Mesmo aqueles que não se revêem no dispositivo de abordagem da política de Marcelo Rebelo de Sousa (entre os quais me incluo), não terão dificuldade em reconhecer-lhe o valor de uma desassombrada frontalidade. Exemplo cristalino dessa postura são as suas declarações sobre o “pouco conteúdo e muita e má forma” da campanha para as eleições presidenciais [notícia no Público].
Podemos, naturalmente, discutir esta formulação dicotómica "forma/conteúdo" e o modo como tende a esvaziar a dinâmica interna e os efeitos simbólicos de qualquer estratégia de comunicação. Em todo o caso, Marcelo Rebelo de Sousa toca numa ferida — política e social — muito funda, quando menciona, com evidente desencanto, o cansaço dos eleitores.
Daí o duplo desafio implícito que podemos, desde já, formular: em primeiro lugar, importa valorizar alguma disponibilidade para discutir os mecanismos de abordagem da política, nomeadamente aqueles que dominam os circuitos televisivos; depois, é preciso voltar a lembrar que se tornou quase tabu referir (muito menos reflectir sobre) o peso imenso dos abstencionistas nos mais recentes actos eleitorais.
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