A paixão pelos actores >>> Para Nanni Moretti, filmar o mundo é
também (apetece dizer: é
sobretudo) atribuir ao actor um lugar decisivo na construção de um qualquer ponto de vista. O actor é, afinal, aquele que dá a cara — e, por assim dizer, empresta o corpo — para que o
factor humano se inscreva nas imagens. Literalmente, o actor é aquele que sabe que está no lugar de
outro. E que assume as responsabilidades decorrentes dessa peculiar representação e representatividade. Não por acaso,
O Caimão é um filma atravessado por uma muito particular
questão de actor. A saber: como representar Silvio Berlusconi? Como representar alguém que se apropriou de tantas formas de representação (televisiva e não só)? Moretti responde, antes de tudo o mais, através de um intenso fascínio pela
matéria. No limite, ele responde que, para lidar com Berlusconi, é preciso lidar com muitas formas de representação —
incluindo a televisão. E muitos objectos para o representar —
incluindo o seu (de Moretti) próprio corpo. Não há cinema menos panfletário e mais visceralmente político.