sábado, fevereiro 28, 2009

Nos olhos de Tom Cruise

Nos olhos de Tom Cruise estava a superfície mágica do bilhar. E, através dela, a entrada na galeria de honra de Hollywood. Dito de outro modo: A Cor do Dinheiro, com Paul Newman e Cruise, sob a direcção de Martin Scorsese, está finalmente disponível em DVD — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 de fevereiro), com o título 'Quando Tom Cruise encontrou Paul Newman'.

Por mais desconcertante que possa parecer, A Cor do Dinheiro (1986), o filme de Martin Scorsese que deu a Paul Newman o seu Oscar de melhor actor, não se encontrava no mercado de DVD. O seu recente lançamento veio eliminar uma lacuna na divulgação da filmografia de Scorsese, permitindo-nos (re)descobrir um momento de transição carregado de simbolismo.
A Cor do Dinheiro constrói-se a partir de uma relação de aprendizagem, mestre/discípulo, cujas matrizes estão, em grande parte no western clássico. Com importantes diferenças de contexto, como é óbvio. Assim, Newman surge como Eddie Felson, lenda do jogo do bilhar que encontra na personagem de Vincent Lauria, o jovem prodígio interpretado por Tom Cruise, um desafio e, em última instância, um sucessor.
Situado num ambiente de apostas nem sempre muito transparentes, A Cor do Dinheiro relança, através dos seus protagonistas, a mitologia do herói forçado a afirmar-se num contexto inóspito. Aliás, em boa verdade, trata-se do prolongamento de um outro filme em que, um quarto de século antes, portanto em 1961, Newman assumira a mesma personagem. Esse filme, The Hustler/A Vida É um Jogo, assinado pelo genial e muito esquecido Robert Rossen (1908-1966), baseava-se no romance de Walter Tevis. Para o filme de Scorsese, o argumentista (também escritor) Richard Price trabalhou a partir da continuação da história de Eddie Felson, escrita pelo próprio Tevis.
Pelas peripécias de A Cor do Dinheiro perpassa o tema da afirmação individual e, mais do que isso, da redenção, nuclear na obra de Scorsese. E não é uma das menores maravilhas do filme que a relação de cumplicidade e conflito que se estabelece entre os dois jogadores acabe por funcionar também como uma belíssima passagem de testemunho entre dois actores capazes de simbolizar duas gerações de Hollywood.
Escusado será sublinhar que, em 1986, Newman era um nome mais que consagrado do cinema americano. Nascido em 1925, produto da geração do Actors Studio a que também pertenciam Marlon Brando ou James Dean, a sua carreira desenvolvera-se de modo fulgurante a partir de Gata em Telhado de Zinco Quente (1958), precisamente o filme que lhe deu a sua primeira nomeação para o Óscar. Quanto a Cruise, embora tendo já dado mostras do seu talento em Taps (1981) ou Negócio Arriscado (1983), era ainda visto sobretudo como o “galã” do sucesso Top Gun (também de 1986). Nesta perspectiva, A Cor do Dinheiro surgiu como o primeiro grande desafio da sua carreira, confrontando-o com o peso e a autoridade de um “monstro sagrado” como Newman, para mais sob a direcção de Scorsese (que, na altura, convém não esquecer, já assinara Mean Streets, Taxi Driver e Touro Enraivecido).
O mínimo que se pode dizer é que se trata de uma afirmação de talento que encontra um eco ambíguo, ligeiramente perverso, na própria dinâmica interna do filme. Assim, dir-se-ia que, face à exuberância da personagem de Vincent, Newman compõe o seu Eddie Felson num misto de ironia e contemplação, em última análise contribuindo decisivamente para a excelência do trabalho de Cruise. Dois anos depois, Cruise teria outro desafio invulgar em Rain Man, neste caso frente a frente com Dustin Hoffman. É caso para dizer: o resto pertence à história.

Japan, 1979

Depois de uma primeira etapa, ainda nos anos 70, que revelava sinais de um diálogo entre as heranças glam rock e a presente new wave, da qual resultadam dois ptimeiros álbuns (ambos editados em 1978), os Japan encetaram, em 1979, um processo de clara transformação da sua identidade, que culminaria em 1981 com a edição do magistral Tin Drum, um dos mais visionários dos álbuns pop de 80. Os primeiros passos rumo a uma nova identidade levaram a banda a uma pontual colaboração com o produtor Giorgio Moroder, entretanto transformado em figura de referência do ‘disco’ pelos discos que entretanto gravara com Donna Summer. Juntos, Japan e Moroder criaram em estúdio Life In Tokyo, uma canção pop de travo ‘disco’, que abria terreno a um relacionamento mais evidente do grupo com as electrónicas em discos seguintes. Foi episódio único, não voltando os Japan a experimentar terrenos tão efusivamente luminosos, revelando logo o álbum Quiet Life, lançado alguns meses depois, como o grupo assimilou e transformou em linguagem sua o que aqui experimentou com Moroder. Mas hoje recordamo-os nessa breve aventura disco, de há 30 anos.



Japan
‘Life In Tokyo’ (1979)

Ang Lee no júri de Veneza

O realizador Ang Lee vai ser o presidente da edição deste ano do Festival de Veneza, que se realiza entre os dias 2 e 12 de Setembro. Ang Lee já venceu por duas vezes o festival, em 2005 com Brokeback Mountain, e em 2007 com Lust, Caution.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Entre heróis

Vive no estado do Mississipi, chama-se Dent May, toca ukelele e acaba de editar um álbum pela Paw Reacks (a mesma editora de Panda Bear e Avey Tare, dos Animal Collective). Pelo seu álbum, The Good Feeling Music Of Dent May & His Magnificente Ukelele passa a sua amiração por Serge Gainsbourg, Van Dyke Parks, Lee Hazlewood ou pela música do Brasil. Aqui fica um aperitivo, ao som de Meet Me In The Garden.

The Field com novo disco em Maio

O projecto electrónico The Field, de Axel Willner vai editar um novo álbum este ano. Com data de lançamento agendada para finais de Maio, Yesterday & Today será o sucessor do aclamado From Here We Go Sublime, de 2007.

A pop de Sarkozy (feat. MGMT)

O presidente francês Nicolas Sarkozy tem um problema pop entre mãos... Para o mais recente congresso do seu partido e para dois videos promocionais para a Internet, a UMP, usou uma canção dos norte-americanos MGMT. O duo nova-iorquino veio entretanto queixar-se que não autorizou a utilização da sua música. Ao que a UMP terá respondido com a soma simbólica de um euro... E logo a representante legal da banda em França descreveu esta oferta como “um insulto”.
Ao que parece o partido pagou uma quantia definida para o licenciamento da música (53 euros, segundo a BBC). Mas a representante da banda sublinha que a quantia não cobre a exploração posterior da música na Internet...
Para quem, como Sarkozy, tem procurado lutar pela defesa da propriedade intelectual, no melhor pano cai a nódoa...
No ano passado, a campanha de John McCain, nos EUA, sofreu pelo uso não solicitado de canções de Jackson Browne ou John Mallencamp... Ou seja, em política, quando se quer banda sonora, nada como falar antes com quem cria as canções! Pedir autorziações... E, já agora... Não tem Sarkozy, lá em casa, quem lhe fale de como funcionam estas coisas?

Sigur Rós com Neil Jordan

O realizador Neil Jordan desafiou o teclista dos Sigur Rós, Kartjan Sveinsson, a compor a banda sonora para o seu novo filme, Ondine. A banda sonora do filme vai incluir ainda algumas canções da banda.

Na era da Internet

Discografia Duran Duran - 54
'Someone Else Not Me' (single), 2000

O final dos anos 90 assinalava o termo de uma longa relação dos Duran Duran com a EMI. Regressaram a estúdio, gravando aos poucos um álbum criativamente sobretudo coordenado por Nick Rhodes e Warren Cucurullo que chegaram mesmo a trabalhar algumas das letras. Simon Le Bom é contudo o responsável pelas palavras que escutamos na canção escolhida para single de apresentação do álbum (Pop Trash). A escolha recaiu sobre a faixa certa, sublinhando ralvez um desejo em chamar a atenção dos que haviam reagido com entusiasmo a Ordinary World, alguns anos antes. Someone Else Not Me é uma canção melancólica, próxima do registo da balada, reflectindo em pleno o sentido cénico elaborado característico desta etapa na vida da banda. A produção coube à dupla TV Mania, nada mais que o projecto paralelo de Nick Rhodes e Warren Cuccurullo, que já a altura trabalhava num álbum que, até hoje, ainda não viu a luz do dia. O single teve versões gravadas em francês e castelhano. O single foi um fracasso comercial, não ultrapassando um modesto número 53 no Reino Unido. Os melhores resultados foram atingidos em Itália, na Letónia e Polónia.



A grande surpresa a associada a Someone Else Nor Me surgiu no teledisco que acompanhou o single, inteiramente criado em tecnologia flash. O vídeo foi assinado pela mesma equipa que então criou o site oficial da banda, este representando uma das grandes apostas dos Duran Duran nesta fase da sua carreira.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Música de dança

O projecto Circlesquere, do canadiano Jeremy Shaw (hoje residente em Berlim), está de regresso aos discos. Inspirado pela tradição de títulos de Leonard Cohen e dos Talking Heads, ao álbum chamou Songs About Dancing and Drugs. Aqui fica uma primeira chamada de atenção, ao som de Dancers. O teledisco teve como inspiração a série “Men In The Cities”, de Robert Longo. Além de Jeremy Shaw, o vídeo apresenta uma série de dançarinos profissionais.




Robert Longo (n. 1953) é um artista norte-americano com obra representada em várias colecções. Em algumas ocasiões o seu trabalho cruzou-se com a cultura pop/rock, tendo nomeadamente realizado telediscos para nomes como os New Order (Bizarre Love Triangule) ou R.E.M. (The One I Love). O novo teledisco do projecto Circlesquare baseia-se na série de imagens Men In The Cities, um conjunto de litografias de 1983 do qual aqui fica uma memória:
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Robert Longo, 'Men In The Cities' (1983)

E depois do horizonte

Em plena contagem decrescente para o lançamento de No Line On The Horizon, dos U2, Bono e The Edge já pensam no passo seguinte. Na agenda têm as canções para um musical a estear na Broadway em Fevereiro de 2010. Terá por título Spiderman: Turn Off The Dark… As canções serão pensadas para ser tocadas por uma banda pop/rock, acompanhada por um ensemble de 18 a 20 músicos, com cordas e instrumentos de sopro.

Juntos, em palco...

Foto: NME
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Os Blur estão já a trabalhar, em estúdio, nas canções daquele que deverá ser o sucessor de Think Tank, e com Graham Coxon novamente integrado na formação da banda. Na noite de ontem, Damon Albarn e Graham Coxon subiram juntos a palco da Brixton Academy para, durante a gala de entrega dos NME Awards, interpretar o tema This Is A Low, do álbum Parklife (1994). Foi a primeira vez, em nove anos, que estiveram juntos em palco. Aqui fica a imagem.

Para lá do ecrã

Entre a multidão de oito Oscares que Quem Quer Ser Bilionário? arrebatou na noite de domingo, dois dos raros que não fizeram pensar que havia muito melhor entre os demais nomeados foram os que premiaram a sua banda sonora. Duas vezes de facto, somando Melhor Canção Original (contudo O… Saya teria sido escolha mais interessante que o mais popularucho Jai Ho) a Melhor Banda Sonora… O disco acaba de ser lançado entre nós, juntando as composições de A R Rahman a uma mão cheia de canções, entre as quais surge por duas vezes a voz de M.I.A.. Mas despida das imagens, sem o efeito criado pela vertiginosa montagem nem pela magnífica mistura de som (mais um Oscar justificado), a música em disco não produz o mesmo efeito que parece sugerir na sala de cinema. Pelo contrário, Slumdog Millionaire, a banda sonora em disco, é apenas uma “simpática” colecção de canções que cruzam heranças da tradição Bollywood com linguagens várias da pop electrónica e da música de dança, com o apelo do “exotismo” dos temperos a chamar atenções.

Para muitos a banda sonora de Quem Quer Ser Bilionário? poderá representar um aperitivo para a descoberta da música que nasce associada ao cinema indiano e a muitas das variações “pop” e “urbanas” que ali vão nascendo raramente sob atenção de ouvidos ocidentais. Assim sendo, depois de digeridas estas canções, nada como escutar nomes como Bally Sagoo (um dos pioneiros do “bhangra” em solo britânico e, depois, um dos mais interessantes experimentadores das linguagens electrónicas em terreno fértil indiano) ou Joly Mukherjee (o “rei” das cordas, famoso pelos seus arranjos, como se podia constatar no álbum Fusebox, que chegou a ser lançado entre nós em 2000). Isto para não falar na dupla Badmarsh & Shri, entre outros mais, que em Londres trabalharam sobre estas mesmas heranças.

Fica um exemplo para ouvir depois de Slumdog Millionaire:



Imagens que servem a canção Tun Bin Jiya, do álbum de 1996 Rising From The East, de Bally Sagoo. O álbum é um bom ponto de partida para a descoberta da melhor etapa da carreira do músico, num tempo em que alguns nomes da música indiana (alguns com carreira feita em Londres, é verdade), conheceram alguma visibilidade além dos circuitos da world music. De resto, em meados dos anos 90, nomes como os Transglobal Underground, Fun Da Mental ou Loop Guru, foram presença regular nas ementas dos que seguiam a cena indie britânica.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Pop, e etc.

Os Pet Shop Boys estão já em contagem decrescente para o lançamento de um novo álbum de originais. Tem por título Yes, conta com a colaboração da equipa de produção Xenomania e deverá chegar às lojas a 30 de Março. Para já contamos com o aperitivo Love, Etc, sem dúvida o melhor single de apresentação para um álbum dos Pet Shop Boys desde o já “clássico” Very, de 1992… Aqui fica o teledisco.

Mais uma reunião...

Os Faith No More são mais um nome a acrescentar à agenda das reuniões marcadas para 2009. A banda deverá marcar brevemente uma digressão europeia, sendo prováveis algumas datas em festivais de verão…

Quem deveria ter vencido os Oscares?

Depois de entregues as estatuetas, está na hora de perguntar aos leitores do Sound + Vision se concordam com a premiação. Ou, colocando a questão de outra forma: a quem teriam atribuído os Oscares? Aqui ficam seis categorias, à espera da vossa sugestão. A votação, como sempre, decorre na barra lateral do blogue, antes da zona dedicada à agenda.
Aqui ficam as categorias, para arrumar ideias antes de votar:

Melhor Filme:
O Estranho Caso de Benjamin Button; Frost/Nixon; O Leitor; Milk; Quem Quer Ser Bilionário?

Realizador:
Danny Boyle (Quem Quer Ser Bilionário?); David Fincher (O Estranho Caso de Benjamin Button); Gus Van Sant (Milk); Ron Howard (Frost/Nixon); Stephen Daldry (O Leitor)

Actriz Principal:
Angelina Jolie (A Troca); Anne Hathaway (O Casamento de Rachel); Kate Winslet (O Leitor); Melissa Leo (Frozen River); Meryl Streep (Dúvida)

Actor Principal:
Brad Pitt (O Estranho Caso de Benjamin Button); Frank Langella (Frost/Nixon); Mickey Rourke (O Wrestler); Richard Jenkins (O Vistante); Sean Penn (Milk)

Argumento Original:
Em Bruges; Frozen River; Milk; Um Dia de Cada Vez; Wall-E

Argumento Adaptado:
O Estranho Caso de Benjamin Button; Dúvida; Frost/Nixon; O Leitor; Quem Quer Ser Bilionário?

Red + Hot and 'indie'

É mais uma proposta da Red + Hot Organization, com vista à recolha de fundos para a luta contra a sida. Dede o histórico Red, Hot + Blue, de 1991, cada compilação da Red + Hot Organization tem proposto um tema concreto, seja um autor, um lugar ou um género musical. Dark Was The Night, a nova compilação, recruta uma multidão de nomes ligados à cena indie, entre os quais os The National (directamente ligados à produção do disco), Yeahsayer, Beirut, Arcade Fire, Spoon, Sufjan Stevens, Feist, Grizly Bear, Cat Power, Dave Sitek, Conor Oberst ou os Blonde Redhead. 31 canções por uma causa, num alinhamento onde tanto encontramos originais como versões (uma leitura nova para Cello Song, de Nick Drake, pelos The Books, com Jose Gonzalez, é uma das pérolas do alinhamento).

Um 'download' no regresso a estúdio

Os Duran Duran contribuem com um download exclusivo para a compilação da War Child, Heroes. A compilação, que inclui uma série de versões (como Call Me, dos Blondie, pelos Franz Ferdinand, Heroes de David Bowie pelos TV on The Radio, Transmission, dos Joy Division, pelos Hot Chip ou Do The Strand, dos Roxy Music, pelos Scissor Sisters). O CD, desde que comprado na Europa, oferece acesso a um download exclusivo, nada mais nada menos que a versão de A View To A Kill que os Duran Duran apresentaram no concerto conjunto com Mark Ronson em Paris, no ano passado. A versão inclui citações e excertos de outras Bond songs, nomeadamente Diamonds Are Forever, Goldfinger e You Only Live Twice. Entretanto, já este mês, os Duran Duran regressaram a estúdio, onde estão já a trabalhar em canções para um próximo álbum.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Discos da semana, 23 de Fevereiro

Andrew Bird é um dos mais interessantes cantautores revelados em finais dos anos 90. Com obra dispersa em vários projectos e colaborações, acaba de editar um novo álbum em nome próprio, talvez o melhor de uma discografia que já mereceu vários episódios de aclamação. A personalidade demarcada da sua música, onde se cruzam ecos de uma educação clássica com uma paixão pela folk e uma invulgar capacidade em escrever canções com travo pop, assim como um talento evidente na ultilização do violino e uma recorrente utilização do assobio, fazem desta obra uma das mais cativantes entre as que vemos a crescer ano após ano. Do quase ascetismo de algumas das suas actuações em palco à grandiosidade orquestral que já escutámos em momentos vários nos seus discos, um mundo de ideias tem percorrido a sua música, evitando a repetição e o estabelecimento de normas rígidas. Pelo contrário, rearrumando referências, rearranjando ideias e interesses a cada novo disco, Andrew Bird nunca deixou de nos surpreender. Num trilho distinto do que dirara os rumos de Armchair Apocrypha, de 2007, Noble Beast recupera o instinto pop do magnífico Andrew Bird & The Mysterious Production Of Eggs (de 2005), numa espantosa colecção de canções onde escutamos palavras invulgares, entre melodias discretas, arrumadas por arranjos elaborados, que nunca ofuscam a medula das ideias de cada canção. O alinhamento oferece a cada tema uma certa dose de surpresa, que ora contempla mais de perto velhos hábitos de paisagismo à la Ry Cooder (como em Effigy) como ensaia uma pop quente, de carne e osso, feita de diálogos entre raizes folk e pop/rock (como nuns The Shins, como se escuta em Nomenclature). A edição em CD duplo acrescenta a este magnífico conjunto de canções um disco de composições instrumentais que fazem de Andrew Bird mais um nome a acrescentar a uma pequena família de músicos que, como Scott Walker, Sufjan Stevens ou Owen Pallett, da pop, souberam já abrir espaço para a invenção além das fronteiras pop/rock. Com a colaboração de Glenn Kotche (Wilco) e Todd Sickafoose, Useless Creatures (assim se chama a colecção de instrumentais) amplifica as potencialidades de um músico que cada vez mais merece o protagonismo que os seus admiradores há muito nele reconhecem. ´
Andrew Bird
“Noble Beast”

Bella Union / Popstock
4 / 5
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Um ano depois da apresentação da aventura conjunta com Zooey Deschanel na dupla She & Him, M Ward regressa aos discos em nome próprio. O músico, com alma e gosto talhado num diálogo aberto entre os terrenos da folk e os da música country com referências dos universos pop/rock, propõe em Hold Time o que parece ser um olhar de síntese sobre estes mundos ao seu redor. Uma “vista panorâmica”, como o próprio refere logo nas primeiras palavras de For Beginers, a canção que abre o alinhamento do álbum. Traduzindo talvez a alma de quem vive em Portland e pede por mais luz, as canções que escutamos parecem desejar dias de um Verão sonhado, somando ao sonho uma certa melancolia lhe mora na alma (todavia distante das assombrações que se escutavam nos seus discos mais antigos). Sem sugerir um caminho concreto, circulando antes entre registos e referências, traduzindo sempre uma identidade talhada por narradores de histórias, gentes e lugares, as canções sucedem-se ora mais texturalmente ricas, ora mais simples e despidas de adornos, ora evocando tempos e heranças antigas, ora abrindo espaço à electricidade, ora sugerindo trovas ao relento, ora aceitando a marcas da cultura urbana. Esta navegação à vista entre experiências e caminhos aceita ainda pontuais viagens no tempo, promovidas através de magníficas versões de Rave On, de Buddy Holly ou Oh Lonesome Me, Don Gibson. M Ward não está só nesta breve aventura que segue a linha do que nos mostrara há quase três anos em Post-War. Em ocasionais colaborações revelam-se as presenças de Lucinda Williams, Jason Lytle (Grandaddy), Tom Hagerman e, claro, Zooey Deschanel. A voz e uma identidade na composição seguram no fim os pequenos mundos que aqui se cruzam, num disco que encontrou a unidade na diversidade.
M Ward
“Hold Time”

4AD / Popstock
4 / 5
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Em meados da presente década Morrissey protagonizou uma das mais aplaudidas e bem sucedidas operações de “regresso à boa forma” dos últimos tempos. O magnífico You Are The Quarry (2004) ultrapassava em tudo uma longa etapa de quase inconsequente produção musical, servindo finalmente um sucessor de nível para o igualmente recomendável Vauxhall And I (1994), uma das suas melhores colecções de canções da etapa vivida a solo. O “momento” era novamente seu, seguindo-se uma digressão que reclamou com dignidade algum do legado dos The Smiths, depois registada em disco em 2005 em Live At Earl’s Court. Em 2006, Ringleader Of The Tormentors, criado à volta de Roma, confirmava o renascimento, surpreendendo pela abertura de espaço a uma intimidade inesperada... Years Of Refusal é agora o nono álbum de originais a solo de Morrissey e o terceiro posterior a este reencontro com uma capacidade de comunicar além da sua mais próxima (e leal) legião de admiradores. Desviando as atenções de si para o mundo, a sua forma de o viver e comentar (aproximando-se assim do seu registo mais “clássico”), este é um disco de linhas directas, sem as preocupações cénicas de Ringleader Of the Tormentors, e de intensidade rock’n’roll mais evidente que You Are The Quarry. É um álbum de robustez nas ideias, de sólida presença vocal, mostrando como, a caminho dos 50, Morrissey sabe do tempo que passou, mas, mesmo levantando uma eventual data de retirada, está longe de ser uma sombra do seu passado. O alinhamento mostra-nos uma mão cheia de canções de apelo pop bem nascidas, entre as quais o single I’m Throwing My Arms Around Paris ou That’s How People Grow Up (já revelada, como All You Need Is Me, no recente best of). Traz surpresa de tempero tex-mex em I When I Last Spoke To Carol... Pujança eléctrica em vários episódios... Não é o monumento de composição revelado no disco de 2004 nem dá continuidade à demanda formal mais elaborada que se escutou em 2006. Mas está longe de ser um passo atrás.
Morrissey
“Years Of Refusal”

Decca / Universal
3 / 5
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Zach Condon é uma das maiores revelações da presente década. Natural de Santa Fé, no Novo México, começou a descobrir o mundo quando, com os pais, se mudou bem cedo para o estado da Virginia. Mais tarde, em idade de chegar à Universidade, resolveu estudar filosofia e... português. Quando deu os primeiros passos como Beirut revelava um interesse pela música dos Balcãs (que ficaria depois registado no LP de estreia Gulag Orkester). Para o segundo álbum, Paris foi a musa inspiradora. Agora, ao apresentar um duplo EP (quase com sabor a álbum), Zach regressa a casa. Ou melhor, às vizinhanças, encontrando no México elementos que assimila em favor de uma música que em tudo confirma um desejo de traduzir vivências e experiências sentidas na pela. Na verdade, o disco apresenta-se em duas partes distintas. É um duplo EP e não um álbum, por isso mesmo. Na primeira metade, sob o título March Of The Zapotec, Zach mostra-se acompanhado pela Jimenez Band, uma banda de 19 elementos que conheceu numa recente viagem a Oaxaca, no México. Estamos aqui mais próximos de terreno habitual na sua obra, cruzando-se as marcas escutadas em viagem com uma identidade aberta à sugestão, firme contudo numa forma de pensar a canção. Na segunda metade do EP, Zach Condon propõe uma abordagem à canção pop electrónica... naturalmente à sua maneira. A metade mexicana do disco espelha um músico que, de tão encantado com o os sons que encontrou em viagem, quase se rende ao efeito da foto turística, acabando secundarizado pelos (magníficos) convidados. Na segunda, os ensaios são mais representativos de uma vontade em se reivnetar que se sentira na sua discografia até aqui... Mesmo longe do seu melhor há por aqui alguns momentos dignos de fazer deste um episódio digno de ser contado na discografia de Beirut.
Beirut
“March Of The Zapoec / Holland”

Forte / Popstock
3 / 5
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E de repente parece que a patente de uma pop com sabor aos mais revistados ecos de 80 e electrónicas como ferramenta primordial (não exclusiva) foi registada na Austrália. Não que outras músicas por lá aconteçam. Mas estas são as que mais nos chegam nos dias que correm... Com belíssimos exemplos nuns Presets ou Cut Copy. Mas já com uma legião de casos menores a apanhar agora um comboio em andamento, aproveitando a boleia para servir mais do mesmo, mas em não tão bom como isso... Um dos mais visíveis exemplos chega-nos através do que parece ser a grande aposta de uma editora multinacional num duo que reune dois músicos com experiência já feita em outras bandas, Luke Steele nos Sleepy Jackson e Nick Littlemore nos Pnau. Chamam-se Empire Of The Sun (segundo o romance de JG Ballard que depois inspirou o filme homónimo de Spielberg), e conheceream, logo com o single de estreia, Walking On A Dream, o imediato sucesso pop local. A canção, com cor e açúcar em excesso e um falsete que cansa um santo, surge agora acompanhada no alinhamento de um álbum onde quase todas as demais composições parecem fruto de uma mesma forma de entender a canção. A capa do disco, um pastiche garrido do modelo dos cartazes da saga Star Wars, sugere desde logo um universo com mais gosto pela forma que pelo conteúdo. Nada contra, se houvesse surpresa ou desafio na forma, o que na verdade não acontece... Em inícios dos anos 80 dizia-se, com uma pitada de maldade, que bandas como os A Flock Of Seagulls ou Kajagoogoo passavam mais tempo a pensar nos penteados que na música... E convenhamos que havia um fundo de verdade na coisa que, quase 30 anos depois, de ambos pouco mais lembramos que... os penteados. Contudo, e apesar da aceitação do single de estreia por algumas latitudes, nem um I Ran nem um Too Shy brotam do alinhamento de Walking On a Dream...
Empire Of The Sun
“Walking on a Dream”
Virgin/EMI Music Portugal
2 / 5
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Também esta semana:
Erasure (remisturas), Jazzanova, Damned (reedições), Cinematic Orchestra, “Heroes”, Can (reedição), Eliott Carter (retrospectiva), Van Morrisson (live), Visage (reedição), Chris Isaak

Brevemente:
2 de Março: U2, Arvo Pärt, Brighton Port Autority, Neko Case, Madlib, House Of Love (live), Bozoo Bajou, Howling Bells, Loney Dear, The Prodigy
9 de Março: Vetiver, Annie Lennox, Nick Lowe, Nasa, Walker Brothers (best of), Casiotone for the Painfully Alone, Razorlight
16 de Março: Bonnie Prince Billy, Pete Doherty, Siouxsie & The Banshees (reedições), Susumo Yokota, Black Lips

Março: Pet Shop Boys, Grizzly Bearl, White Lies (ed nacional), Xutos & Pontapés, The Prodigy, Mexican Institute of Sound, Mirah, William Orbit, The Decemberists, PJ Harvey + John Parish, Arcade Fire (DVD), MSTRKRFT, Frank Black, VV Brown, Bell Orchestre, Royksopp, Fever Ray, Leonard Cohen (live), Whitest Boy Alive, The Rakes, Gomez, Peter, Bjorn + John
Abril: Metric, Papercuts, Yeah Yeah Yeahs, Depeche Mode, Annie, Tortoise, Art Brut, Vitalic, Bill Callahan, Bat For Lashes

Pet Shop Boys com Phil Oakey

Os Pet Shop Boys editam, a 23 de Março, o seu novo álbum de originais Yes, que tem como cartão de visita o single Love, Etc. O disco surgirá em duas versões, uma delas com um CD adicional com remisturas e uma faixa adicional, This Used To Be The Future, na qual colabora Phil Oakey, dos Human Leaghe. Entretanto a dupla Tennant/Lowe está a trabalhar em música para um espectáculo de dança, baseado num conto de Hans Christian Andersen, a estrear em 2010.

Reinventar Bob Dylan

John Corigliano (n. 1938) não tem receio de o confessar: apesar de ser americano, nunca tinha escutado as canções que fizeram de Bob Dylan um dos símbolos maiores da geração de 60 (e depois uma das mais determinantes referências de toda a história da música popular). E manteve fora do seu alcance as verões originais durante o trabalho de composição que agora vê a luz do dia na forma de um disco. Editado pela Naxos, Mr. Tambourine Man: Seven Poems of Bob Dylan não é mais que um ciclo de canções que toma como ponto de partida poemas com história como Blowin' In The Wind, All Along The Watchtower, Clothes Line, Masters Of War, Forever Young ou Chimes Of Freedom. Além, claro está, daquele que dá título ao ciclo.
Revisitar Bob Dylan e a sua música, é certo, está longe de ser uma aventura inédita. Ainda o "trovador" era um talento em afirmação (já com sucesso, é certo), e os Byrds faziam de uma leitura sua de Mr. Tambourine Man um primeiro caso de reconhecimento generalizado do potencial de exploração e invenção guardado na escrita de Dylan. Ao longo dos anos nomes dos mais variados quadrantes da invenção musical recriaram clássicos seus. De Bryan Ferry a Sérgio Godinho, de Cher aos Duran Duran... John Corigliano traz, de diferente, não apenas a abordagem pela música erudita. Mas também o facto de, a Dylan, só "pedir" os poemas.

John Corigliano pertence à geração de Philip Glass e Steve Reich, mas a sua música seguiu caminhos distintos, procurando antes referências na música de Copland, Ives e Barber. De comum com Glass partilha contudo uma agenda de colaborações com o cinema, que já lhe valeram um Oscar pela banda sonora de The Red Violin, em finais dos anos 90. Antigo colaborador de Leonard Bernstein, passou pelas salas da Julliard School como professor. A sua Sinfonia Nº1, de 1991, reflecte sobre o sentimento de perda gerado pela morte de inúmeros amigos seus, vítimas de sida. Em 2001, a sua Sinfonia Nº 2 valeu-lhe um Pulitzer.
A ideia para o ciclo de canções com poemas de Bob Dylan, que agora é editado entre nós, nasceu de um convite para a composição de um ciclo de canções, a apresentar no Carnegie Hall, em Nova Iorque. John Corigliano, que no passado havia já trabalhado sobre poemas de outros autores (Stephen Spender, Richard Wilbur, Dylan Thomas e William H. Hoffman), procurava novas palavras... Queria trabalhar um autor vivo. E, como confessa no booklet que acompanha agora o disco, "alguém que falasse para toda a gente - até mesmo pessoas que não lessem poesia".

Alguém lhe sugeriu Bob Dylan... "Ninguém que tivesse vivido os anos 60 poderia ter passado sem ouvir as suas canções e discos. Estavam na discoteca de toda a gente... Menos na minha", confessa o compositor no mesmo texto. Na época, na casa dos vinte anos, Corigliano era um entusiasta da música de Stravinsky e Copland. Gostava de musicais. Sobretudo os de Gershwin, Kern ou Rodgers. Mas a folk, os seus novos autores em afirmação e a contracultura rock'n'roll não faziam a sua lista de preocupações no momento.
Pediu apenas os poemas... Comprou uma antologia em livro. Gostou. "Muitos eram de facto tão belos e tão imediatos como me haviam dito." E, acrescentou, "adaptáveis à minha linguagem musical". Dylan autorizou... E então John Corigliano escolheu sete poemas, dos quais acabou por trabalhar um ciclo de canções com pouco mais de 35 minutos de duração. "Os mais familiarizados com a música de Bob Dylan vão certamente ser surpreendidos por esta abordagem", explica ainda no booklet. E tem razão.

PS. Versão editada de um texto originalmente publicado a 31 de Janeiro no suplemento DN Gente, do DN.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Hollywood / Bollywood

Será Los Angeles um bairro da produção indiana de Bombaim? Ou será que Bollywood está a invadir Hollywood?
As coisas nunca serão tão lineares, nem de tão transparente simbolismo, mas é um facto que a consagração de Slumdog Millionaire/Quem Quer Ser Bilionário? nos Oscars (referentes à produção de 2008) veio abrir ainda mais os caminhos que apontam para um crescente envolvimento da indústria americana — ou anglo-saxónica — com as estruturas cinematográficas & financeiras da Índia.
Um sinal muito directo e, por certo, determinante desse envolvimento é o processo que está a ser negociado pela DreamWorks, de Steven Spielberg, com o grupo indiano Reliance e que poderá envolver nada mais nada menos que mil milhões de dólares (com a DreamWorks agora aliada à Disney, depois do desmantelamento da sua relação com a Universal). Além do mais, escusado será lembrar que a Índia representa um dos maiores mercados mundiais para o cinema, sendo certo que há muito, para a maior parte dos filmes americanos, mais de 50 por cento das receitas são obtidas fora dos EUA.
Perversamente, tudo isto se liga ainda com os índices de rentabilidade dos filmes. Para nos ficarmos por Slumdog e O Estranho Caso de Benjamin Button, valerá a pena referir que o primeiro acumula, para já, receitas globais (160 milhões de dólares) mais de dez vezes superiores aos seus custos (15 milhões), enquanto a bilheteira do segundo não chega a duplicar o seu orçamento de produção (245/150).

>>> A produção/distribuição de Slumdog Millionaire na Variety.

E afinal houve surpresas...

Não foram muitas entre os prémios, mais surgiram na cerimónia. E houve de facto surpresa na 81ª noite de entrega dos Oscars de Hollywood. Quem Quer Ser Bilionário?, de Danny Bolye era o vencedor esperado, somando triunfos uma multidão de categorias (oito no total). Milk foi um dos menos esperados vencedores da noite, ganhando apenas dois Oscares, mas daqueles de peso: Melhor Actor e Melhor Argumento Original. Já O Estranho Caso de Banjamin Button, apesar de ter conquistado três Oscares, nenhum conseguiu fora das chamadas categorias técnicas. Ninguém esperava a vitória do filme japonês Departures para Melhor Filme Estrangeiro. A maior das surpresas foi contudo a cerimónia em si. Desde a magnífica apresentação de Hugh Jackman (a lembrar a versatilidade de um Billy Crystal) às soluções encontradas para apresentar os Oscares aos actores, convocando para o palco colegas desta e outras gerações, cruzando tempos e memórias da história do cinema.

A vitória de Sean Penn como melhor actor pelo seu papel em Milk, de Gus Van Sant, foi uma das grandes surpresas da noite. Mickey Rourke (que Penn saudou no final do seu discurso de aceitação) era dado como o favorito, mas recordemo-nos que a Screen Actors Guild já tinha feito de Seann Penn o “seu” vencedor na respectiva premiação interna. Surpresa assim assim, então. Mas justificada, tendo o actor aproveitado o seu discurso (como antes o havia feito um emocionado Dustin Lance Black, autor do argumento do filme) para recordar uma luta por direitos iguais a que a cruzada de Harvey Milk alude no filme, e que recentemente viu na Califórnia, que acolhe a cerimónia dos Oscares, o voto popular a obrigar a lei a dar um passo atrás, com a vitória eleitoral da “Proposta 8”, que voltou a proibir casamentos entre pessoas do mesmo sexo no estado. Os Oscar de Melhor Actriz Principal foi entregue a Kate Winslet e o de Melhor Actriz Secundária a Penelope Cruz. O Oscar de Melhor Actor Secundario foi atribuido, postumamente, a Heath Ledger.

Fotos: NY Times

Quem Quer Ser Bilionário?, de Danny Bolye foi o esperado grande vencedor da noite. Venceu as categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Banda Sonora, Melhor Canção Original, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e Melhor Mistura de Som. No final da cerimónia, os elementos do elenco e da equipa técnica do filme invadiram, literalmente, o palco.

Lista completa dos prémios aqui.

domingo, fevereiro 22, 2009

U2 sem fronteiras

Dizem as notícias que um erro de uma loja digital, na Austrália, fez com que o novo álbum dos U2, No Line on the Horizon, tenha estado disponível durante um período de duas horas... Seja como for, o lançamento oficial mantém-se marcado para o dia 2 de Março (3, nos EUA). Get on Your Boots, dirigido pelo francês Alex Courtes, é o primeiro teledisco do álbum: um circo apoteótico em que a banda de Bono se apresenta numa paisagem sem fronteiras, romântica e trágica, natural e digital — a imagem de marca de um tempo sem países nem utopias.

A suite "desactualizada" que já não o é

Clássicos do Século XX - 12
'Os Planetas', de Gustav Holst
(1918)

Em 1918, perto do final da I Guerra Mundial, um conjunto de amigos e convidados de Gustav Holst (1874-1934) escutava pela primeira vez, em Londres, Os Planetas, uma suite em sete andamentos, cada qual retratando um dos planetas (excluíndo a Terra) do nosso sistema solar. Uma das mais célebres obras da década de dez, esta a suite orquestral assombrou depois, de certa forma, a vida do seu criador, sentindo este que a popularidade da obra quase ofuscou o seu restante trabalho. Essa foi talvez a razão pela qual a descoberta de Plutão, em 1930, não o levou a querer acrescentar mais um andamento, “actualizando” assim a visão então alargada da realidade que retratara alguns anos antes. Contudo, a “despromoção” recente de Plutão, faz hoje de Os Planetas, novamente, um retrato completo do sistema solar. Na verdade a visão proposta em música nasce de conceitos mais astrológicos que astronómicos. Holst fazia horóscopos a amigos e criou cada um dos andamentos de Os Planetas (cada qual sobre um planeta), reflectindo mais sobre o seu suposto efeito astrológico na mente humana que sobre as características mitológicas dos nomes a si associados. Isto para nem falar no conhecimento astronómico, que as sondas Voyager e Cassini-Huygens ainda nem sequer eram sonho...

Em plena década de dez, a música conhecia uma série de revelações e visões que contribuiram significativamente para algumas das opções que definiram muitos dos grandes caminhos seguidos mais adiante. A estreia, em 1912, d’A Sagração da Primavera, desencadeara polémica em Paris, mas abria horizontes desafiantes para a música. Da mesma época, as Cinco Peças para Orquestra de Arnold Schoenberg despertavam novas ideias. É neste contexto que o inglês Gustav Holst, colega de Vaughan Williams e em tempos fortemente influenciado pela música de Ravel, Richard Strauss e Grieg, compõe a suite pela qual o seu nome transcendeu depois o universo dos que acompanham a música clássica. Os Planetas começou por ser composto como um dueto para piano, com o andamento dedicado a Neptuno pensado para um orgão solista, pensando que a distância a que este planeta se encontra e o mistério que o envolvia não jogariam com o som do piano. A ordenação dos andamentos (Marte, Vénus, Mercúrio, Júpter, Saturno, Urano e Neptuno) sugere uma ideia de distância progressiva face à Terra (na verdade Vénus esá mais perto, mas enfim...). Neptuno, que encerra a suite, foi a primeira obra da história a ter um fim em fade out. O efeito era conseguido colocando o coro feminino numa sala adjacente, fechando lentamente a porta para a sala de concertos, até que o som distante se confundisse com o silêncio.

Em sala, Os Planetas ouve-se nas mais diversas “encenações”, desde a actuação, mais habitual, da simples e clássica orquestra a experiências multimedia com projecções em simultâneo. Há arranjos alternativos propostos, desde transcrições para piano (na verdade a forma original) ou metais até uma versão para sintetizadores, por Isao Tomita. A suite Os Planetas conquistou entretanto espaço de vida além das salas de concerto e dos discos. O cinema, por exemplo, visitou esta música muitas vezes. Há uma citação a Urano em O Regresso de Jedi e a suite, no seu todo, inspirou a banda sonora de Star Trek VI: The Undiscovered Country. Vénus ouve-se em Wallace & Gromit: A Ameaça do Coelhomem... A televisão já usou vários excertos desta suite, desde o episódio sobre Marte do Cosmos, de Carl Sagan, ao episódio Space Brain, de Espaço 1999. Esta música também já circulou por vídeojogos. E Júpiter chegou a ser usado como hino num campeonato de rubgy... Na música pop não faltam versões e citações, por nomes que vão de Rick Wakeman aos Laibach.



Interpretação, em concerto, do quarto andamento da suite Os Planetas: Jupiter, the Bringer Of Jollity.

sábado, fevereiro 21, 2009

Pearl Jam: a caminho dos 20 anos

Em 2011, os Pearl Jam completam 20 anos e o programa das festas está a começar. A reedição de toda a discografia da banda de Seattle vai começar, já no próximo dia 23 de Março, com o relançamento do primeiro álbum — Ten — em nada mais nada menos que quatro edições:
Legacy Edition: original remasterizado + seis títulos inéditos + nova capa [em cima] — capa original aqui ao lado.
DeLuxe Edition: o mesmo da anterior + DVD com o nunca editado MTV Unplugged 1992.
Vinyl Collection: remasterização + remisturas.
Super DeLuxe Edition: tudo o que está nas edições anteriores + diversos extras, incluindo mais um registo ao vivo (Seattle, 1992) e um bloco-notas de Eddie Vedder [informação completa no site da banda].
Vai ser uma bela revisitação das raízes do grunge e de toda uma energia criativa sem a qual não é possível entender/recor-dar/celebrar a década de 90. Relembremos os Pearl Jam da época: Eddie Vedder (voz), Mike McCready (guitarra), Stone Gossard (guitarra), Jeff Ament (baixo) e Dave Krusen (bateria) — Matta Cameron é o actual baterista. Como aperitivo, aqui fica Alive, um dos temas de Ten que já entraram na galeria dos clássicos do rock.


Alive - Pearl Jam

Festival de que "canção"?

Será que o Festival da Canção tem condições para sair da letargia dos últimos anos? Em qualquer caso, importa perguntar que noção de "cultura popular" aqui se reflecte — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 de Fevereiro).

Está consumada a fase de escolha dos finalistas do Festival da Canção, organizado pela RTP. Primeiro, um júri seleccionou 24 canções (das 393 apresentadas a concurso). Depois, através de votação pela Internet, no site da RTP, o público foi convidado a expressar-se, tendo sido recebidos 117.639 votos validamente expressos. Dessa votação, resultou uma lista de 12 composições a ser apresentadas em espectáculo marcado para o dia 28, no Teatro Camões.
Teremos uma inesperada colecção de obras-primas? Ou apenas a repetição do desastre artístico de anos recentes? Uma coisa é certa: mesmo com o aparato da muito celebrada “interactividade” (dos votos), não se poderá dizer que o Festival da Canção esteja a gerar uma expectativa que nos faça antecipar um acontecimento muito significativo, quer no plano criativo, quer enquanto mero acontecimento televisivo. Este é mais um caso — proveniente da RTP, mas típico dos valores dominantes nos canais generalistas — em que prevalece uma espécie de nostalgia mais ou menos pitoresca que há muito deixou de ser sustentada por qualquer conceito, musical ou televisivo, minimamente consistente.
As alterações sociais, a evolução do mercado da música e até a sua crescente digitalização poderão ajudar a explicar a decadência a que temos assistido. Mas talvez sejam insuficientes. As televisões tendem a reivindicar-se do “gosto popular” e, mais do que isso, a trabalhar para a sua “satisfação”. O certo é que esse discurso, sistematicamente celebrado como forma de combate contra a “intelectualização” da televisão, acaba por servir de máscara a modelos de acção e programação que, pura e simplesmente, deixaram de pensar a cultura popular.
Na prática, as televisões conseguiram impor a noção segundo a qual a cultura popular coincide com a burocrática gestão dos índices de audiências. Tendo em conta que tal noção se instalou na fabricação de novelas, concursos e seus derivados, esta é uma situação que coloca uma curiosa questão política: no espaço televisivo, quem (ou o “quê”) defende a cultura popular? Ou será que essa cultura morreu, substituída pela cultura mediática? É uma hipótese trágica, mas mais que verosímil.

A IMAGEM: Steven Klein, 2009

Steven Klein
Madonna
W Magazine (Março 2009)

25 anos depois

Assinala-se esta semana o 25º aniversário da edição do álbum de estreia dos The Smiths. Editado a 20 de Fevereiro de 1984, The Smiths confirmava as sugestões dos dois primeiros singles da banda, editados ainda em 1983 (Hand In Glove e This Charming Man), contrariando ostensivamente as opções mais em voga da cena pop/rock da altura. Distantes das ferramentas electrónicas e das heranças directas das escolas pós-punk que então ainda dominavam a criação pop/rock britânica, os The Smiths devolviam o protagonismo musical às guitarras, procurando referências mais atrás no tempo, encontrando-as nos idos de 60. A voz, postura e, sobretudo, as palavras de Morrissey sublinhavam a demarcação de uma personalidade que em pouco tempo acabaria reconhecida como uma das maiores forças criativas pop/rock dos anos 80. A capa do disco é uma entre tantas outras capas icónicas da obra da banda. A imagem revorda Joe Dalessandro, num momento do filme Flesh, realizado por Paul Morrissey e produzido por Andy Warhol. Assinalamos a evocação dos 25 anos de The Smiths ao som de What Difference Does It Make?, faixa do disco extraída como single cerca de um mês antes do lançamento do álbum. Sem teledisco (os Smiths só aceitaram experimentar o vídeo mais adiante, tendo inclusivamente trabalhado com Derek Jarman), a memória fica registada com imagens de uma actuação televisiva em inícios de 1984.

Novo álbum de Neko Case

Como um cavaleiro andante numa paisagem de um calendário imaginário: a voz de The New Pornographers, nome emblemático do country alternativo, prossegue a sua carreira a solo — Neko Case lança a 2 de Março o álbum Middle Cyclone, com chancela da etiqueta ANTI-; no MySpace, pode escutar-se a canção People Gotta a Lotta Nerve. Aqui, para recordar: o teledisco de Furnace Room Lullaby, do álbum homónimo de 2000.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

T-shirts para o "dia dos narizes vermelhos"

Esta é uma página promocional publicada na edição britânica da revista Grazia (com data de 23 de Fevereiro). Que se promove? Como diz a frase, a ideia de usar alguma coisa "divertida". Porquê? Ou para quê? "Por dinheiro".
Mais exactamente: a actriz Keira Knightley veste uma t-shirt com a já clássica fotografia de Madonna com orelhas de Minnie, por Herb Ritts. Trata-se de uma das peças de uma colecção desenhada por Stella McCartney para o Red Nose Day 09, data em que é suposto usar algo divertido — sendo o nariz vermelho de palhaço o adereço essencial —, angariando fundos para o Comic Relief, instituição de apoio humanitário fundada em 1985 pelo escritor de comédias Richard Curtis (autor, por exemplo, de Quatro Casamentos e um Funeral e Notting Hill), na altura visando em particular o auxílio às vítimas da fome na Etiópia. De então para cá, o Comic Relief já angariou cerca de 600 milhões de libras (675 milhões de euros, ao câmbio actual), investidos em programas de auxílio, sobretudo em África.
A colecção de t-shirts de 2009 é um exclusivo da T.K.Maxx. Os principais apoiantes da iniciativa são a BBC — que dedica várias horas de emissão ao evento — e a cadeia de supermercados Sainsbury's. Este ano, o Red Nose Day ocorre a 13 de Março.

Revendo Leni Riefenstahl (3/3)


No Centro Cultural de Belém, incluído no ciclo 'O Nazismo e a Cultura: Con-frontações' (a decorrer até 1 de Março), foram apresentados alguns filmes que, directa ou indirectamente, remetem para o contexto histórico em análise. Enquanto responsável pela selecção desses filmes, apresentei a sessão de O Triunfo da Vontade (1935), de Leni Riefenstahl (14 de Fevereiro, 19h00) — este é o texto lido nessa apresentação.

[1] [2]

Voltando a citar o espírito da biografia escrita por Jürgen Trimborn, diria que essa reflexão sobre as relações “arte”/”política” é tão essencial quanto insuficiente. Isto porque, inevitavelmente, é impossível apagar uma verdade que Riefenstahl sempre quis disfarçar ou adocicar: de facto, ela foi objectivamente parte de uma máquina gigantesca, máquina política e máquina cultural, que consumou alguns dos mais horrendos crimes do século XX.
Mas ao mesmo tempo — e reconheço que es-te “mas” é terrível e terrivelmente perturbante — mas ao mesmo tempo não a podemos com-preender como mero exemplo dessa outra dicotomia que se estabelece entre o “individual” e o “colectivo”. E isto por uma razão muito básica: a de que não é possível pensar e repensar o nazismo sem o situar muito para além da expressão que ele adquiriu no discurso de artistas como Leni Riefenstahl. É preciso pensá-lo e repensá-lo como qualquer coisa de eminentemente interior à sociedade alemã dos tempos da Segunda Guerra Mundial e, em particular, dos tempos anteriores que conduziram a essa guerra.
Esta atitude parece-me tanto mais actual e pertinente quanto creio que se pode dizer que estamos a assistir a uma nova vaga de interrogações e reflexões sobre essa Alemanha que viveu sob o nazismo. Como é óbvio, trata-se de um processo que se liga com a evolução da sociedade, dos estudos históricos, das ideias políticas e dos confrontos entre gerações. Para nos ficarmos por um exemplo muito próximo, e interior ao cinema, lembrarei o filme de Stephen Daldry, O Leitor, baseado no romance de Bernhard Schlink.
Trata-se, afinal, de não recusar lidar com a complexidade das memórias, mesmo as mais cruéis, incómodas ou perturbantes. Nessa medida, creio que voltar a ver um filme como O Triunfo da Vontade é também refazermos e relançarmos a relação com essas memórias – na certeza de que negar a existência do Mal é sempre uma má política.
Dito de outro modo: a mera demonização de Leni Riefenstahl passará sempre ao lado da complexidade da sua herança – precisamos de a ver e sempre, intransigentemente, podemos e devemos questioná-la.

Coraline em 3-D

Esta é a bonequinha da personagem de Coraline, com Dakota Fanning, a actriz que lhe dá voz em Coraline e a Porta Secreta, o filme de Henry Selick adaptado do livro de Neil Gaiman (já disponível em edição portuguesa). Infelizmente, a versão original não está nas salas portuguesas. Seja como for, este é um filme que nos permite entrever algumas componentes fundamentais da evolução do cinema, em particular na utilização do 3-D — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 de Fevereiro), com o título 'Dimensões futuras do cinema'.

Eis um filme que nos coloca numa curiosa encruzilhada, bem reveladora das transformações que estão a atingir a indústria do cinema e que, por certo, ajudarão a definir o seu futuro artístico e comercial. Desde logo, porque Coraline e a Porta Secreta é uma animação eminentemente primitiva (a técnica de “stop-motion” data dos primórdios do cinematógrafo, em finais do século XIX) que se envolve com a nova tecnologia digital, incluindo o 3-D. Depois, porque o 3-D parece corresponder a um trunfo essencial para reconquistar espectadores para as salas.
Este é também um filme ancorado num imaginário de fábula com claras raízes no mundo infantil, ao mesmo tempo que a sua complexidade estrutural lhe empresta uma dimensão inevitavelmente adulta. Fica, assim, uma dúvida irónica: será que o retorno a certos tipos de narrativa mais ou menos fantástica contribuirá para atrair, sobretudo, os espectadores... mais velhos?
Temos, enfim, uma encruzilhada especificamente portuguesa. Assim, Coraline e a Porta Secreta estreia apenas em versão dobrada, por certo desiludindo os espectadores (adultos) que gostariam de escutar as vozes de Dakota Fanning, Jennifer Saunders ou Dawn French. O que não exclui, como é óbvio, o reconhecimento de que o trabalho de tradução e adaptação, da responsabilidade de Nuno Markl, é exemplarmente profissional. E que há algumas vozes brilhantes, com destaque para Maria Rueff e Ana Bola nas personagens das actrizes, Miss Forcible e Miss Spink, e ainda Nuno Lopes como Mr. Bobinsky, o atleta do circo.

Triângulos, castelos e florestas

Já tinham carreira anterior a 2008, mas foram uma das “revelações” do ano. Os Fleet Foxes lançam agora um novo single, nada mais nada menos que um tema do EP Sun Giant lançado há um ano, pouco antes de editado o seu álbum de estreia. O EP foi na verdade gravado depois do álbum, apesar de lançado quatro meses antes. Aqui fica Mykonos... O teledisco, de animação, é assinado por Sean Peckinold, o irmão do vocalista da banda.

Rufus à luz das velas

Na hora de subir ao palco, Rufus Wainwright gosta do 8 e do 80. Ou seja, tanto o encanta a opulência da grande produção cénica (não é por acaso que a ópera passa pelos seus planos), como do registo mais minimalista de voz e piano (e guitarra acústica aqui e ali)... Em Março vai dar dois concertos em regime intimista em Nova Iorque. A 3 de Março sobe ao palco da Highline Ballroom, numa noite em que partilha o cartaz com uma série de cientistas, assim como Lenny Kaye, o guitarrista de Patti Smith. No dia seguinte estará na City Winery, numa actuação à luz de velas e sem amplificação. Ao que parece, ambas as actuações serão gravadas. Há quem fale num novo disco em construção...

A toca do camaleão

Em pleno bairro de Schoenberg, a Sul, mas perto do centro de Berlim, um discreto prédio da Haupstrasse é hoje uma casa igual a tantas outras. Anónima, poderíamos dizer. Mas em finais de 70, depois de se mudar pela cidade, inspirado pelas Berlin Stories de Cristopher Isherwood, foi ali que David Bowie encontrou casa. Colocava assim ponto final a uma etapa sombria com sede em Los Angeles e, num pequeno apartamento, partilhando o espaço com a sua assistente Coco Schwab e com Iggy Pop, encontrou um estilo de vida mais tranquilo que o fez por ali ficar algum tempo. Apesar de reconhecido pelos vizinhos, Bowie saia à rua, era assíduo de um café nas imediações. Em Berlim terminou as misturas de Low, gravou Heroes e lançou as bases fundamentais de Lodger. Durante este tempo, o número 155 da Haupstrasse foi a toca do camaleão.

Levanta-te e dança

Discografia Duran Duran - 53
'Girls On Film (remixes)' (single), 1999

A edição da antologia Greatest, em finais de 1998, foi anunciada pelo single Electric Barbarella, na verdade uma canção do álbum do ano anterior que acabou sem lançamento em grande parte dos territórios. Um segundo single foi depois lançado, este revisitando Girls On Film um clássico de 1981, porém através de um conjunto de novas remisturas pensadas para a pista de dança, assinadas por figuras e equipas do presente como Tin Tin Out, Attica Blues ou Tall Paul. A estas novas reconstruções, quase todas procurando integrar a canção em novas matrizes house (ou derivados) o CD single Girls On Film (Remixes) junta a Night Version original. Na verdade, a única mistura que suporta a canção, as novas abordagens revelando-se simplesmente inconsequentes