terça-feira, janeiro 12, 2010

José Eduardo Moniz, vigilante

De acordo com a crónica semanal que começou a publicar no Diário Económico ('Ataque directo'), José Eduardo Moniz mantém-se vigilante. E nem mesmo o facto de estar "entre viagens, por paragens bem longínquas", o impede de nos esclarecer que o país não está em vias de mudar: "Economia estagnada, desemprego confirmado acima dos 10%, défice a ultrapassar os 9% (de acordo com espíritos tolerantes na análise dos números), endividamento firme em valores comprometedores para o presente e o futuro. Em suma, dados que apontam para um retrato do qual a esperança se afasta, como um bem que nem tão cedo deixará de ser bastante escasso e que, portanto, permanece muito longe dos olhos e, mais ainda, dos corações."
Certamente por modéstia, não menciona o facto de, enquanto director da TVI, se ter empenhado em contrariar esse estado de coisas, no mínimo aquecendo os corações com o conceito "familiar" do canal. Seja como for, o tom é necessariamente apocalíptico: "Paira no ar a noção de que há um intransponível mar de problemas sem solução à vista e que ficará como herança para os nossos filhos e netos."
Uma vez que evoca a responsabilidade da herança que deixamos às novas gerações, aguardamos com natural expectativa e espírito aberto que, com a frontalidade que o caracteriza, José Eduardo Moniz aborde as três chagas da cultura televisiva. A saber:
1 - a representação simplista, moralista e consumista dos mais jovens, nomeadamente nas ficções telenovelescas, sobretudo as que, como Morangos com Açúcar, visam as próprias faixas etárias que colocam em cena.
2 - a degradação da dignidade humana, com a sua sistemática promoção a caução de "espectáculo", nomeadamente nos produtos que, directa ou indirectamente, derivam do modelo do Big Brother (não o de Orwell, mas o da Endemol).
3 - a decomposição profissional e simbólica do jornalismo através de práticas de fulanização que reduzem a vida em sociedade a um grosseiro tiro ao alvo, confundindo a informação com um "tribunal popular".