domingo, novembro 02, 2008

Retrospectiva no Coliseu

Há tradições que não mudam. E Peter Murphy gosta de encerrar campanhas em solo português. Há dez anos a Resurrection Tour dos Bauhaus fechava em triunfo com concertos em Lisboa (num Pavilhão Atlântico cheio) e Porto. Igual agenda, mas desta vez nos Coliseus (onde o músico conta já longa história), fecha agora a Retrospective Tour. Em comum entre ambas, o facto de permitirem às plateias novo encontro com a memória da música dos Bauhaus, fulcral banda da história do pós-punk britânico e paradigma para o que se viria a designar depois por rock gótico. Apesar de acompanhado em palco por uma banda notoriamente menor que a que consigo fez grandes discos entre 1979 e 1983, Peter Murphy cumpriu ontem em Lisboa a “retrospectiva” que o concerto prometia. Revisitou clássicos como A Strange Kind Of Love, Time’s Got Nothing To Do With It ou Cuts You Up e também canções-chave de velhos álbuns a solo de 80 e 90 (entre as quais Marlene’s Dietrich Favourite Poem, Deep Ocean Vast Sea, Huvola, The Line Between The Devil’s Teeth, The Scarlet Thing In You ou The Sweetest Drop). Apresentou uma versão reduzida ao osso dos acontecimentos de Hurt, dos Nine Inch Nails. Citou Starman e uma versão de Be My Wife do inevitável David Bowie. Mas foi ao som dos Bauhaus que um Coliseu cheio mais reagiu. Burning From The Inside, She’s In Parties, All We Ever Wanted e Black Stone Heart (do ignorado álbum deste ano), assim como uma citação a Bela Lugosi’s Dead no final de A Strange Kind Of Love. Houve ainda um (dispensável) breve destapar do novo álbum acabado de gravar, mas que pela amostra parece tão inconsequente como o último, e medíocre, Unshattered. Pena maior foi a recorrente constatação da falta de atributos (musicais e performativos) da banda que agora o acompanha, que dá apenas conta do recado mas não tem mesmo alma para muito mais...