realizadores, actores, técnicos, etc.) relativamente fiável, embora limitada por um enquadramento histórico pouco mais que medíocre, muitas vezes apoiado na proliferação de comentários (?) cuja ignorância factual ou estética surge promovida a lei universal.
Em todo o caso, os limites mais chocantes do IMDb decorrem da sua banal “americanização”. Na versão original, como nas outras versões do site (francesa, espanhola, portuguesa, etc.), a actualidade cinematográfica surge praticamente reduzida ao contexto americano e, mais do que isso, a notícias sobre “romances” e “apanhados” que rivalizam com a grosseria da mais estúpida imprensa cor de rosa. Nada contra o cinema americano, entenda-se, ainda e sempre um fascinante espaço criativo. O que está em causa é este estilo de (des)informação incapaz de se exprimir para além de uma visão frívola e pitoresca dos filmes e seus criadores.
Peter Gowland (1916 - 2010)
Foi, na idade de ouro de Hollywood, um nome de referência da fotografia das estrelas — Peter Gowland faleceu no dia 17 de Março, em Pacific Palisades, Los Angeles, contava 93 anos. Mesmo nunca tendo atingido a dimensão criativa de grandes fotógrafos clássicos como George Hurrell ou Cecil Beaton, Gowland era uma figura de grande prestígio, em particular por causa do seu trabalho didáctico (publicou diversos livros sobre a fotografia de glamour) e também pelas câmaras que criou (as célebres Gowland cameras). No seu site oficial, para além das suas imagens [exemplos aqui em baixo], podemos encontrar um historial da sua produção e das evoluções técnicas que patrocinou. Era filho de um casal de actores: Sylvia Andrew (1895-1959) e Gibson Gowland (1877-1951) — o pai foi o intérprete da personagem de John McTeague no clássico Greed (1924), de Eric von Stroheim.
Cannes 2010: o cartaz
A 63ª edição do Festival de Cannes (12/23 Maio) começa com uma obra-prima — divulgado hoje (a programação será conhecida a 15 de Abril), o cartaz oficial resultado do trabalho gráfico de Annick Durban a partir de uma foto de Juliette Binoche, assinada por Brigitte Lacombe: uma promessa de luz e movimento, a meio caminho entre o primitivo e o digital, o masculino e o feminino.O regresso dos Glass Candy
Uma canção (e um jogo)
Mais a Norte, com os White Stripes
É um dos mais interessantes entre os novos hábitos – quase feitos rotina – em terreno pop/rock: recordar digressões em documentários, que podem passar pelo circuito de salas, com o DVD como meta logo a seguir. Os White Stripes apresentam assim Under Great White Northern Lights, realizado por Emily Malloy. E no agradável formato CD + DVD.
O primeiro ponto interessante deste filme é o foco que o conduz, acompanhando não uma qualquer digressão por grandes cidades, palcos de referência e bla bla bla, mas antes seguindo de perto uma série de concertos agendados por todo o Canadá em 2007, muitos deles em cidades bem distantes das grandes metrópoles… Numa pequena cidade bem a Norte são recebidos pelo próprio presidente da câmara, que os leva no seu próprio carro. Numa outra, ainda mais a Norte, têm um encontro com anciãos inuit, com os quais partilham memórias, músicas e experiências. Há cenas de pequenas actuações em praças públicas. Um concerto de uma nota só… Espaços para algumas reflexões… Um quarto de hotel com um piano… E até mesmo um confronto (tranquilo, é certo), com uma agenda mais carregada que o esperado na chegada a um outro porto. Tudo isto mãos frequentes registos de actuações ao vivo, os momentos de palco escutados com a atenção de quem sabe que, no fundo, a música é o que justifica toda esta série de momentos… Acrescente-se um belíssimo trabalho de câmara e uma bela direcção de fotografia e reconheça-se aqui um dos melhores documentários rock’n’roll dos últimos tempos. Ambrose Field, esta semana em Lisboa
É já esta quarta feira que se apresenta em Lisboa, no Teatro Maria Matos (pelas 22.00), o compositor Ambrose Field, que chamou atenções em 2009 com Being Dufay, disco editado pela ECM no qual promoveu uma série de encontros entre canções do século XV (assinadas por Guillaume Dufay) e composições electrónicas que sublinham essencialmente uma curiosidade pela exploração de texturas e ideias nos limiares do silêncio… O concerto, tal como o disco, apresenta Ambrose Field acompanhado pelo tenor John Potter. Em jeito de revisão da matéria dada, aqui ficam links para alguns posts do Sound + Vision nos quais aqui referimos este álbum de Ambrose Field.Crítica ao álbum.
Entrevista com Ambrose Field (parte 1).
Entrevista com Ambrose Field (parte 2).
Pela discografia dos Bomb The Bass (1)
Num momento em que entra em cena um novo álbum do colectivo Bomb The Bass, vamos aqui evocar a sua discografia. Nascido como um veículo para a música do DJ britânico Tim Simenon, o projecto Bomb The Bass apresentou-se em 1987 com Beat Dis, um single que cruzava estruturas da música house com técnicas de corte e colagem, representando inclusivamente (e juntamente com Pump Up The Volume, dos MARSS) um dos primeiros exemplos maiores desta nova forma de construção musical em terreno pop sob atenção global. O álbum, Into The Dragon, surgiu alguns meses depois, já em 1988, acrescentando às afinidades com a house e com a cultura do sampling sinais de evidente interesse pelo universo do hip hop. O álbum inclui, além de Beat Dis, os singles Don’t Make Me Wait, Megablast e uma versão de Say A Little Prayer, um clássico maior de Aretha Franklin. O disco juntou uma série de convidados de grande protagonismo no movimento que, na altura, levava a club culture a um protagonismo nunca antes visto no mapa discográfico (e mediático) inglês, nomeadamente Mark Moore (dos S-Express) e Jazzie B (dos Soul II Soul).
domingo, março 28, 2010
Para repensar a ideia de "tradição"
O relato da “paixão” de Cristo foi já centro de gravidade para um sem fim de obras musicais. No ano 2000, assinalando os 250 anos de Bach (autor de duas das mais celebradas “paixões”), a Academia Internacional Bach, de Estugarda, desafiou uma série de novos compositores a abordar musicalmente os quatro evangelhos. A ideia era a de transportar para o presente o espírito das abordagens de Bach (não necessariamente o seu estilo musical), as encomendas acabando entregues ao alemão Wolfgang Rihm, à russa Sofia Gubaidulina, ao chinês Tan Dun e ao argentino Osvaldo Golijov. Este último recontextualizou a “paixão” na América Latina de hoje, com pólos concretos em Cuba e no Brasil, as músicas e tradições populares de ambos os locais projectando-se assim na arquitectura de uma visão musical absolutamente deslumbrante nesta Pasión Según San Marcos. Salsa e capoeira são duas entre as referências que cruzam uma obra que mostra caminhos de relação entre a música e fé que evocam a espantosa Missa de Bernstein, obra dos anos 70 na qual o compositor norte-americano deixou igualmente vincadas as marcas de uma identidade de tempo e cultura. Esta é uma música do presente, um fruto da idade da comunicação global. Mas que não se dilui nem perde entre as demais criações do presente, antes pelo contrário se afirma pelas vincadas marcas de personalidade que revela.
Um dos novos compositores com mais interessante obra nos anos zero, o argentino Osvaldo Golijov já foi mesmo descrito como “o primeiro compositor do século XXI”. A designação faz sentido tendo em conta as características de uma música que, herdeira da chamada “tradição” clássica, respira sobretudo sinais de identificação com o presente e com o mundo ao seu redor. Um dos mais claros exemplos desta identificação surge nesta Pasión Según San Marcos, obra orquestral e coral de grande fôlego que acaba de conhecer nova edição em disco, pela Deutsche Grammophon, num formato 2 CD + DVD que, na verdade, apresenta duas recentes gravações distintas desta obra. O CD junta as vozes de, entre outros, Jessica Rivera (soprano) e de Reynaldo González-Fernandez (cantor cubano), acompanhadas pela Orquestra La Pasión, alguns elementos da Orquestra Simón Bolívar e o Schola Cantorum de Venezuela, sob direcção de Maria Guinard. O DVD apresenta uma produção desta obra em Amsterdão, em 2008, recuperando as duas vozes acima citadas, bem como a orquestra La Pasión e o mesmo coro, mas com direcção de Roberto Spano.Algumas imagens da produção apresentada no DVD que surge nesta nova gravação da Pasión Según San Marcos.
Memórias rock'n'roll
Em 1976 uma nova antologia dos Beatles entrou em cena, recuperando a face mais “rock’n’roll” da discografia do grupo. Como cartão de visita para o álbum, alguns mercados editaram um single com os temas Got To Get You Into My Life e Helter Skelter. Nos EUA o single representou o último top ten dos Beatles na tabela de 45 rotações até Free As Bird, já nos anos 90. No Reino Unido outros temas foram escolhidos para o single que então promoveu a chegada da compilação Rock and Roll Music.
sábado, março 27, 2010
Sandra Bullock, realista
Com Um Sonho Possível/The Blind Side reencontramos um cinema americano que não cede às facilidades que, por vezes, dominam uma produção apenas enraizada na proliferação de efeitos especiais — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Março), com o título 'O valor simbólico de um Oscar'.Perante a vulgaridade dos “famosos” que a televisão fabrica e a imprensa rosácea promove e arrasa com idêntico despudor, será difícil acreditar que o estatuto de estrela de cinema já foi uma coisa séria. No caso das mulheres, ser Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn ou Bette Davis era uma arte a tempo inteiro, tecida de inteligência, glamour e mistério. Tempos houve em que a felicidade do mundo não dependia dos disparates mais ou menos alcoólicos de Paris Hilton ou da revelação dos namorados da desamparada Lindsay Lohan...
Em Hollywood, ao longo da derradeira década do século XX, tal decadência traduziu-se na proliferação de personagens “adolescentes” para quem o feminino seria, na melhor das hipóteses, uma marca de perfume. Consequência prática: a rarefacção de papéis capazes de exigir às actrizes, novas e velhas, verdadeiros trabalhos de composição. Daí o valor simbólico do Oscar atribuído a Sandra Bullock pelo papel da mãe de Um Sonho Possível. Desde logo, porque se trata de uma personagem não linear, jogando com padrões clássicos do melodrama familiar, mas escapando ponto por ponto a qualquer cliché moralista; depois, porque a sua interpretação desmente a noção simplista (viciada na histeria tecnológica do presente) segundo a qual o actor seria cada vez mais dispensável nas narrativas cinematográficas.
Tal como Robin Wright Penn, em As Vidas Privadas de Pippa Lee, ou Meryl Streep, em Amar É Complicado, Sandra Bullock vem provar que a arte de representar permanece indissociável da energia criativa de Hollywood. O facto é tanto mais importante quanto surge intimamente ligado ao retorno dos valores mais tradicionais do realismo social. Por vezes, ser conservador pode ser uma bela ousadia.
Duran Duran, 1981
Imagens de uma actuação dos Duran Duran no Top Of The Pops, em 1981, ao som de Planet Earth.
Hoje, a noite começa aqui
O complemento... em azul
'The Beatles 1966-1970' (compilação), 1973
Editado em simultâneo com o “álbum vermelho” (que recuperava canções originalmente lançadas entre 1962 e 66), a antologia em álbum-duplo The Beatles 1966-1970 ficou essencialmente conhecida como sendo o “álbum azul”. O disco segue exactamente os mesmos princípios da antologia que lhe é complementar, retratando a etapa final (e mais criativa) da obra dos Beatles. A capa usa uma fotografia de 1969 que chegou a ser usada num estudo para a capa de Get Back, o álbum que não se meterializou (as suas canções mais tarde dando origem a Let It Be). O grupo surge nas mesmas escadas da sede da editora onde, anos antes, haviam sido fotografados para a capa do seu primeiro álbum (imagem essa usada, também em 1973, na capa do “álbum vermelho”). Tal como a foto mais antiga, também esta foi assinada por Angus McBean. Aquando da sua edição, o volume “azul” superou as vendas do disco “vermelho” tanto no Reino Unido como nos EUA.
sexta-feira, março 26, 2010
Memórias de Heath Ledger
Heath Ledger faleceu a 22 de Janeiro de 2008, durante a rodagem deste Parnassus. Como é que um filme sobrevive à morte do seu actor principal? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Março), com o título 'O cinema e as suas maldições'.Terry Gilliam é um criador de excessos. Mesmo naquele que me parece o seu melhor filme, As Aventuras do Barão Münchausen (1988), há um delirante gosto visual que tende a sobrepor-se a tudo o resto, limitando a consistência narrativa do seu trabalho. Já aconteceu essa consistência ser posta em causa por verdadeiras conjunturas “kafkianas”, a ponto de Gilliam ter abandonado um (primeiro) projecto de adaptação de Don Quixote, entre outras razões porque os cenários foram destruídos por uma tempestade, ao mesmo tempo que o protagonista, o francês Jean Rochefort, surgia com problemas de artrose que o impediam de... andar a cavalo (a odisseia está registada no documentário Lost in La Mancha, realizado em 2002 por Keith Fulton e Luis Pepe).
O caso de Parnassus: O Homem que Queria Enganar o Diabo ultrapassa tudo. De facto, não havia maneira “razoável” de compensar a falta de Heath Ledger. Na sequência da sua morte, a decisão de dar um salto em frente, integrando novos actores (incluindo estrelas como Johnny Depp e Jude Law), talvez só pudesse gerar este resultado: um objecto à deriva, incapaz de lidar com as maldições que sobre ele se abateram.
Que fazer com os efeitos especiais?
A conjuntura mediática e comercial favorece uma cultura de fascínio beato pela "tecnologia". Por que preço? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 de Março).
Uma das consequências mais correntes, e também mais simplistas, da visão banalmente financeira do cinema é a sua redução a índices de receitas. Proliferam os números “grandes” dessas receitas, omitindo-se qualquer consideração sobre todos os outros (da produção à promoção e, mais recentemente, da reconversão das salas para a projecção digital). O cinema americano é o palco privilegiado de tal (des)informação, favorecendo um retrato triunfalista da produção que ignora, não apenas a sua diversidade, mas também os seus inevitáveis falhanços comerciais.
Escusado será dizer que não há nenhuma relação estável, muito menos racional, entre a vida económica de um filme e os juízos de valor que sobre ele possamos formular. O que se contesta é o efeito equívoco de uma certa megalomania “jornalística” que ignora a pluralidade do fenómeno cinematográfico. Por exemplo, o filme Green Zone (ainda inédito entre nós) que marca o reencontro de Paul Greengrass, da série “Bourne”, com o respectivo actor, Matt Damon: com menos de 20 milhões de dólares na semana de estreia nos EUA, Green Zone é um monumental falhanço económico, quanto mais não seja porque custou 100 milhões (o que quer dizer que se terá gasto pelo menos outro tanto na respectiva campanha publicitária). E que dizer de Visto do Céu, adaptação do best-seller de Alice Sebold [The Lovely Bones], dirigida por Peter Jackson (O Senhor dos Anéis) e recentemente lançada entre nós? Com uma receita global ainda abaixo dos 90 milhões, tendo custado 65, consegue uma performance comercial à beira do medíocre, sobretudo tendo em conta a sofisticação de meios e também o muito que foi investido no seu lançamento.
Visto do Céu é tanto mais sintomático quanto a sua própria concepção artística reflecte o mesmo tipo de visão delirante do trabalho cinematográfico. Estamos perante a abordagem de uma história fantástica (uma jovem assassinada que, num limbo existencial e moral, “contempla” a vida que deixou) marcada por uma integração meramente instrumental dos efeitos especiais: Visto do Céu é mesmo um caso exemplar do modo como a atracção “tecnicista” pode reinar, a ponto de esvaziar o labor específico da narrativa, isto é, a arte de contar histórias.
Quase sempre, os modernos efeitos especiais passaram a ser apresentados como uma receita “mágica” para a sedução espectacular do cinema. É um discurso que recalca o facto de os efeitos especiais não serem uma “proeza” do século XXI, mas sim um dado inerente à história do cinema desde os seus primórdios, em finais do século XIX, com Georges Méliès. Mais do que isso: tal discurso favorece a indiferença pelos filmes menos ricos, ou mais artesanais. No contexto português, conhecemos há décadas os seus danos colaterais: exprimem-se através de um paternalismo populista que menospreza, por princípio, o trabalho dos criadores.
Record Club... O quarto episódio
Nos 90 anos de Ravi Shankar
Entre irmãos
O novo cinema da América Latina continua a trazer-nos boas surpresas. Mais um exemplo, apesar de entre nós ter passado discretamente pelo circuito de salas, chega agora ao DVD, assinado pelo mexicano Carlos Cuarón (o irmão de Alfonso Cuarón), à frente de um elenco protagonizado por Gael Garcia Bernal e Diego Luna.
Rudo Y Cursi, com ingredientes de drama e pontuais incursões pelo registo da comédia, é a história de dois irmãos que jogam futebol amador numa equipa perdida numa pequena aldeia junto de uma plantação de bananas na costa mexicana. Um olheiro leva-os à capital è à primeira liga profissional da modalidade, a falta de horizontes de ambos e a absoluta incapacidade em compreender esse novo mundo em que vivem marcando todavia uma nova etapa na qual os dois irmãos se vêm, subitamente, transformados nos “casos” do ano. Um deles sonha numa carreira na música e deixa-se iludir por uma apresentadora de TV que nele encontra passaporte para mais uns episódios entre famosos. O outro não consegue deixar de jogar a dinheiro… E para não ajudar o panorama, o campeonato conduz os irmãos rumo a um jogo que, se por um lado pode decidir qual deles é o melhor, por outro pode acabar com implicações bem diferentes nas suas vidas pessoais… A edição em DVD, que agora chega a Portugal, junta ao filme alguns extras, entre os quais o teledisco que a personagem interpretada por Gael Garcia Bernal grava, a pensar numa carreira nas canções que, na verdade, não o levará a lado algum. Robin dos Bosques... em Cannes
Até finais de Abril, em Lisboa
No centenário de Akira Kurosawa (5)
Madadayo [cartaz francês], derradeiro título da filmografia de Akira Kurosawa, possui um inevitável valor de testamento. Estreado na Europa, em Cannes, em Maio de 1993 — Kurosawa viria a falecer em 1998, contava 88 anos —, nele encontramos uma visão do envelhecimento em que as memórias históricas do Japão se cruzam com as componentes sociais e familiares (o protagonista é um velho professor cujos ex-alunos celebram regularmente os seus aniversários). Kurosawa foi, de facto, um épico que nunca menosprezou as componentes realistas, a ponto de ser possível estabelecer laços estéticos e temáticos entre Madadayo e o lendário Ikiru/Viver (1952), sobre os derradeiros tempos de um funcionário público atingido por um cancro. Afinal de contas, para Kurosawa, as sagas colectivas era também a outra face da solidão individual.quinta-feira, março 25, 2010
Em Brooklyn (mas a pensar na floresta)
John Lennon: e sai mais uma homenagem
Ao piano, e com novas canções
O novo álbum de Rufus Wainwright, de título All Days Are Nights: Songs For Lulu, tem edição em inícios de Junho. No seu novo disco o músico canadiano apresenta-se em canções que canta ao piano (como, de resto, por vezes se apresenta em palco). Um contraste, portanto, não apenas face ao tom épico e sinfonista das canções que habitaram o díptico Want e mesmo o mais recente álbum Release The Stars, como também à sua ópera Prima Donna, estreada em Manchester em 2009.Imagens de um pequeno filme promocional no qual Rufus Wainwright apresenta este seu novo disco.
Um panorama... sem rede
É uma das exposições de que se mais fala em Lisboa neste momento. E junta uma série de peças representativas da obra de Joana Vasconcelos. Na verdade, é a primeira vez que uma visão panorâmica sobre o trabalho da artista é apresentada com esta amplitude num museu. Joana Vasconcelos - Sem Rede estará patente no Museu Colecção Berardo até 18 de Maio. A entrada é gratuita.No centenário de Akira Kurosawa (4)
Mais uma imagem de um momento de referência no cinema de Akira Kurosawa (cujo centenário se assinala esta semana), desta vez recordando Ran – O Senhor da Guerra. O filme, de 1985, foi a última produção de grande envergadura do realizador japonês, tomando como ponto de partida uma lenda japonesa e uma recontextualização local de O Rei Lear, de Shakespeare. O filme venceu um Oscar para Melhor Guarda Roupa e contou com banda sonora assinada pelo compositor Toru Takemitsu.
quarta-feira, março 24, 2010
Robert Culp (1930 - 2010)
Foi um dos nomes mais populares da televisão americana dos sixties, enquanto protagonista da série I Spy (1965-1968), assumindo com Bill Cosby uma dupla de agentes envolvidos em histórias de espionagem — natural de Oakland, Robert Culp faleceu hoje, dia 24 de Março, em Los Angeles, contava 79 anos.A televisão foi sempre o meio privilegiado de Culp, distinguindo-se em séries mais ou menos policiais como Wanted: Dead or Alive, Alfred Hitchcock Presents ou The Name of the Game. Em cinema, o momento mais importante da sua carreira terá sido Bob & Carol & Ted & Alice (1969), de Paul Mazursky, comédia dramática típica de um certo tom provocatório de uma produção americana em processo de interrogação dos seus modelos clássicos. Em 1993, Alan J. Pakula deu-lhe o papel de Presidente dos EUA, no thriller O Dossier Pelicano, com Denzel Washington e Julia Roberts. I Spy valeu-lhe algumas nomeações para os Globos de Ouro e os Emmys: nunca ganhou, mas a série foi distinguida, em 1967, com o Globo de Ouro de melhor programa de televisão — este é o genérico de I Spy.
Em câmara lenta...
Strokes em estúdio (sem Casablancas)
'Loïs' visita Porugal em Abril
Esta é uma versão editada de um texto publicado na edição de 23 de Março do Diário de Notícias, com o título, ‘Herói de Jacques Martin visita Lisboa em novo livro’.
Chama-se Portugal, e será o quinto volume criado em torno de Loïs, um herói do século XVII que foi das últimas personagens imaginadas pelo recentemente falecido Jacques Martin, o autor das aventuras de Alix. Com desenhos do português Luís Diferr, Portugal terá edição francesa, em meados de Abril, pela Casterman, devendo a edição portuguesa, pela ASA, chegar às livrarias em finais de Abril e inícios de Maio. Jacques Martin acompanhou o projecto no princípio. Mas no livro apenas a introdução é assinada por si, sendo o planeamento, o texto e os desenhos de Luís Diferr.
A série de livros que Jacques Martin criou com Loïs Lorcey como protagonista surgiu em 2003 e soma já quatro álbuns com narrativas de aventuras (o mais recente dos quais na imagem ao lado) e um primeiro livro "de viagens", centrado em torno da evocação do palácio de Versalhes, durante o reinado de Luís XIII, em meados do século XVII. Este modelo de livro, que Jacques Martin começou a publicar em torno das cidades e lugares por onde se desenrolavam as aventuras de Alix, não corresponde exactamente a uma história em quadradinhos, mas sim a um olhar histórico sobre um tempo e um lugar, com ilustrações que em tudo seguem a linha que associamos ao herói em questão. Neste caso, com Loïs, visitamos o Portugal de finais do século XVII e inícios do século XVIII (contemporâneo, portanto, da França de Luís XIV), visitando lugares como o Convento de Mafra, a Torre de Belém, o Convento de Cristo, o Paço da Ribeira...Ler aqui o artigo completo.
E afinal há "mudança"...
O primeiro ano na presidência não foi fácil para Barack Obama. Mas na última semana o presidente americano alcançou uma das maiores vitórias (senão mesmo a maior) desde o dia em que conquistou a Casa Branca, com a aprovação final da sua reforma do sistema de saúde, uma das suas principais “causas” defendidas durante a campanha. Este era, na verdade, um desejo antigo em alguns sectores da política americana, com anteriores presidentes, de Carter a Clinton, a abandonar as batalhas sem chegar a este ponto… Para Obama foi um trajecto difícil, não cativando a adesão da oposição republicana. De resto, ainda haverá alguma contestação pelo caminho... Mas agora, ao assinar a nova legislação, Obama volta a sorrir o sorriso de quem vence. E pode, de facto, dizer que a “mudança” está a acontecer…Sinais imediatos desta “vitória” política de Obama, os seus índices de popularidade voltaram a crescer. Segundo a sondagem mais recente da Gallup, (que há poucos dias mostrava um índice de aprovação de apenas 46%), Obama subiu para 51%, com o valor dos que não aprovam o seu trabalho nos 43%...
No centenário de Akira Kurosawa (3)
Assinalando o centenário de Akira Kurosawa, continuamos a evocar imagens dos seus filmes. Hoje recordando Os Sete Samurais, filme de 1954 e um dos títulos-chave da filmografia do realizador japonês. O filme leva-nos ao século XVI, numa altura em que os camponeses de uma pequena aldeia contratam sete guerreiros para combater bandidos que assolam a região e que, invariavelmente, surgem após cada colheita para aroubar. Os Sete Samurais, onde Kurosawa introduziu importantes inovações narrativas (sobretudo na forma de apresentar as personagens) não foi apenas um dos mais célebres filmes de Kurosawa, mas também um veículo fundamental para a chamada de atenção para o cinema japonês em salas do mundo ocidental.
terça-feira, março 23, 2010
De Rhode Island (via Brooklyn)
E as boas notícias continuam a chegar de Brooklyn, em Nova Iorque. Desta vez através dos Fang Island, uma banda que na verdade nasceu em Providence, em Rhode Island, um pouco mais a Norte… Acabam de editar um álbum de estreia, de título… Fang Island. E este Daisy, com teledisco de produção ultra lo-fi, é uma das canções que apresentam como cartão de visita. A realização é de Carlos Perez.Mais uma reunião em 2011?...
o para um concerto ou mesmo uma mini-digressão.
















