segunda-feira, janeiro 04, 2010

"Avatar" e os outros espaços (6/10)

ALPHAVILLE (França/Itália, 1965), de Jean-Luc Godard

Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.

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A prática do grande plano generalizou-se de acordo com o cliché televisivo: o grande plano seria apenas a ampliação de um fragmento (modelo "ideal": o rosto humano), desse modo sublinhando algum elemento do plano anterior (ou seguinte). Assim é, de facto: de Griffith a Cronenberg, grandes cineastas têm sabido trabalhar a escala da proximidade, por assim dizer multiplicando o efeito de real do filme. Mas o grande plano pode ser também uma forma de baralhar todas as escalas. O isqueiro de Lemmy Caution (Eddie Constantine), em Alphaville, não repete apenas um elemento do plano "geral": autonomiza-o, emprestando-lhe a intensidade de uma conjuntura cósmica. Dito de outro modo: Godard não muda para o grande plano como quem sublinha um elemento anterior, antes trabalha esse elemento de modo a que a sua presença questione todas as coordenadas, reconvertendo a transparência do espaço e a linearidade do tempo. Num ensaio de 1998, Andrew Sarris resumia isso, escrevendo que "Alphaville é ficção científica sem efeitos especiais". Ou ainda: um filme sobre a "imaginação versus lógica".