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Certamente por modéstia, não menciona o facto de, enquanto director da TVI, se ter empenhado em contrariar esse estado de coisas, no mínimo aquecendo os corações com o conceito "familiar" do canal. Seja como for, o tom é necessariamente apocalíptico: "Paira no ar a noção de que há um intransponível mar de problemas sem solução à vista e que ficará como herança para os nossos filhos e netos."
Uma vez que evoca a responsabilidade da herança que deixamos às novas gerações, aguardamos com natural expectativa e espírito aberto que, com a frontalidade que o caracteriza, José Eduardo Moniz aborde as três chagas da cultura televisiva. A saber:
1 - a representação simplista, moralista e consumista dos mais jovens, nomeadamente nas ficções telenovelescas, sobretudo as que, como Morangos com Açúcar, visam as próprias faixas etárias que colocam em cena.
2 - a degradação da dignidade humana, com a sua sistemática promoção a caução de "espectáculo", nomeadamente nos produtos que, directa ou indirectamente, derivam do modelo do Big Brother (não o de Orwell, mas o da Endemol).
3 - a decomposição profissional e simbólica do jornalismo através de práticas de fulanização que reduzem a vida em sociedade a um grosseiro tiro ao alvo, confundindo a informação com um "tribunal popular".