> A HISTÓRIA. Estar na linha da frente. E estar virado para a história. Seja qual for o resultado das eleições de amanhã, nos EUA, a candidatura de Barack Obama soube devolver aos americanos a sensação de uma relação com a história em que a evidência do quotidiano mais concreto remete, em última instância, para o lugar da América no mundo. É por isso que faz sentido dizer que algo da existência de cada um de nós, não americanos, se decide no acto eleitoral de 4 de Novembro de 2008 — porque, afinal de contas, mal ou bem, os destinos do planeta continuam a passar pela identidade da América.
> NOVOS MEDIA. Vale a pena, por isso, reter o spot de 30 minutos [em 4 partes, aqui em baixo] com que Obama ocupou o espaço televisivo, no dia 29 de Outubro, nomeadamente em grandes canais nacionais (NBC, CBS e Fox). E não tanto por causa do investimento que a sua emissão implicou — qualquer coisa como 6 milhões de dólares. Aliás, só por distração ou ingenuidade se poderia julgar que estas eleições se jogariam num espaço tradicional, imune às "perversidades" dos novos media e, mais especificamente, dos modernos conceitos de marketing. Só mesmo por simplismo político se poderá pretender anular o impacto dessa meia hora em nome da "impureza" do dinheiro. Noutra escala, assistimos a um logro semelhante quando se pretendeu abalar a imagem de John McCain por causa dos preços de algumas peças do guarda-roupa da sua mulher, Cindy — além do mais, é puro cinismo pretender que as marcas de elegância que ajudaram a fazer de Jacqueline Kennedy um símbolo de dignidade e calor humano se transformam, noutra mulher, num factor de suspeição.
> FAZER POLÍTICA. Acontece que, de facto, Obama tem plena consciência — isto é, tem uma consciência realmente política — do mundo em que vive e, muito em particular, dos seus sistemas de comunicação global. A sua meia hora de campanha televisiva assume até às últimas consequências um fascinante paradoxo: é construída a partir de formatos correntes de televisão (em especial, na enunciação de grandes ideias globais a partir da amostragem de casos particulares), ao mesmo tempo que propõe ao seu espectador uma contundente revisão crítica de muitos lugares-comuns interpretativos que todos os dias lhe chegam (quase sempre através dessa mesma televisão).
* * * * *
Quando Obama proclama que "todos têm uma história", é disso que fala: do direito a encontrar o lugar de um eu que valorize todas as formas de solidariedade, mas que não se dissolva nas ilusões de um ecumenismo sem ideias. Talvez este seja um reencontro da América com a sua vocação mitológica. Mas é, acima de tudo, algo que a fruição do mito pressupõe e exige. Ou seja: o retorno ao real e o assumir da sua complexidade.
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (1/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (2/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (3/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (4/4)
> NOVOS MEDIA. Vale a pena, por isso, reter o spot de 30 minutos [em 4 partes, aqui em baixo] com que Obama ocupou o espaço televisivo, no dia 29 de Outubro, nomeadamente em grandes canais nacionais (NBC, CBS e Fox). E não tanto por causa do investimento que a sua emissão implicou — qualquer coisa como 6 milhões de dólares. Aliás, só por distração ou ingenuidade se poderia julgar que estas eleições se jogariam num espaço tradicional, imune às "perversidades" dos novos media e, mais especificamente, dos modernos conceitos de marketing. Só mesmo por simplismo político se poderá pretender anular o impacto dessa meia hora em nome da "impureza" do dinheiro. Noutra escala, assistimos a um logro semelhante quando se pretendeu abalar a imagem de John McCain por causa dos preços de algumas peças do guarda-roupa da sua mulher, Cindy — além do mais, é puro cinismo pretender que as marcas de elegância que ajudaram a fazer de Jacqueline Kennedy um símbolo de dignidade e calor humano se transformam, noutra mulher, num factor de suspeição.
> FAZER POLÍTICA. Acontece que, de facto, Obama tem plena consciência — isto é, tem uma consciência realmente política — do mundo em que vive e, muito em particular, dos seus sistemas de comunicação global. A sua meia hora de campanha televisiva assume até às últimas consequências um fascinante paradoxo: é construída a partir de formatos correntes de televisão (em especial, na enunciação de grandes ideias globais a partir da amostragem de casos particulares), ao mesmo tempo que propõe ao seu espectador uma contundente revisão crítica de muitos lugares-comuns interpretativos que todos os dias lhe chegam (quase sempre através dessa mesma televisão).
Quando Obama proclama que "todos têm uma história", é disso que fala: do direito a encontrar o lugar de um eu que valorize todas as formas de solidariedade, mas que não se dissolva nas ilusões de um ecumenismo sem ideias. Talvez este seja um reencontro da América com a sua vocação mitológica. Mas é, acima de tudo, algo que a fruição do mito pressupõe e exige. Ou seja: o retorno ao real e o assumir da sua complexidade.
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (1/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (2/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (3/4)
BARACK OBAMA, 29 de Outubro de 2008 (4/4)