Entre a multidão de oito Oscares que Quem Quer Ser Bilionário? arrebatou na noite de domingo, dois dos raros que não fizeram pensar que havia muito melhor entre os demais nomeados foram os que premiaram a sua banda sonora. Duas vezes de facto, somando Melhor Canção Original (contudo O… Saya teria sido escolha mais interessante que o mais popularucho Jai Ho) a Melhor Banda Sonora… O disco acaba de ser lançado entre nós, juntando as composições de A R Rahman a uma mão cheia de canções, entre as quais surge por duas vezes a voz de M.I.A.. Mas despida das imagens, sem o efeito criado pela vertiginosa montagem nem pela magnífica mistura de som (mais um Oscar justificado), a música em disco não produz o mesmo efeito que parece sugerir na sala de cinema. Pelo contrário, Slumdog Millionaire, a banda sonora em disco, é apenas uma “simpática” colecção de canções que cruzam heranças da tradição Bollywood com linguagens várias da pop electrónica e da música de dança, com o apelo do “exotismo” dos temperos a chamar atenções.
Para muitos a banda sonora de Quem Quer Ser Bilionário? poderá representar um aperitivo para a descoberta da música que nasce associada ao cinema indiano e a muitas das variações “pop” e “urbanas” que ali vão nascendo raramente sob atenção de ouvidos ocidentais. Assim sendo, depois de digeridas estas canções, nada como escutar nomes como Bally Sagoo (um dos pioneiros do “bhangra” em solo britânico e, depois, um dos mais interessantes experimentadores das linguagens electrónicas em terreno fértil indiano) ou Joly Mukherjee (o “rei” das cordas, famoso pelos seus arranjos, como se podia constatar no álbum Fusebox, que chegou a ser lançado entre nós em 2000). Isto para não falar na dupla Badmarsh & Shri, entre outros mais, que em Londres trabalharam sobre estas mesmas heranças.
Fica um exemplo para ouvir depois de Slumdog Millionaire:
Imagens que servem a canção Tun Bin Jiya, do álbum de 1996 Rising From The East, de Bally Sagoo. O álbum é um bom ponto de partida para a descoberta da melhor etapa da carreira do músico, num tempo em que alguns nomes da música indiana (alguns com carreira feita em Londres, é verdade), conheceram alguma visibilidade além dos circuitos da world music. De resto, em meados dos anos 90, nomes como os Transglobal Underground, Fun Da Mental ou Loop Guru, foram presença regular nas ementas dos que seguiam a cena indie britânica.