Em 1960, nos EUA, os debates Kennedy/Nixon [foto em cima] abriram um novo espaço político que, não tenhamos dúvidas, transfigurou a política e... a televisão. Cerca de quinze anos mais tarde, tivemos um lendário capítulo português desse processo: o confronto Soares/Cunhal [em baixo], na RTP1.
Escusado será dizer que nada nesta história — em que continuamos a viver — é linear, muito menos redutível a "símbolos" universais e inamovíveis. Em todo o caso, a sua simples existência — e o facto de existirmos no seu interior — confere continuada pertinência a uma interrogação dirigida à classe política: porque é que a esmagadora maioria dos seus membros nunca exprime nenhum ponto de vista sobre a televisão enquanto espaço eminentemente social?
Há uma resposta muito directa a tal pergunta: os políticos não querem lançar quaisquer dúvidas sobre aquele que se tornou, afinal, o palco central da sua actividade, expressão e, hélas!, poder. Dito de outro modo: a política contemporânea é predominantemente televisiva, mas quase todos os seus actores recusam reflectir sobre as componentes específicas do seu trabalho e, de modo muito particular, sobre as características dominantes das suas relações com os eleitores.