Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.
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Um dos equívocos pueris do digital decorre da sua capacidade exponencial de proliferação — como um vírus, o digital não reconhece fronteiras figurativas porque menospreza o impossível, isto é, o sagrado. Uma imagem como esta é, agora, muitas vezes olhada como uma proeza mais ou menos pitoresca: para representar os soldados moribundos, ou mortos, na estação de Atlanta, foram mobilizados 800 figurantes (mais outros tantos bonecos), numa celebração da matéria que, na época, simbolizava a própria grandiosidade existencial do espectáculo. O que está em jogo não é uma mera questão de verdade física (que também é); é sobretudo o sentimento, estético e inefável, de que algo aconteceu em frente à câmara. Dir-se-á que, se David O. Selznick (1902-1965) fosse um produtor do século XXI, usaria também o digital para concretizar os seus sonhos — talvez sim, talvez não; em todo o caso, supor que faz sentido pensar a história do cinema através dos filmes que "se poderiam ter feito" é, em si mesmo, uma falácia da era digital.
terça-feira, janeiro 12, 2010
"Avatar" e os outros espaços (8/10)
E TUDO O VENTO LEVOU (EUA, 1939), de Victor Fleming