Madadayo [cartaz francês], derradeiro título da filmografia de Akira Kurosawa, possui um inevitável valor de testamento. Estreado na Europa, em Cannes, em Maio de 1993 — Kurosawa viria a falecer em 1998, contava 88 anos —, nele encontramos uma visão do envelhecimento em que as memórias históricas do Japão se cruzam com as componentes sociais e familiares (o protagonista é um velho professor cujos ex-alunos celebram regularmente os seus aniversários). Kurosawa foi, de facto, um épico que nunca menosprezou as componentes realistas, a ponto de ser possível estabelecer laços estéticos e temáticos entre Madadayo e o lendário Ikiru/Viver (1952), sobre os derradeiros tempos de um funcionário público atingido por um cancro. Afinal de contas, para Kurosawa, as sagas colectivas era também a outra face da solidão individual.