LENI RIEFENSTAHL (1902 - 2003)
No Centro Cultural de Belém, incluído no ciclo 'O Nazismo e a Cultura: Con-frontações' (a decorrer até 1 de Março), foram apresentados alguns filmes que, directa ou indirectamente, remetem para o contexto histórico em análise. Enquanto responsável pela selecção desses filmes, apresentei a sessão de O Triunfo da Vontade (1935), de Leni Riefenstahl (14 de Fevereiro, 19h00) — este é o texto lido nessa apresentação.
No período que antecedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial, um dos sinais mais inequívocos da estratégia militar e política de Alemanha de Adolf Hitler foi a anexação da Áustria, em 1938, a 12 de Março. Foi um gesto de pura agressão que os nazis tentaram legitimar através de um plebiscito rapidamente marcado para menos de um mês mais tarde, a 10 de Abril. Obviamente, Hitler foi confirmado como Führer da nova “Grande Alemanha” — com 99,08 por cento de votos na “velha” Alemanha e, no território da “nova” Áustria, com 99,75 por cento de votos favoráveis.
A este propósito, vale a pena recordar que várias personalidades da indústria cinematográfica alemã expressaram o seu apoio à nova situação, entre elas Leni Riefenstahl. Numa declaração publicada na revista Film-Kurier, de 9 de Abril de 1938 (portanto na véspera do plebiscito), Riefenstahl dizia, entre outras palavras, o seguinte:
“Uma vez, há alguns anos, o Führer disse que se os artistas soubessem das tarefas imensas que podem desempenhar numa melhor Alemanha, juntar-se-iam ao movimento com ainda mais entusiasmo. Hoje, qualquer artista sabe o que também é claro para qualquer camarada: a realidade está a oferecer-nos mais do que a nossa fantasia alguma vez se atreveu a sonhar. A Grande Alemanha tornou-se uma realidade; vimo-la crescer ano após ano com cada vez mais confiança e profunda determinação. O criador da Grande Alemanha é, ao mesmo tempo, o seu elemento mais artístico.
(...) Os artistas responderam à chamada, unindo-se a milhões de concidadãos no reconhecimento do Führer e do que ele fez pela liberdade, honra e grandeza da Alemanha. A eleição do dia 10 de Abril será uma declaração unânime de lealdade ao nosso Führer, Adolf Hitler.”
Se dúvidas pudesse haver sobre o possível alheamento de Riefenstahl em relação a Hitler e ao regime nazi, estas palavras bastariam para desmentir o auto-retrato de neutralidade e distanciamento que, depois, ela tentou construir ao longo de várias décadas, atè à sua morte, a 8 de Setembro de 2003, contava 101 anos.
Fui buscar estas palavras a um dos melhores estudos que existem sobre Leni Riefenstahl, a biografia escrita por Jürgen Trimborn — que, curiosamente, na versão inglesa, se chama “Leni Riefenstahl – Uma Vida”, mas no original tem o título bastante mais sugestivo de “Riefenstahl: Uma Carreira Alemã”. De facto, é extraordinário que a realizadora que assinou o filme que vamos ver — O Triunfo da Vontade, sobre o Congresso do Partido Nazi, em Nuremberga, em Setembro de 1934 — tenha protagonizado um imenso e labiríntico processo de negação, quer nos meios de comunicação, quer nas instâncias que julgaram os crimes dos nazis contra a humanidade.
No período que antecedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial, um dos sinais mais inequívocos da estratégia militar e política de Alemanha de Adolf Hitler foi a anexação da Áustria, em 1938, a 12 de Março. Foi um gesto de pura agressão que os nazis tentaram legitimar através de um plebiscito rapidamente marcado para menos de um mês mais tarde, a 10 de Abril. Obviamente, Hitler foi confirmado como Führer da nova “Grande Alemanha” — com 99,08 por cento de votos na “velha” Alemanha e, no território da “nova” Áustria, com 99,75 por cento de votos favoráveis.
A este propósito, vale a pena recordar que várias personalidades da indústria cinematográfica alemã expressaram o seu apoio à nova situação, entre elas Leni Riefenstahl. Numa declaração publicada na revista Film-Kurier, de 9 de Abril de 1938 (portanto na véspera do plebiscito), Riefenstahl dizia, entre outras palavras, o seguinte:
“Uma vez, há alguns anos, o Führer disse que se os artistas soubessem das tarefas imensas que podem desempenhar numa melhor Alemanha, juntar-se-iam ao movimento com ainda mais entusiasmo. Hoje, qualquer artista sabe o que também é claro para qualquer camarada: a realidade está a oferecer-nos mais do que a nossa fantasia alguma vez se atreveu a sonhar. A Grande Alemanha tornou-se uma realidade; vimo-la crescer ano após ano com cada vez mais confiança e profunda determinação. O criador da Grande Alemanha é, ao mesmo tempo, o seu elemento mais artístico.
(...) Os artistas responderam à chamada, unindo-se a milhões de concidadãos no reconhecimento do Führer e do que ele fez pela liberdade, honra e grandeza da Alemanha. A eleição do dia 10 de Abril será uma declaração unânime de lealdade ao nosso Führer, Adolf Hitler.”
Se dúvidas pudesse haver sobre o possível alheamento de Riefenstahl em relação a Hitler e ao regime nazi, estas palavras bastariam para desmentir o auto-retrato de neutralidade e distanciamento que, depois, ela tentou construir ao longo de várias décadas, atè à sua morte, a 8 de Setembro de 2003, contava 101 anos.
Fui buscar estas palavras a um dos melhores estudos que existem sobre Leni Riefenstahl, a biografia escrita por Jürgen Trimborn — que, curiosamente, na versão inglesa, se chama “Leni Riefenstahl – Uma Vida”, mas no original tem o título bastante mais sugestivo de “Riefenstahl: Uma Carreira Alemã”. De facto, é extraordinário que a realizadora que assinou o filme que vamos ver — O Triunfo da Vontade, sobre o Congresso do Partido Nazi, em Nuremberga, em Setembro de 1934 — tenha protagonizado um imenso e labiríntico processo de negação, quer nos meios de comunicação, quer nas instâncias que julgaram os crimes dos nazis contra a humanidade.
[continua]