terça-feira, dezembro 29, 2009

"Avatar" e os outros espaços (5/10)

A INFÂNCIA DE IVAN (URSS, 1962), de Andrei Tarkovski

Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.

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Terá sido por reacção enraizada nas mais primitivas resistências ao cinema como "espectáculo-de-feira" (que o foi, literalmente) que herdámos um outro preconceito valorativo: o de que a beleza da imagem cinematográfica apenas se pode aproximar da pureza da fotografia e, por extensão, da excelência da pintura. Em boa verdade, o cinema está cheio de filmes pesadamente académicos que "imitam" códigos figurativos da pintura. No fotograma, a beleza provém de outros valores, tanto mais que até mesmo o plano mais fixo e mais longo remete para algo que se transfigura perante os nossos olhos, nem que seja a sensação primordial da duração. Neste instante da cena final da primeira longa-metragem de Tarkovski, está expresso o segredo, afinal transparente, desse estado de coisas: não uma fotografia "bonita", não uma evocação "pictórica", mas algo que flui, levando-nos a sentir a diferença infinita dos instantes. Será preciso acrescentar que Tarkovski foi também um mestre da luz como aquilo que nunca se aquieta? Dito de outro modo: a beleza do cinema nasce dos movimentos da luz. Ou ainda: daquilo que a pintura pensou e a fotografia fixou — o cinema pensa através do movimento que recusa fixar-se.