quarta-feira, março 30, 2011

7 ideias para a classe política (5)

ERWIN OLAF
Paradise Portraits - Jan (2001-2002)
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5. Lidar com o dinheiro sem demagogia.
Recentemente, na sequência de algumas "transferências" entre televisões, foram publicamente divulgados os valores de alguns dos mais elevados ordenados auferidos por jornalistas portugueses. Na prática, qualquer cidadão minimamente atento percebeu o que, em boa verdade, toda a gente sabia: os discursos moralistas em relação aos ordenados dos outros são apenas gratuitos — por exemplo, o primeiro-ministro de Portugal (seja ele José Sócrates ou o mais infeliz Zé da Esquina) ganha francamente menos que esses jornalistas.
Infelizmente, de acordo com os nossos pesados brandos costumes, faltou dizer o mais básico: que não são os jornalistas que estão a ganhar excessivamente, mas sim os políticos que, de um modo geral, são muito mal pagos. Falta, por isso, à classe política a coragem básica de defender o seu estatuto, a começar pelo seu estatuto económico. O seu silêncio deixa espaço a todas as formas de estupidez demagógica, incluindo aquela, muito cor-de-rosa, que tenta difamar o político A ou B em função das férias que passa ou dos restaurantes que frequenta.
Para quando uma classe política que comece por elevar a fasquia da ética económica? E pergunte, por exemplo: que sentido fez gastar 645 milhões de euros em dez estádios para o Euro-2004? Seria um salutar princípio.
Depois, poderíamos começar a pensar em coisas mais objectivas. Exemplo?... O difamado cinema português. Sendo certo que é possível, é mesmo razoável, fazer um filme com 645 mil euros, isso significa que esse dinheiro do Euro-2004 permitiria produzir um milhar de filmes portugueses. Na prática, à média de dez longas-metragens por ano, qualquer coisa como... o próximo século. Dez estádios de futebol ou cem anos de cinema?  — eis um sugestivo debate político.