Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.
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Vivemos em plena e esquemática ilusão "libertária": da reality TV aos anúncios de bebidas alcoólicas, são muitos os discursos que nos garantem que o sexo é simples, transparente e eufórico como um concurso de televisão. Não admira que, num universo assim, tão pobre e determinista, a nudez seja tida como a expressão máxima do erotismo. O cinema de Bergman ensina-nos que o erotismo não é um dado que se expõe, mas uma intensidade que circula: quando ele filma a sua sublime Harriet Andersson, tudo se passa como se a água e os seus reflexos, a madeira e o seu calor existissem como uma derivação do corpo, das suas convulsões, das palavras ditas e por dizer (sem esquecer essa mão que, do lado esquerdo do enquadramento, não sabemos se recorda ou antecipa o que a pose de Monika contém). O erotismo contraria a facilidade discursiva de muitas imagens digitais que se esgotam na histeria da funcionalidade técnica. O erotismo, enfim, aproxima-nos do espectro silencioso da morte — no mundo virtual, ninguém lê Georges Bataille.