segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Oscars: a saga dos irmãos Weinstein


Os irmãos Weinstein estão de volta! Eis a moral da história dos Oscars de 28 de Fevereiro de 2011, referentes à produção de 2010. De facto, desde o seu afastamento da Miramax (na sequência de crescentes desentendimentos com a proprietária Disney), eles têm tentado com The Weinstein Company recuperar esse lugar especial, e especialmente atraente, a meio caminho entre os independentes e os grandes estúdios.
Em parte, o objectivo tinha sido conseguido com o impacto do filme O Leitor (2008), que deu o Oscar de melhor actriz a Kate Winslet. Mas acabou por ser O Discurso do Rei a consumar os objectivos de Harvey e Bob Weinstein. A saber: consolidar uma dinâmica em que a ousadia criativa se cruza com um marketing extremamente hábil (para muitos, a imagem de marca do duo).
Estamos a falar, afinal, de quem conseguiu vitórias comerciais e nos Oscars com títulos com O Paciente Inglês (1996), A Paixão de Shakespeare (1998) e Chicago (2002). Estamos também a falar de produtores ligados, por exemplo, a Na Cama com Madonna (1991), Pulp Fiction (1994) e Gangs de Nova Iorque (2002). Agora, com O Discurso do Rei — quatro Oscars, incluindo melhor filme —, os Weinstein conseguem a mais perversa das suas proezas: reconquistar o poder industrial que já tiveram, graças a um... telefilme da BBC.

E nasceu assim...


Era muito esperado, sobretudo tendo em conta os feitos anteriores em telediscos como Bad Romance, de Francis Lawrence o díptico Paparazzi / Telephone de Jonas Akerlund ou Alerjandro, de Steve Klein. Realizado pelo fotógrafo Nick Knight, Born This Way teve estreia esta tarde pela Internet. É um pequeno filme, com voz off a acompanhar uma sequência inicial com travo sci-fi, entre referências a ovos, nascimentos, o bem e o mal... Segue-se, mas sem a mestria do que Klein mostrara em Alejandro, uma alternância de sequências de dança e quadros estilizados. A fotografia é soberba e, tecnicamente, nada a apontar. Mas de Lady Gaga já vimos melhor.

Annie Girardot (1931 - 2011)


Actriz francesa, muito popular nas décadas de 60/70, consagrada com a personagem de Nadia em Rocco e os Seus Irmãos (1960), de Luchino Visconti, Annie Girardot faleceu em Paris, a cidade onde nasceu a 25 de Outubro de 1931 — contava 79 anos.
Formada com distinção pelo Conservatório Nacional Superior de Arte Dramática, entrou em 1954 para a Comédie Française, rapidamente sendo reconhecida como um talento invulgar. Dois anos mais tarde trabalha sob a direcção de Jean Cocteau, em La Machine à Écrire, que vê nela "o mais belo temperamento dramático do pós-guerra". Ao mesmo tempo, foi desenvolvendo uma carreira cinematográfica, filmando entre outros com Marcel Carné (Le Pays d'où Je Viens, 1956) e Jean Delannoy (Maigret Tend un Piège/Desafio ao Crime, 1957), até encontrar Visconti, com Rocco [trailer], consagrado com o Leão de Ouro de Veneza/1960.
Entre os seus títulos mais importantes, seguiram-se I Compagni (1964), de Mario Monicelli, Viver para Viver (1967), de Claude Lelouch (primeira de seis colaborações com este cineasta), Dillinger Morreu (1969), de Marco Ferreri, e Morrer de Amor (1971), de André Cayatte — este último conferiu-lhe a dimensão de grande estrela popular, "La Girardot", tendo servido, em Portugal, para a inauguração do cinema Londres, em Lisboa (na altura um dos primeiros símbolos da renovação do parque de exibição e da proliferação do modelo de "sala-estúdio").
Recebeu três Césares, o último deles, em 2002, pelo seu papel (secundário) em A Pianista, de Michael Haneke. Sofria da doença de Alzheimer, facto que a família divulgou em 2006; no ano seguinte, publicou o livro La Mémoire de Ma Mère, escrito em colaboração com o jornalista Jean-Michel Caradec'h.


>>> Obituário no jornal Le Monde.

Oscars vs Globos: boletim meteorológico


1.  Nos Oscars, O Discurso do Rei foi eleito melhor filme de 2010.

2. Nos Globos de Ouro, tinham sido escolhidos como melhores do ano: A Rede Social (drama) e Os Miúdos Estão Bem (musical ou comédia).

3. Nos últimos vinte anos, o Oscar de melhor filme e o Globo de Ouro/drama coincidiram nove vezes (45% das edições); se considerarmos apenas os últimos dez anos, essa coincidência verificou-se três vezes (30%): Uma Mente Brilhante, O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei e Quem Quer Ser Bilionário, respectivamente em 2001, 2003 e 2008.

4. Nos últimos vinte anos, o Oscar de melhor filme apenas coincidiu duas vezes (10%) com o Globo de Ouro/musical ou comédia: A Paixão de Shakespeare e Chicago, respectivamente em 1998 e 2002.

5. Assim, globalmente, nos últimos vinte anos, os Globos de Ouro de melhor filme (drama e musical ou comédia) coincidiram onze vezes com os respectivos Oscars — percentagem de 55%; se considerarmos que essas coincidências resultam, não de vinte, mas de quarenta prémios atribuídos (vinte de drama + vinte de musical ou comédia), a percentagem passa a ser de 27,5%.

6. Tendo em conta esta conjuntura meteorológica, é fácil prever que, daqui a um ano, vão chover os discursos jornalísticos a garantir que os Globos antecipam os Oscars... Recomenda-se protecção contra a intempérie mediática.

Segunda chamada


Chamam-se Beat Connection, são de Seattle (EUA) e estrearam-se em disco, com um EP, no ano passado, que agora terá novamente lançamento. Silver Secreen é o cartão de visita nesta segunda chamada e tem por assinatura o trabalho de Dumb Eyes.

O teledisco de 'Born This Way' nasce hoje

O novo teledisco de Lady Gaga é hoje apresentado em estreia mundial. Pelas 16.00 o teledisco para Born This Way terá primeira apresentação mundial segundo uma lógica semelhante à que assistiu às estreias dos mais recentes telediscos para Telephone e Alejandro. O teledisco de Born This way é assinado por Nick Knight, fotografo (já com exposições apresentadas em grandes museus como, por exemplo, a londrina Saatchi Gallery) e que assinou, entre outros, o teledisco de Pagan Poetry, de Björk.

Novas edições:
John Vanderslice, White Wildness


John Vanderslice
“White Wilderness”

Dead Oceans / Popstock

4 / 5


Com já longa carreira e relativamente extensa discografia que remonta aos anos 90 e, a solo, com lançamentos frequentes desde o ano 2000, John Vanderslice é mesmo assim um daqueles talentos indie a quem ainda não se deu o merecido reconhecimento. Entre a sua discografia somou já títulos como Pixel Revolt (2005) ou Emerald City (2007) que lhe deveriam ter merecido alguma visibilidade maior adiante das cercanias indie onde nasceu e é seguido por alguns atentos admiradores. Mas não é essa a meta que mora na sua agenda. E, entre o seu trabalho e o do estúdio que gere (e onde trabalha) vai traçando um caminho com personalidade demarcada que agora desemboca num interessante desafio: o de trabalhar com uma orquestra. White Wilderness nasceu numa série de sessões de estúdio na companhia da Magik Magik Orchestra. Mas, em lugar de assinalar uma partida da sua música para lá dos espaços da canção de autor, com travo indie (e cada vez mais distante assimilação de ecos da cultura folk), John Vanderslice faz do disco um espaço de diálogos e complementaridades, a orquestra na verdade acrescentando dimensões, não procurando assim outros patamares ou destinos. Estamos por isso num lugar diferente daquele que Sufjan Stevens elegeu para, em The Age Of Adz, procurar uma noção de sinfonismo para canções que, com orquestra, levou para lá das suas formas habituais. John Vanderslice optou antes por ver na orquestra uma fonte de novas possibilidades na exploração dos detalhes e camadas de acontecimentos que habitualmente povoam as suas canções. O resultado pode não ser assim tão ousado, tão visionário, mas a verdade é que entre as nove canções de White Wilderness John Vanderslice mostra uma vez mais que não apenas é um talentoso escritor de canções como, acima de tudo, um músico que sabe como compor cenários que, sem as afogar, as tornam um mundo pleno de pequenos grandes acontecimentos. O convívio com a orquestra ocupou um lugar onde já moraram electrónicas. E abre portas a novas possibilidades a uma música que gosta de se vestir bem.

Com riscas (e a cores)


É uma nova série lançada pela Converse para integrar a colecção Primavera/Verão de 2011 e deverá começar a chegar às lojas a partir de Março. Os dois modelos foram criados em parceria com a italiana Missioni e tomam como base os clássicos Chuck Taylor, propondo padrões às riscas de cores vivas.

Três olhares por Gotemburgo (2)


Mais uma sequência de olhares por Gotemburgo. Todos estes captados cedo, numa manhã de Inverno, em passeio pela Storta Badhusgtan e Götalde, junto ao porto. Nota-se a presença impositiva da rocha sobre a qual a cidade nasceu, pela paisagem urbana sendo frequentes as ocasiões em que estes muros naturais (por vezes talhados pelo homem) irrompem entre edifícios e o pavimento.

'O Discurso do Rei' vence quatro Oscares


A 83ª noite de entrega dos Oscares elegeu O Discurso do Rei como o FIlme do Ano. James Franco e Anne Hathaway foram os apresentadores. Mas, apesar de uma bem humorada sequência de abertura, a cerimónia foi contudo morna e acabou muito aquém de outras que vimos em anos anteriores. Na premiação os Oscares foram distribuidos por vários filmes. O Discurso do Rei e A Origem recolheram quatro oscares cada, A Rede Social três e, com dois, ficaram The Fighter - Último Round, Alice No País das Maravilhas e Toy Story 3.

Melhor Filme - O Discurso do Rei
Melhor Realizador - Tom Hooper (O Discurso do Rei)
Melhor Actor - Colin Firth (O Discurso do Rei)
Melhor Actriz - Natalie Portman (Cisne Negro)
Melhor Actor Secundário - Christian Bale (The Fighter - Útimo Round)
Melhor Actriz Secundária - Melissa Leo (The Fighter - Último Round)
Melhor Argumento Adaptado - Aaron Sorkin (A Rede Social)
Melhor Argumento Original - David Seidler (O Discurso do Rei)
Melhor Direcção artística – Alice no País das Maravilhas
Melhor Banda Sonora Original - Trent Reznor e Atticus Ross (A Rede Social)
Melhor Canção Original - We Belong Together, de Randy Newman (Toy Story 3)
Melhor Fotografia – A Origem
Melhor Montagem - A Rede Social
Melhor Caracterização - O Lobisomem
Melhor Guarda Roupa - Alice No País das Maravilhas
Melhor Mistura de Som - A Origem
Melhor Montagem de Som - A Origem
Melhores Efeitos Visuais - A Origem
Melhor Filme em Língua Estrangeira - In a Better World (Dinamarca)
Melhor Documentário - A Verdade da Crise, de Charles Ferguson
Melhor Filme de Animação (longa) – Toy Story 3
Melhor Filme de Animação (curta) - The Lost Thing, de Shaun Tan e Andrew Ruhemann
Melhor Curta Ficção - God of Love, de Luke Matheny
Melhor Curta Metragem Documental - Strangers No More

Trent Reznor ganha um Oscar


Depois de ter vencido o Globo de Ouro, a banda sonora de A Rede Social valeu a Trent Reznor um Oscar. Um argumento mais em favor de uma carreira que tem muito caminho pela frente no cinema.

domingo, fevereiro 27, 2011

Alguns notáveis que nunca ganharam um Oscar


Alfred Hitchcock recebeu o prestigioso Prémio Thalberg (em 1968), mas integra uma longa lista de notáveis que, embora intimamente ligados às glórias de Hollywood, nunca receberam um Oscar. Vale a pena recordar mais alguns, estes em tudo e por tudo ligados ao melhor do presente cinema americano — estes textos foram publicados no Diário de Notícias (26 de Fevereiro), com o título 'Os Oscars que ficaram por ganhar'.

Entre aqueles que ganham os Oscars e os que vão permanecendo esquecidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, vai-se desenhando um bizarro confronto: afinal, compreendemos que muitas vezes se ganha (ou perde) por razões conjunturais, promocionais ou apenas de simpatia. Não vem mal ao mundo por isso. Mas é justo recordarmos alguns dos que (ainda) não têm uma estatueta dourada. Além do mais, em termos artísticos, são tudo menos banais.

* SPIKE LEE — É um dos grandes autores do cinema americano das últimas três décadas, tendo assinado títulos tão marcantes como Não Dês Bronca (1989), Malcolm X (1992) ou Verão Escaldante (1999). Spike Lee continua a não ter um Oscar (foi nomeado duas vezes: a primeira pelo argumento de Não Dês Bronca; a segunda, em 1997, pelo documentário 4 Little Girls). Tradicionalmente descrito como um retratista de personagens afro-americanas, obviamente fundamentais em todos seus documentários e ficções, o certo é que o seu universo temático está longe de ser “especializado” ou “panfletário”, impondo-o como um dos grandes analistas das ideias e contradições da América contemporânea. A sua obra-prima, A Última Hora (2002), protagonizado pelo admirável Edward Norton, é um dos primeiros filmes a tomar o pulso a Nova Iorque cerca de um ano depois dos atentados do 11 de Setembro. Ficou também como um dos mais chocantes esquecimentos da Academia de Hollywood, não obtendo uma única nomeação. Foi um ano trágico para os Oscars que, apesar de entre os nomeados estarem Gangs de Nova Iorque, de Martin Scorsese, ou O Pianista, de Roman Polanski, acabaram por distinguir o banalíssimo Chicago como melhor filme do ano.

* LEONARDO DiCAPRIO — Embora sem nenhum Oscar no seu curriculum, não se pode dizer que Leonardo DiCaprio, um dos líderes das bilheteiras de todo o mundo, seja um nome esquecido ou secundarizado pela Academia de Hollywood. Afinal de contas, obteve a sua primeira nomeação (para melhor actor secundário) por Gilbert Grape (1993), de Lasse Hallström, filme que rodou com apenas 19 anos e no qual sustentava, com brilhantismo, o confronto com Johnny Depp. Depois, por mais duas vezes, voltou a chegar às nomeações (para melhor actor): com O Aviador (2003), de Martin Scorsese, e Diamante de Sangue (2006), de Edward Zwick. Quer isto dizer que a sua notabilíssima composição em Revolutionary Road (2008), de Sam Mendes, ficou fora da corrida às estatuetas douradas. O mesmo aconteceu, aliás, a Kate Winslet que com ele contracenava (que, no entanto, esse ano arrebatou o Oscar, mas com O Leitor, de Stephen Daldry). Em boa verdade, podemos citar mais algumas extraordinárias composições de DiCaprio que também ficaram esquecidas. Lembremos apenas: Gangs de Nova Iorque (2002), de Martin Scorsese, Apanha-me Se Puderes (2002), de Steven Spielberg, e The Departed – Entre Inimigos (2006), de novo sob a direcção de Scorsese.

* JULIANNE MOORE — Conta-se que Steven Spielberg escolheu Julianne Moore para o elenco de O Mundo Perdido (1997) sem sequer se ter preocupado em fazer qualquer teste: bastou-lhe vê-la em O Fugitivo (1993), contracenando com Harrison Ford, para compreender as subtilezas do seu talento. Ironicamente, na altura, Julianne Moore parecia uma actriz mais ou menos confinada à televisão, de vez em quando conseguindo pequenos “desvios” no cinema. De facto, a partir daí, qualquer coisa mudou na sua carreira da actriz, quanto mais não seja porque passou a receber convites muito mais interessantes, para personagens bastante mais complexas. Um excelente exemplo poderá ser a sua interpretação em Boogie Nights/Jogos de Prazer (1997), de Paul Thomas Anderson, compondo uma mulher envolvida na produção de filmes pornográficos nos anos 70/80. Foi, aliás, com esse título que obteve a sua primeira nomeação para os Oscars, na categoria de actriz secundária. Em pouco tempo, Julianne Moore impôs-se como uma das figuras de excelência no interior da produção americana, além do mais circulando sem preconceitos entre grandes produções e projectos de raiz independente. Terá sido em O Fim da Aventura (1999) que conseguiu a expressão mais sofisticada do seu imenso talento. Com argumento e realização de Neil Jordan, trata-se de uma extraordinária versão do romance de Graham Greene, com Ralph Fiennes a contracenar com Julianne Moore: ela foi nomeada, desta vez para melhor actriz, mas voltou a não ganhar (Hilary Swank, em Os Rapazes Não Choram, foi a vencedora desse ano). Julianne Moore conseguiu mais duas nomeações, ambas referentes a 2002, Longe do Paraíso (actriz principal) e As Horas (actriz secundária), mas continua sem ganhar.

* TERENCE BLANCHARD — Trompetista, compositor, especializado nas subtilezas de arranjos e liderança de diversos colectivos, Terence Blanchard é uma das figuras de topo do panorama do jazz americano no último quarto de século. E é também um dos que mais regularmente tem trabalhado para cinema, com intervenções mais ou menos significativas (temas originais e arranjos) em cerca de três dezenas de bandas sonoras. Cerca de um terço de tais trabalhos pertence a filmes de Spike Lee. Na verdade, de forma semelhante a algumas grandes duplas clássicas (lembremos o exemplo emblemático de Bernard Herrmann e Alfred Hitchcock), pode dizer-se que Blanchard definiu para o cinema de Lee um universo musical que, embora fortemente ligado ao jazz, mantém ligações a outro domínios musicais, por vezes com admiráveis sugestões sinfónicas. Nunca ganhou um Oscar, mas as suas duas únicas nomeações (para melhor música) foram obtidas, precisamente, graças a colaborações com Spike Lee: Ela Odeia-me (2004) e Infiltrado (2006). De qualquer modo, é inevitável lembrarmos o extraordinário trabalho efectuado para Summer of Sam/Verão Escaldante (1999), ainda de Spike Lee: a música de Blanchard funciona aí como uma espécie de filtro dramático para acedermos a um universo marcado pela decomposição dos mais sólidos valores colectivos.

Imagens e sons da Praça Tahrir


Como é que, de um modo geral, são elaboradas as notícias sobre as convulsões que têm abalado vários países do norte de África? As respostas são esclarecedoras do modo como as televisões (não) pensam o seu próprio trabalho — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Fevereiro), com o título 'Notícias do mundo árabe'.

Como olhar as convulsões do mundo árabe? Como dar a ver uma realidade tecida de componentes em grande parte estranhas aos nossos olhos europeus e ocidentais? Algumas vozes menos dadas a euforias pueris, têm chamado a atenção para a necessidade muito pragmática de não perder de vista a complexidade política e civilizacional de tudo aquilo que está em jogo. Recordo, por exemplo, as palavras contundentes de Vasco Graça Moura, em artigo publicado no DN (9 Fev.): “O Ocidente fala muito de cooperação, mas não tem condições satisfatórias para prestar ajuda que se veja a muitos milhões de seres humanos, de modo a neutralizar a insatisfação e as tensões acumuladas de populações paupérrimas.”
Escusado será dizer que semelhante cepticismo não significa nenhum abandono da defesa dos direitos humanos e dos valores inerentes aos regimes democráticos (Vasco Graça Moura sublinha isso claramente no seu artigo). Em todo o caso, e não perdendo de vista a dimensão televisiva da questão, vale a pena interrogar o modo corrente como muitos canais tendem a noticiar os eventos no Egipto, Bahrain, Líbia e outros países que têm sido abalados por manifestações de protesto contra os seus líderes. De facto, dir-se-ia que triunfou o estilo mais anedótico de... apontar o dedo. E a descrição não tem nada de caricatural: desde os canais portugueses à BBC ou à CNN, o principal objectivo “jornalístico” parece ser o de conseguir colocar um repórter algures, na Praça Tahrir ou no meio de uma qualquer situação agitada, para deixar a mesma mensagem: “Reparem nesta confusão...”
Esta cultura mediática é tanto mais grosseira quanto as televisões conseguiram impor uma ideologia (triunfalista e arrogante) que pressupõe uma lei inquestionável: se temos um repórter lá, “no meio da confusão”, então nada pode ser mais verdadeiro... Na prática, para o mundo ocidental, isto significa também que as batalhas políticas pela democracia podem começar a ser perdidas no terreno do artificialismo televisivo. Filmar manifestantes aos gritos não basta para compreendermos a complexidade do tempo em que vivemos.

'O Último Airbender' vence os Razzies


É já uma tradição. E na noite que antecede a entrega dos Oscares, os Razzies elegem “os piores do ano”. Assim voltou a ser, com o filme O Último Airbender, de M Night Shyamalan a bater a concorrência em cinco categorias, entre as quais as de Pior Filme, Realizador e utilização de 3D (na verdade a categoria apresentava-se com a designação Worst Eye-Gouging Mis-Use of 3-D). Quem mais “luta” deu a O Último Airbender foi a sequela de O Sexo e a Cidade, que acabou a noite com três razies, dois deles em categorias de interpretação.

A imagem que abre o post mostra precisamente um Razzie (com a forma de uma framboesa). Em baixo, a lista dos vencedores deste ano.



Pior Filme – ‘O Último Airbender’
Pior Actor – Ashton Kutcher, em ‘Killers’ e ‘Valentine’s Day’
Pior Actriz – As quatro protagonistas de ‘O Sexo e a Cidade 2’
Pior Actor Secundário – Jackson Rathbone, em ‘O Último Airbender’ e ‘The Twilight Saga: Eclipse’
Pior Actriz Secundária – Jessica Alba, em ‘The Killer Inside Me’, ‘Little Fockers’ e ‘Valentine’s day’
Pior utilização de 3D - ‘O Último Airbender’
Pior dupla / grupo em cena – O elenco de ‘O Sexo e a Cidade 2’
Pior Realizador – M Night Shyamalan, por ‘O Último Airbender’
Pior Argumento - ‘O Último Airbender’
Pior Prequela, remake, rip-off ou sequela – ‘O Sexo e a Cidade 2’

Uma profunda ligação com Mahler


Sir Simon Rattle regressa a Mahler com a Berliner Philarmoniker, desta vez numa gravação da Sinfonia Nº 2 onde conta ainda com as vozes de Kate Royal e Madgalena Kozena, mais o Rundunkchor Berlin. Edição EMI Classics.

A música de Mahler tem um lugar central na história de vida de Simon Rattle. Em tempos viu, ainda na sua Liverool natal, concertos do primeiro ciclo alguma vez dedicado à integral da sua obra sinfónica por um mesmo maestro. A Sinfonia Nº 4 foi a primeira que dirigiu ainda como estudante e, revelou em tempos, a “segunda” foi a obra que o fez ser sonhar em ser maestro. Esta mesma Sinfonia Nº 2 já havia conhecido, sob a sua direcção, uma outra gravação, há largos anos, ainda com a City Of Birminhgam Symphony Orchestra (a mesma que daria visibilidade global a Rattle). Ao regressar fá-lo agora com a orquestra berlinense de que é titular desde 2002 (e à qual se deverá entretanto manter ligado até 2018). Mahler é um nome central no relacionamento do maestro com a Berliner Philarmoniker, sendo que, em 1987, na primeira ocasião em que a dirigiu, o fez com uma Sinfonia Nº 6 (cuja gravação foi entretanto editada em disco em 2006, num lançamento apoiado pelo Die Welt). Ainda antes de assumir o lugar de maestro-titular, mas já entretanto eleito para ser o sucessor de Abbado no posto, em 2000 editou uma Sinfonia Nº 10 com a Berliner Philharmoniker, que lhe valeria um Grammy. Seguiram-se, com esta sua nova orquestra, uma Sinfonia Nº 5 (2002), uma Sinfonia Nº 9 (2008) e, agora, esta “segunda” na qual deixa claro um olhar que tanto mostra uma capacidade em olhar o todo da obra, como um cuidado na exploração do mundo de detalhes que habitam entre esta que é uma das mais impressionantes composições de Gustav Mahler. Das assombrações que povoam o andamento de abertura às notas de luz e esperança que se levantam no quinto, esta é uma soberba e imponente “segunda”, afirmando-se como um dos primeiros grandes lançamentos editoriais de 2011.



Nestas imagens Simon Rattle apresenta a edição em disco desta sua nova gravação da Sinfonia Nº 2 de Mahler. Vemos depois um excerto da gravação, captado na grande sala da Philharmonie, em Berlim.

(Re)misturar uma exposição

Discografia Kraftwerk - 37
'Expo Remix' (EP), 2000



Passados algumas semanas sobre a edição do single Expo 2000, um novo disco, com uma série de remisturas do mesmo tema, chegava às lojas. Com o título Expo Remix, o EP recolhia remisturas do tema dos Kraftwerk por nomes como, entre outros, os Orbital e o velho colaborador do grupo, François Kevorkian.

sábado, fevereiro 26, 2011

Winnie the Pooh, 2011


Num universo dominado pelos desenhos animados digitais, muitas vezes contando histórias elas próprias envolvidas com as transformações tecnológicas, será que ainda existe espaço para o mundo deliciosamente primitivo de Winnie the Pooh? Os estúdios Disney acreditam que sim e anunciam, para o Verão, um novo filme com as personagens de A. A. Milne — site oficial e trailer [em baixo] já estão disponíveis.

Blancmange, 1984


A poucos dias da edição de um quarto álbum de originais, que assinala o regresso de uma das mais interessantes duplas de pop electrónica da Inglaterra dos oitentas, um recuerdo. De Mange Tout, o segundo álbum dos Blancmange, aqui fica Don’t Tell Me, o single central do alinhamento do disco.



Imagens de uma performance dos Blancmange no Top Of The Pops em 1984, ao som de Don’t Tell Me.

Diálogos (com o jazz por perto)


Duetos para clarinete e piano, com o jazz por perto, entre a música de Bernstein, Gershwin, Novaceck e D’Rivera, pelo clarinetista Jon Manasse e pelo pianista Jon Nakamatsu, em gravação editada pela Harmonia Mundi.

O jazz correu entre algumas das obras que, na primeira metade do século XX, ajudaram a inventar, aos poucos uma identidade claramente americana na música para orquestra. Afinal, nada mais senão uma expressão natural do aqui e do agora que definia uma música que assim procurava expressar uma resposta à velha questão “quem sou eu” lançada pelos compositores (e de certa forma aqueles ao seu redor a quem se dirigiam) sem apontar necessariamente todas as suas genéticas a tradições europeias que, sobretudo até Charles Ives, haviam definido os caminhos de muita da música que, do outro lado do Atlântico, nascia a pensar nas salas de concertos. George Gershwin e, mais tarde, Leonard Bernstein, são dois exemplos maiores de compositores que levaram à sua música não apenas um patamar de diálogo entre o jazz e as tradições “clássicas” ocidentais, mas também uma evidente curiosidade por expressões da cultura popular a que, na verdade, o jazz não era também presença estranha. A Sonata for Clarinet and Piano (1942) de Bernstein e Three Preludes (1926) e I Got Rhythm (do musical Girl Crazy, de 1930), de Gershwin, são assim peças centrais neste disco onde os caminhos do jazz e os da tradição ocidental de genética europeia se cruzam, o retrato caminhando depois rumo ao presente com Four Rags For Two Jons (2006) de John Novacek e The Cape Cod Flies (2009) de Paquito d’Rivera (estas duas em primeiras gravações). Duetos para piano e clarinete, ou seja, duas vozes com história no jazz, juntando aqui a dupla Jon Manasse e Jon Nakamatsu.

Finalmente de regresso

Discografia Kraftwerk - 36
'Expo 2000' (single), 2000



Após longo silêncio discográfico (sem discos novos desde 1991 e, na verdade, sem inéditos desde 1986), os Kraftwerk assinalaram um reencontro com a edição (propondo novidades) com um single no qual apresentaram um tema composto a partir de uma ideia criada para a exposição universal de 2000, que teve então lugar em Hannover, na Alemanha. Expo 2000 nasceu de um jingle vocal em seis línguas, criado no som “clássico” para vocoder dos Kraftwerk, e então disponível no site da exposição. A canção evoluiu dessa ideia inicial. Não representou um sucesso global como o haviam feito alguns singles do grupo nos anos 70 e 80, mas no Reino Unido o single chegou a figurar no top 30.



Imagens do teledisco que acompanhou a edição de Expo 2000.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Yuck!!!


O visual, por si só, arrasa o ecumenismo hipócrita de muitas campanhas políticas. Se o despojamento agreste dos Dinosaur Jr. puder reencarnar num som obstinadamente alternativo, então talvez o resultado se possa chamar... Yuck. E para conservar as coisas no plano da simplicidade, melhor será dar ao álbum de estreia o nome de... Yuck. Quanto às canções, convém mobilizar alguns títulos como Holing Out, Suicide Policeman e Suck. Rapazes ingleses, of course. Com sessão na BBC, comme il faut [video em baixo]. Podem ser ouvidos na Rolling Stone. Frio e alternativo, o site oficial é um deserto angustiado, ma non troppo. Poetas, enfim. A sério, que já chega de brincadeiras.


Marretas Soundsystem


Não é a primeira vez que os Marretas “trabalham” com os LCD Soundystem. Já o tinham feito ao som de New York, I Love You But You're Bringing Me Down. Desta vez propõem um teledisco não oficial para o belíssimo Dance Yrself Clean, o tema que abre o alinhamento do álbum This Is Happening, do ano passado. Foi rodado em Brighton, ou seja, à beira mar... Com Cocas, Miss Piggy, o Monstro das Bolachas e Animal...

Battles de regresso

Os Battles vão ter novo álbum este ano. O sucessor de Mirrored vai ter por título Gloss Drop e chegará às lojas a 7 de Junho. O grupo está entretanto reduzido a um trio.

Reedições
Marc Almond, Stories Of Johnny


Marc Almond
“Stories Of Johnny”

Greenpool Records

4 / 5


Editado em 1985, Stories Of Johhny foi o sucessor de Vermin in Ermine (1984) e, portanto, o segundo álbum a solo de Marc Almond. Cada vez mais afastado da pop electrónica que praticara nos dias de glória dos Soft Cell em inícios dos oitentas, mas caminhando agora por trilhos menos torturados que os que entretanto visitara através do projecto Marc & The Mambas, o disco revela um tempo de busca de uma nova identidade pop que, todavia, não deixa de ter em conta um crescente interesse do músico por outras formas, nomeadamente a torch song e outros cantos de genética nocturna que ganhariam mais evidente expressão em títulos posteriores da sua obra (nomeadamente no sucessor Mother Fist, de 1987). É um álbum onde não faltam canções que sublinham velhas obsessões, onde se fala de amor por vezes em tons superlativos, mas ao mesmo tempo um espaço acessível, naquele que, juntamente com The Stars We Are (1988) e The Tennement Symphony (1991) representa um dos momentos de mais aberta relação com uma ideia de pop acessível de Marc Almond. Stories Of Johnny é um disco inesperadamente seguro para quem vivia então uma etapa de busca de resposta a uma série de demandas pessoais, buscando um rumo, uma identidade. E se Love Letter é um exemplo de reencontro com as genéticas da pop electrónica (que todavia não se expandem a todo o alinhamento do álbum) como não fazia desde os velhos dias dos Soft Cell, já a versão que apresenta de The House Is Haunted revela um interesse cénico mais elaborado, numa composição dominada por climas mais enigmáticos e um sentido de teatralidade que tão bem se adaptam à atitude vocal de Almond. Acompanhado pelos The Willing Sinners, é o segundo disco de uma trilogia (juntamente com Vermin in Ermine e Mother Fist) que definiu as bases para uma nova etapa, lançando rumos em aberto que, com o tempo, aprofundaria em novas gravações. E, além disso, um dos melhores conjuntos de canções de toda a sua discografia.

Entre o porto e a cidade


É uma presença que se impõe junto do Porto de Gotemburgo, junto ao centro histórico da cidade. Não é senão uma central energética, as suas formas ora contrastando com algumas das construções nas imediações, ora não deixando de integrar uma paisagem onde moram também navios e guindastes. Pelas formas e, sobretudo, pela cor, não deixa de lembrar as imagens da inesquecível sequência de abertura do filme Charlie e a Fábrica de Chocolate, de Tim Burton.


Aqui um olhar a um quarteirão de distância, integrando a estrutura na paisagem. À esquerda a cidade. À direita, o porto e as águas que caminham para o Mar do Norte, ali perto.

Percursos de descoberta


Estava noticiado há já algum tempo que os concertos desta semana da Orquestra Gulbenkian iam ter pela frente um outro maestro que não o inicialmente previsto. Abriu-se assim uma oportunidade para conhecer o jovem Ainars Rubikis, vencedor há cerca de um ano do Concurso de Direcção Gustav Mahler. Natural da Letónia tem somado uma série de compromissos internacionais nos últimos anos e ontem deu provas de ser figura a acompanhar com atenção.

O programa foi dominado pela presença da intrigante (mas decididamente cativante) Sinfonia Nº 15 de Shostakovich, a última do grande compositor russo, um dos maiores sinfonistas do século XX. Estreada em 1972, é uma obra que joga entre os contrastes de dois longos andamentos lentos e dois mais curtos alegrettos, por um lado evocando memórias remotas (o próprio compositor chegou a definir o andamento de abertura como uma loja de brinquedos), por outro citando elementos (como o faz com a abertura de Guilherme Tell, de Rossini), não deixando contudo de reflectir sobre o tempo que passou, terminando mesmo com uma nota de mais luminoso optimismo. Discreto no pódio, Rubikis sublinhou os percursos ora mais feitos de luz ora mais toldados, mais efusivos ou contidos pelos quais caminha a música desta espantosa obra tardia de Shostakovich, revelando à vasta plateia uma noite de compensadora descoberta.

O jovem, natural de Riga, que numa entrevista já revelou que pelo seu iPod tanto mora a música de Rufus Wainwright como a dos Pink Floyd, deixou clara essa visão de horizontes largos ao mostrar igual sensibilidade ora na condução do luminoso ciclo Lider eines fahrenden Gesellen de Mahler (com a presença do barítono Georg Nigl) ou numa inesperada abertura de A Flauta Mágica de Mozart que lançou a noite.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Michelle Williams & Ryan Gosling


No cartaz de Blue Valentine (Só Tu e Eu), há uma frase publicada na Entertainment Weekly, de Dave Krager, que diz: "Se há alguma justiça, Ryan Gosling e Michelle Williams vão ser ambos nomeados para os Oscars pelas suas interpretações cruas e arrebatadoras." Ora, apenas Williams recebeu uma nomeação (para melhor actriz), mas é um facto que este é um filme que investe tudo no labor específico dos seus actores. A questão está longe de ser secundária, quanto mais não seja porque há todo um cinema de mero endeusamento da técnica, aliás apoiado pela comunicação social que só vê acontecer alguma coisa num filme quando há efeitos especiais..., que teima em ignorar o factor humano, isto é, as potencialidades dos actores. Derek Cianfrance, realizador vindo da área documental, concebe o seu trabalho como uma aproximação muito física, dir-se-ia uma reportagem, dos seus actores. O resultado [trailer] tem qualquer coisa de singularmente pedagógico: o amor (re)visto como o mais sublime dos equívocos.

Conto de Inverno


A dupla britânica Hurts tem mais um teledisco em cena ainda associado ao seu álbum de estreia Happiness, lançado em 2010. Desta vez escolheram como tema Sunday.


Afinal o título será outro...

Patrick Wolk resolveu dar a volta ao seu novo disco e, em lugar de lhe chamar The Conqueror, o álbum verá antes a luz do dia com o título Lupercalia, em lançamento agendado para 30 de Maio. Antes, em meados de Março, o tema The City terá edição como single.

Novas edições:
Robyn, Body Talk Pt. 3


Robyn
“Body Talk – Pt. 3”

Konichiwa Records

4 / 5


E a promessa de um três em um acabou de facto cumprida. Separados por alguns meses, mas todos eles lançados em 2010, os discos que constituem o tríptico Body Talk, de Robyn somam juntos um dos mais interessantes acontecimentos que a música pop nos deu a escutar no último ano. Há um álbum que, numa selecção de temas incluídos nos três volumes, propõe agora um olhar panorâmico sobre esta aventura. Mas a verdadeira conclusão da história conta-se no terceiro disco, na verdade um EP no qual são apresentados mais cinco inéditos. Se Indistructible, que abre o alinhamento, é mais uma pérola de escrita pop segundo uma linguagem já muito característica da cantora sueca (sucedendo assim a temas como Hang With Me ou Dancing On My Own dos dois volumes anteriores), já composições como Time Machine ou Stars 4 Ever registam uma voz criativa que está a saber “invadir” um espaço no qual Madonna tem desenhado os mais recentes episódios da sua carreira, e aqui com exemplos bem mais nutritivos que os que se escutavam no menos estimulante Hard Candy. E em Call Your Girlfriend tem ainda mais um eventual single a explorar... Sem a variedade de espaços que se escutavam nos volumes 1 e 2 de Body Talk, este terceiro capítulo opta essencialmente por caminhos de uma pop electrónica musculada pelo viço da dança e revela, no todo, uma das mais consistentes colecções de canções de uma força cada vez maior no panorama da pop dos nossos dias. Com o tríptico Body Talk Robyn venceu o desafio de superar o anterior Robyn (já de 2005). E depois de ter já estabelecido um estatuto de popularidade e respeito transversal na Suécia e de se ter afirmado como uma das raras estrelas pop do presente admiradas em terreno indie, a cantora sueca merece já um lugar entre a linha da frente dos acontecimentos no espaço onde parece querer desenvolver uma carreira que pode ir ainda mais longe.

Ópera entre barcos e guindastes


É um edifício impressionante que mora junto ao porto de Gotemburgo, não muito longe de uma das artérias centrais da cidade. Inaugurada em 1994, a Ópera de Gotemburgo foi desenhada por Jan Izikowitz, que indicou então como suas fontes de inspiração não apenas os cenários do mundo da ópera mas também as próprias formas dos espaços em volta do porto da cidade, a sugestão da presença próxima de guindastes e de barcos estando sugerida nas suas linhas. A Ópera de Gotemburgo acolhe uma programação versátil, juntando aos espectáculos de ópera uma série de outras propostas, de musicais de palco a concertos de música sinfónica. Segundo informação que podemos ler no seu site oficial, acolhe cerca de 250 mil visitantes por ano, que se distribuem pelos perto de 270 espectáculos que se realizam pelas várias salas do edifício.

Daft Punk (agora em garrafas)


Uma garrafa é dourada, a outra prateada. Como o são os capacetes com que, frequentemente, surgem em público os dois elementos dos Daft Punk. As garrafas pertencem a uma linha especial limitada lançada pela Coca Cola, precisamente em colaboração com a dupla de músicos, seguindo-se assim a uma operação semelhante recentemente levada a cabo em parceria com Mika.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Moda em Nova Iorque

Timothy A. Clary / AFP / Getty Images (fragmento)
É um dos maiores eventos do mundo da moda: nas duas edições anuais da New York Fashion Week confluem 232 mil visitantes, influenciando de modo decisivo as opções e tendências de todos os mercados internacionais. 'The Big Picture', o espaço fotográfico do jornal The Boston Globe, propõe um magnífico balanço através de 36 imagens.

Associated Press
Craig Barritt / Getty Images

Um repórter na Praça Tahrir


A. Porque é que o repórter [ver video em baixo] aponta o dedo como princípio fundamentador de informação? Porque é que, ao pegar numa das pedras da calçada da Praça Tahrir, o repórter quer fazer passar a ideia de que o seu contacto com a matéria decorre de alguma verdade imanente ao seu discurso?
B. Obviamente, as televisões não estão a questionar os seus modos de aproximação das actuais convulsões no mundo árabe. Se não o fazem perante as vítimas incautas de reality shows e afins, porque é que o fariam face a uma realidade incomparavelmente mais densa e, sobretudo, mais assustadoramente complexa?
O fenómeno é transnacional. Está na CNN, na BBC ou nos canais portugueses. Primeiro, decorre desse primarismo ideológico que faz com que uma multidão a gritar seja, enquanto linguagem televisiva, um símbolo automático, universal e inquestionável de "luta pela liberdade" — veja-se, a propósito, como a saturação repetitiva de algumas (poucas) imagens do nosso 25 de Abril criou uma memória mole, primária e moralista onde já não é possível descortinar nenhuma densidade factual ou afectiva dos eventos históricos. Depois, promove até à obscenidade a noção arrogante segundo a qual um repórter in loco é sempre um sacerdote de uma verdade abrangente e indiscutível.
C. Alguém pega numa pedra da Praça Tahrir e, por uma espécie de milagre instantâneo, contempla-nos como se só pudéssemos abrir a boca de espanto redentor e submissão cognitiva. Que se espera, então, do espectador? Nada, apenas que saboreie a fast food jornalística.

O regresso de uma pioneira


Voz pioneira do movimento punk britânico, com visibilidade conquistada a bordo dos X-Ray Spex, Poly Styrene está de volta com um novo álbum, a editar em finais de Março. Aqui fica um aperitivo, na forma do teledisco que acompanha o single Virtual Boyfriend, assinado por Ben Wheele.

Sufjan Stevens em Maio

Avança o Bodyspace que Sufjan Stevens estará no Porto e em Lisboa em concertos a 30 e 31 de Maio, nos respectivos Coliseus. Nas primeiras partes, DM Stith. Imperdíveis, pois está claro.

Novas edições:
Cut Copy, Zonoscope


Cut Copy
“Zonoscope”

Modular / Universal

2 / 5


Foi em meados da última década que, de um momento para o outro, uma mão cheia de bandas australianas (todas elas num comprimento de onda com afinidades com as genéticas da pop electrónica) entraram em cena, chamando atenções deste lado do mundo. Foi assim que, de um momento para o outro, nomes como os Midnight Juggernauts, Presets ou Cut Copy deixaram de ser distante eco de uma pop que chegava dos antípodas. Destes últimos, que haviam sido os mais “felizes” no processo de criar um sucessor para um primeiro álbum que despertara curiosidades - propondo em In Ghost Colours (2008) um segundo lote de canções que solidificaram um estatuto e encurtaram ainda mais as eventuais distâncias entre estas longitudes e aquelas em que nasceram – acaba de chegar um terceiro disco. Mas se no segundo deram conta do recado, ao terceiro a coisa resvala para a pura desilusão, num alinhamento que parece jogar sobretudo à defesa. Need You Now, o novo single, segue, sem muita imaginação, o modelo da pop épica à la Killers. Take Me Over, single ainda lançado em 2010, acena a memórias dos seus compatriotas Men At Work... E, por aí adiante, o álbum não mostra mais que a revisita a formas e ideias que ora transportam ecos da pop electrónica dos oitentas ora piscam o olho a uma modernidade dançável (nada contra se o fizessem com grandes canções, o que não é de todo o caso). Zonoscope é contudo um disco tecnicamente competente e, mesmo sem apresentar canções candidatas a ficar na história, é banda sonora para uma banda que pode assim correr o mundo em festivais com uma mão cheia de temas que, mesmo longe de memoráveis, despertarão nas plateias um certo sentido de familiaridade. Nota de ressalva sobre o interessante instante que registam no longo Sun God (que fecha o alinhamento), onde lançam ideias bem mais interessantes que no restante alinhamento do disco.

Para visitar o mundo, como ele é


Fica no centro de Gotemburgo, embora a uma mão cheia de paragens de eléctrico do centro histórico. Chama-se Museu das Culturas do Mundo (Världskultur Museet, em sueco) e é um magnífico espaço de aprendizagem e troca de ideias que dá exemplo ao que deveria ser um museu entendido como prolongamento natural de programas educacionais. De passagem por Gotemburgo é, por isso, lugar a visitar.


O edifício é grande, sem ser esmagador na sua imponência, internamente dominado pela presença de um átrio que comunica, além da entrada e dos elevadores de acesso, a um bar que domina uma mezzanine, com janelas em vidro que asseguram boa iluminação natural a todo o espaço.


O museu é uma casa com um objectivo claro, de resto expresso no próprio site oficial, apresentando-se como uma “arena para a discussão e reflexão na qual muitas e diferentes vozes podem ser escutadas, onde os assuntos controversos ou conflituosos podem ser abordados, assim como é um lugar onde as pessoas se possam sentir em casa, para lá das suas fronteiras”. A convenhamos que a frase é precisa na descrição que faz do museu, da sua linguagem expositiva, das ideias que propõe e lança ao visitante...


Várias exposições estão abertas ao público em simultâneo, a maior parte delas com entrada gratuita. Neste início de ano podíamos visitar, neste museu, Destination X, uma exposição dedicada às viagens, propondo um retrato do que é preparar uma viagem (da escolha do destino à procura de informações sobre o que depois visitar). Dois pisos acima, Kimono Fusion estabelece pontes entre a tradição e a modernidade, com o Japão (e os quimonos) como espaço de reflexão. Mais acima ainda, uma outra exposição ajuda os mais pequenos a imaginar como poderiam descrever o seu mundo se, por acaso, conhecessem um extra-terrestre.