Afinal, o que significa interrogar os protagonistas da cena política com os meios da televisão? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 de Outubro), com o título 'Televisão & política'.
Quando vemos o programa The Situation Room (CNN), apresentado por Wold Blitzer, podemos sentir que a proliferação de entrevistados e comentadores nem sempre é devidamente rentabilizada. Talvez seja até inevitável receber cada intervalo para publicidade como uma forma de contrariar a eficácia e a transparência dos diálogos. Seja como for, nenhum desses contratempos anula uma certeza: a de que lá podemos encontrar informação variada e contrastada que nos permite pensar um pouco melhor a actualidade do mundo, em particular os grandes combates políticos.
The Situation Room é apenas um exemplo de uma forma de fazer televisão a que, creio, todos nós prestámos mais atenção nos últimos meses. Motivação óbvia: a campanha eleitoral americana e, mais especificamente, as clivagens que se foram desenhando entre os discursos e os campos de Barack Obama e John McCain.
Há duas lições muito simples, e também muito pedagógicas, que brotam dos três debates entre os dois candidatos (e tanto mais quanto foram formalmente diferentes, com cada espaço e cada estrutura de emissão a gerar efeitos dramáticos também diferenciados). A primeira decorre do próprio comportamento de Obama e McCain: para além das simpatias ou resistências que cada um nos possa suscitar, para além das respectivas estratégias discursivas, ambos deram um exemplo global de genuína democraticidade, sabendo argumentar e, mais do que isso, sabendo escutar. A segunda lição é inerente ao trabalho da maioria dos jornalistas televisivos: afinal, é possível fazer perguntas contundentes, por vezes incómodas, sem lançar o sarcasmo, a insinuação ou o insulto sobre o entrevistado.
Embora recusando qualquer generalização automática, sabemos que as coisas nem sempre se passam assim no contexto português. Por um lado, há elementos da classe política que confundem a má educação (sobrepondo sistematicamente a sua voz à dos seus adversários) com a capacidade de argumentar; por outro lado, há jornalistas que, pura e simplesmente, gostam de enxovalhar os políticos. Que está em jogo, afinal? Duas coisas básicas: a dignidade da política e a dimensão humana do jornalismo.
Quando vemos o programa The Situation Room (CNN), apresentado por Wold Blitzer, podemos sentir que a proliferação de entrevistados e comentadores nem sempre é devidamente rentabilizada. Talvez seja até inevitável receber cada intervalo para publicidade como uma forma de contrariar a eficácia e a transparência dos diálogos. Seja como for, nenhum desses contratempos anula uma certeza: a de que lá podemos encontrar informação variada e contrastada que nos permite pensar um pouco melhor a actualidade do mundo, em particular os grandes combates políticos.
The Situation Room é apenas um exemplo de uma forma de fazer televisão a que, creio, todos nós prestámos mais atenção nos últimos meses. Motivação óbvia: a campanha eleitoral americana e, mais especificamente, as clivagens que se foram desenhando entre os discursos e os campos de Barack Obama e John McCain.
Há duas lições muito simples, e também muito pedagógicas, que brotam dos três debates entre os dois candidatos (e tanto mais quanto foram formalmente diferentes, com cada espaço e cada estrutura de emissão a gerar efeitos dramáticos também diferenciados). A primeira decorre do próprio comportamento de Obama e McCain: para além das simpatias ou resistências que cada um nos possa suscitar, para além das respectivas estratégias discursivas, ambos deram um exemplo global de genuína democraticidade, sabendo argumentar e, mais do que isso, sabendo escutar. A segunda lição é inerente ao trabalho da maioria dos jornalistas televisivos: afinal, é possível fazer perguntas contundentes, por vezes incómodas, sem lançar o sarcasmo, a insinuação ou o insulto sobre o entrevistado.
Embora recusando qualquer generalização automática, sabemos que as coisas nem sempre se passam assim no contexto português. Por um lado, há elementos da classe política que confundem a má educação (sobrepondo sistematicamente a sua voz à dos seus adversários) com a capacidade de argumentar; por outro lado, há jornalistas que, pura e simplesmente, gostam de enxovalhar os políticos. Que está em jogo, afinal? Duas coisas básicas: a dignidade da política e a dimensão humana do jornalismo.