Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.
A imagem cinematográfica é algo que nos dá a ver alguma coisa — eis o contrato básico. Mas é também uma imagem que nos olha, enquanto a olhamos. Dito de outro modo: a sua figuração não "reproduz" o mundo do lá de cá — intervém nele, questionando a sua estabilidade e coerência. Dreyer filma o carácter insustentável disso tudo, valorizando o poder do olhar da morte, como quem abre uma caixa de Pandora (e o enquadramento da sua imagem parece reproduzir, deslocando, a geometria do próprio caixão). Talvez se possa dizer isto de outro modo: o cinema tende para o lado do sonho, não porque nos faça entrar em mundos "alternativos", mas porque a imagem é, por definição, qualquer coisa de onírico. Nesse sentido, cineastas como Dreyer levam-nos a reconhecer que o realismo não combate a ilusão, apenas apazigua o medo que dela nasce.