PIERRE BONNARD A Sobremesa, 1940 |
3. Reconhecer que a arte existe.
Quase todos os políticos são muito rápidos a dar os parabéns a Manoel de Oliveira quando ganha um prémio no estrangeiro. Em boa verdade, nenhum se pronunciou quando era "moda" insultá-lo e difamar a sua obra (e tiveram algumas décadas para o fazer...). Acontece que a maior parte dos políticos vê a arte como um instrumento do seu mundo, não como um gesto que pode discutir a coerência de qualquer mundo. Não se espera que nenhum político venha apresentar uma tese sobre A Rede Social, de David Fincher (mesmo se passou a ser chique citar o Facebook...). Em todo o caso, num país em que (também há várias décadas) a cultura dominante se encena no formato da telenovela, não lhes ficaria mal um esforço no sentido de fazer passar algum discurso construtivo sobre as singularidades e os prazeres da arte. Ser bom português é um pouco mais do que gravar um soundbyte a apoiar a selecção nacional de futebol.