sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Percursos de descoberta


Estava noticiado há já algum tempo que os concertos desta semana da Orquestra Gulbenkian iam ter pela frente um outro maestro que não o inicialmente previsto. Abriu-se assim uma oportunidade para conhecer o jovem Ainars Rubikis, vencedor há cerca de um ano do Concurso de Direcção Gustav Mahler. Natural da Letónia tem somado uma série de compromissos internacionais nos últimos anos e ontem deu provas de ser figura a acompanhar com atenção.

O programa foi dominado pela presença da intrigante (mas decididamente cativante) Sinfonia Nº 15 de Shostakovich, a última do grande compositor russo, um dos maiores sinfonistas do século XX. Estreada em 1972, é uma obra que joga entre os contrastes de dois longos andamentos lentos e dois mais curtos alegrettos, por um lado evocando memórias remotas (o próprio compositor chegou a definir o andamento de abertura como uma loja de brinquedos), por outro citando elementos (como o faz com a abertura de Guilherme Tell, de Rossini), não deixando contudo de reflectir sobre o tempo que passou, terminando mesmo com uma nota de mais luminoso optimismo. Discreto no pódio, Rubikis sublinhou os percursos ora mais feitos de luz ora mais toldados, mais efusivos ou contidos pelos quais caminha a música desta espantosa obra tardia de Shostakovich, revelando à vasta plateia uma noite de compensadora descoberta.

O jovem, natural de Riga, que numa entrevista já revelou que pelo seu iPod tanto mora a música de Rufus Wainwright como a dos Pink Floyd, deixou clara essa visão de horizontes largos ao mostrar igual sensibilidade ora na condução do luminoso ciclo Lider eines fahrenden Gesellen de Mahler (com a presença do barítono Georg Nigl) ou numa inesperada abertura de A Flauta Mágica de Mozart que lançou a noite.