
segunda-feira, novembro 03, 2008
Galina Ulanova, 1956

Com a marca da HBO

Há dias, na noite de quinta para sexta-feira, num dos canais da televisão por cabo (MOV), passou o telefilme Bernard e Doris, uma produção de 2007 dirigida por Bob Balaban, com Susan Sarandon e Ralph Fiennes. Nele se evoca uma personagem mítica do imaginário americano: a multimilionária Doris Duke (1912-1993) que deixou o essencial da sua fortuna, e também a gestão das suas fundações, a Bernard Lafferty, o seu mordomo.



É bem certo que cresceu a pluralidade da oferta, mas sem que tenha crescido a diversidade das promoções. Generalizando (e, por isso, simplificando), por vezes parece que nas salas de cinema só há “blockbusters”, ao mesmo tempo que as televisões apenas se interessam pela promoção de telenovelas e produtos afins. Provavelmente, Bernard e Doris até foi visto por muitos espectadores... Ainda assim, é forçoso reconhecer que as suas qualidades não fazem parte das prioridades do mercado audiovisual.
Discos da semana, 3 de Novembro

Grace Jones
“Hurricane”
Wall Of Sound / Edel
4 / 5
Para ouvir: MySpace

Luomo
“Convivial”
Humme / Flur
4 /5
Para ouvir: MySpace

Antony & The Johnsons
“Another World”
Secretly Canadian / Popstock
3 / 5
Para ouvir: MySpace

Noiserv
“One Hundred Miles From Toughlessness”
Merzbau
3 / 5
Para ouvir: MySpace

Eugene McGuinness
“Eugene McGuinness”
Domino / Edel
3 / 5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Of Montreal, Lou Reed (live), Ryan Adams, Maria João + Mário Laginha, Shed, Cazals, Johann Johansson, Fall Out Boy, Elvis Presley (duetos de Natal), Paul Weller (BBC sessions), Bob Dylan (DVD), Megapuss, Q-Tip, Razorlight, Stephen Sondheim (caixa), Ry Cooder (best of), Herbert, Luomo, Burnt + Jacki, Girl Talk
Brevemente:
10 de Novembro: Flaming Lips, The Smiths (best of), Genesis (caixa), Stereophonics, Tracy Chapman, Metro Area, Murcof, Damned (reedições)
17 de Novembro: David Byrne + Brian Eno, Belle & Sebastian (BBC Sessions), Simon Bookish, Parenthetical Girls, Casiotone For The Painfully Alone (EP), Marc Almond (reedições)
24 de Novembro: The Killers, Abba (caixa), Doors (live), Momus,
Novembro: Neil Young (live), Philip Glass (caixa – edição nacional), John Adams (edição nacional), Marc & The Mambas (reedição), Max Richter
Dezembro: Dakota Suite, Yelle (remix), Shirley Bassey (reedições), The Smiths (caixa), Motown 50, Kanye West
Obama: "Todos têm uma história"

> NOVOS MEDIA. Vale a pena, por isso, reter o spot de 30 minutos [em 4 partes, aqui em baixo] com que Obama ocupou o espaço televisivo, no dia 29 de Outubro, nomeadamente em grandes canais nacionais (NBC, CBS e Fox). E não tanto por causa do investimento que a sua emissão implicou — qualquer coisa como 6 milhões de dólares. Aliás, só por distração ou ingenuidade se poderia julgar que estas eleições se jogariam num espaço tradicional, imune às "perversidades" dos novos media e, mais especificamente, dos modernos conceitos de marketing. Só mesmo por simplismo político se poderá pretender anular o impacto dessa meia hora em nome da "impureza" do dinheiro. Noutra escala, assistimos a um logro semelhante quando se pretendeu abalar a imagem de John McCain por causa dos preços de algumas peças do guarda-roupa da sua mulher, Cindy — além do mais, é puro cinismo pretender que as marcas de elegância que ajudaram a fazer de Jacqueline Kennedy um símbolo de dignidade e calor humano se transformam, noutra mulher, num factor de suspeição.
> FAZER POLÍTICA. Acontece que, de facto, Obama tem plena consciência — isto é, tem uma consciência realmente política — do mundo em que vive e, muito em particular, dos seus sistemas de comunicação global. A sua meia hora de campanha televisiva assume até às últimas consequências um fascinante paradoxo: é construída a partir de formatos correntes de televisão (em especial, na enunciação de grandes ideias globais a partir da amostragem de casos particulares), ao mesmo tempo que propõe ao seu espectador uma contundente revisão crítica de muitos lugares-comuns interpretativos que todos os dias lhe chegam (quase sempre através dessa mesma televisão).
Quando Obama proclama que "todos têm uma história", é disso que fala: do direito a encontrar o lugar de um eu que valorize todas as formas de solidariedade, mas que não se dissolva nas ilusões de um ecumenismo sem ideias. Talvez este seja um reencontro da América com a sua vocação mitológica. Mas é, acima de tudo, algo que a fruição do mito pressupõe e exige. Ou seja: o retorno ao real e o assumir da sua complexidade.
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (1/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (2/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (3/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (4/4)
domingo, novembro 02, 2008
Cinema social europeu?

No espaço de poucas semanas, assistimos à estreia de A Solidão, de Jaime Rosales (Espanha), Gomorra, de Matteo Garrone (Itália), Yella, de Christian Petzold (Alemanha), Entre os Dedos, de Tiago Guedes e Frederico Serra (Portugal) e, agora, A Turma, de Laurent Cantet. Que liga estes filmes? Desde logo a sua inserção no espaço específico da produção europeia. Mas, mais do que isso, vale a pena sublinhar que por eles passa uma vontade realista que nos pode conduzir a uma curiosa interrogação. A saber: será que estamos a assistir ao renascimento de uma tendência eminentemente social do cinema da Europa?
Talvez seja prematuro tirar grandes conclusões. Em todo o caso, é um facto que alguns filmes europeus reagem contra essa visão do quotidiano que se esgota no pitoresco dos “inquéritos” de rua dos telejornais ou, pior do que isso, no grosseiro “naturalismo” dos apanhados. É bom saber que ainda há cineastas para nos fazer sentir que olhar o mundo à nossa volta é um trabalho tão sério quanto exigente.
Retrospectiva no Coliseu

Na Broadway dos anos 30
Clássicos do século XX - 5
'Anything Goes', de Cole Porter
(1934)
Na mesma linha de fronteira entre os espaços da música popular e os da música “erudita” de um Porgy and Bess de Gershwin (1935) ou um West Side Story de Bernstein (1957), todavia frequentemente mais associado ao primeiro que ao segundo universo, Anyting Goes é uma das criações de referência da obra de Cole Porter e, juntamente com o acima citado “clássico” de Gershwin, um dos dois musicais norte-americanos dos anos 30 que ainda hoje, com alguma frequência, conhecem produções em palcos por todo o mundo. Estreado em 1934, com Ethel Merman no papel protagonista, Anything Goes conheceu já várias vidas (e três versões revistas) na Broadway, tendo conquistado vários prémios Tony, Drama Desk e Olivier. Existe uma gravação da versão original de 1934, com as vozes de Kim Criswell e Cris Groenendaal, acompanhadas pela London Symphony Orchestra, dirgida por John McGlinn. O disco teve edição pela EMI Classics em 1989.
A ideia para o musical coube a um dos produtores, que na altura vivia num barco. Foi ele quem escolheu os libretistas (Guy Bolton e P.G. Wodehouse), a protagonista para a primeira produção e, necessariamente, o compositor. Cole Porter é hoje reconhecido como um dos mais inspirados escritores de canções da sua geração e o seu “songbook” mora em gravações por vozes tão distintas como as de Ella Fitzgerald ou Frank Sinatra. Anything Goes é, juntamente com Kiss Me Kate (que assinalou um regresso triunfal em 1948) um dos seus musicais mais aclamados. Quatro canções do musical ganharam depois vida própria além do palco. Foram elas I Get A Kick Out Of You, All Through The Night, You’re The Top e o tema-título, Anything Goes, que conheceram já diversas versões por inúmeras vozes. Musicalmente Anything Goes traduz o aprumo de uma linguagem pessoal, representando um dos paradigmas do “musical” da Broadway do período entre-guerras. Estreado cinco anos depois do “crash” de 1929, ou seja ainda sob efeitos da depressão, não deixou de constituir um dos maiores sucessos da década de 30. Teve mais de 400 representações no teatro que acolheu a estreia (o Alvin Theatre), o que de Anything Goes fez a quarta produção que mais tempo esteve em cena em Nova Iorque nos anos 30.
História de amores entre um corrector da bolsa em viagem e uma cantora de cabaret, Anything Goes vive entre canções e números coreografias no convés de um cruzeiro que parte de Nova Iorque rumo a Londres. O musical teve várias vidas depois da produção original no Alvin Theatre. Em 1936 a Paramount levou a história e as canções a filme, com realização de Lewis Milestone, com Ethel Merman e Bing Crosby nos papéis principais (na foto). O filme seria depois “rebaptizado” como Tops Is The Limit, em função de um remake, novamente pela Paramount, em 1956, no qual Bing Cosby retomou o seu papel. Por seu lado, Ethel Merman voltou a vestir o seu papel em 1954, numa adaptação televisiva de 1954, na qual contracenou com Frank Sinatra. A canção-título teve nova vida no cinema na sequência inicial de Indiana Jones e o Templo Perdido (1984), de Steven Spielberg, numa versão em mandarim por Kate Capshaw.
Imagens da produção encenada por Jerry Zaks no Lincoln Center em 1987, que valeu inúmeros prémios, entre os quais três Tony. No papel protagonista, Reno Sweeney, encontramos aqui a actriz Patti Lupone. Este “remake” em finais de 80 de Anything Goes somou 784 representações.
'Anything Goes', de Cole Porter
(1934)



Imagens da produção encenada por Jerry Zaks no Lincoln Center em 1987, que valeu inúmeros prémios, entre os quais três Tony. No papel protagonista, Reno Sweeney, encontramos aqui a actriz Patti Lupone. Este “remake” em finais de 80 de Anything Goes somou 784 representações.
Pintando com as memórias de Kubrick


sábado, novembro 01, 2008
Televisão & política: que jornalismo?

Quando vemos o programa The Situation Room (CNN), apresentado por Wold Blitzer, podemos sentir que a proliferação de entrevistados e comentadores nem sempre é devidamente rentabilizada. Talvez seja até inevitável receber cada intervalo para publicidade como uma forma de contrariar a eficácia e a transparência dos diálogos. Seja como for, nenhum desses contratempos anula uma certeza: a de que lá podemos encontrar informação variada e contrastada que nos permite pensar um pouco melhor a actualidade do mundo, em particular os grandes combates políticos.
The Situation Room é apenas um exemplo de uma forma de fazer televisão a que, creio, todos nós prestámos mais atenção nos últimos meses. Motivação óbvia: a campanha eleitoral americana e, mais especificamente, as clivagens que se foram desenhando entre os discursos e os campos de Barack Obama e John McCain.
Há duas lições muito simples, e também muito pedagógicas, que brotam dos três debates entre os dois candidatos (e tanto mais quanto foram formalmente diferentes, com cada espaço e cada estrutura de emissão a gerar efeitos dramáticos também diferenciados). A primeira decorre do próprio comportamento de Obama e McCain: para além das simpatias ou resistências que cada um nos possa suscitar, para além das respectivas estratégias discursivas, ambos deram um exemplo global de genuína democraticidade, sabendo argumentar e, mais do que isso, sabendo escutar. A segunda lição é inerente ao trabalho da maioria dos jornalistas televisivos: afinal, é possível fazer perguntas contundentes, por vezes incómodas, sem lançar o sarcasmo, a insinuação ou o insulto sobre o entrevistado.
Embora recusando qualquer generalização automática, sabemos que as coisas nem sempre se passam assim no contexto português. Por um lado, há elementos da classe política que confundem a má educação (sobrepondo sistematicamente a sua voz à dos seus adversários) com a capacidade de argumentar; por outro lado, há jornalistas que, pura e simplesmente, gostam de enxovalhar os políticos. Que está em jogo, afinal? Duas coisas básicas: a dignidade da política e a dimensão humana do jornalismo.
Reinventar a pop nos anos 90

St Etienne
‘Nothing Can Stop Us’ (1991)
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