 |
| CINDY SHERMAN Untitled Film Still #5, 1977 |
2. Pensar a televisão.
Curioso masoquismo: todos os dias, as mais diversas figuras políticas, de todos os quadrantes, são mal tratadas pela formatação televisiva: entrevistadores que exigem respostas "sim/não", repórteres que fazem perguntas por mera provocação, resumos (ditos "rodapés" das notícias) que desqualificam tudo o que foi dito... E não reagem, nada dizem, suportam a vulgaridade televisiva como se fosse um sacrifício imposto pela democracia. De facto, não é. É mesmo um conjunto de formas e fórmulas que reduzem o jogo democrático a um grosseiro maniqueísmo de claques, todos os dias transformando a política numa exuberante pornografia ideológica. Quando é que, para além das poucas e honrosas excepções, os políticos terão a coragem de dizer, sem demonizar nada nem ninguém, que um espaço televisivo dominado por tais valores é uma fábrica de infantilismo sem qualquer sentido de solidariedade? Quando a lucidez elementar de descrever a soberba televisiva como o oposto da responsabilidade social?