Uma mulher entrevistada na televisão — a certa altura, a evocação de algumas memórias do passado, provoca-lhe lágrimas; o entrevistador, de olhar vazio, tenta sublinhar o dramatismo que julga detectar; enfim, a audiência bate palmas.
Eis um exemplo perfeito — e perfeitamente sinistro — da demagogia audiovisual com que, todos os dias, somos bombardeados. A ponto de se banalizarem os detalhes envolvidos: ela é, afinal, "Ruby", uma jovem (então, menor) com quem Silvio Berlusconi terá tido relações sexuais [notícia e video disponíveis no site de Le Nouvel Observateur].
O mais perverso de todo este aparato decorre de uma ambivalência que tende a contaminar muitas formas contemporâneas de televisão. De facto, a televisão que se assume como "espelho" de todas as desgraças deste mundo e do outro, pode ser também a televisão que mantém o statu quo através da sua exuberante obscenidade "informativa". Como se Berloscuni não permanecesse no poder apesar de episódios como este, já chamado "Rubygate" — na verdade, dir-se-ia que, em certas conjunturas, é através de tais episódios que o poder político se defende, preserva e reproduz.
E porque algum cinema não abdicou de lidar com a complexidade do real, em particular do real televisivo, sugere-se uma revisão atenta de O Caimão [1 + 2 + 3 + 4 + 5].
E porque algum cinema não abdicou de lidar com a complexidade do real, em particular do real televisivo, sugere-se uma revisão atenta de O Caimão [1 + 2 + 3 + 4 + 5].