Quase todos os formatos televisivos são poten-cialmente interessantes. A televisão é também uma linguagem sempre em aberto. Mas, por vezes, o formato enreda-se na celebração da sua própria retórica — aí, nasce um cliché.
[O debate] [O inquérito] [O repórter] [O jovem repórter]
Do mesmo modo que o conceito dominante de debate favorece a acumulação arbitrária, tendencialmente confusa, de discursos mais ou menos gritados, os modelos correntes de entrevista são estruturados para anular o entrevistado. No sentido mais "vingativo": é mesmo tido como grande proeza televisiva apontar contradições — ou até meras diferenças gramaticais de enunciação — no discurso do entrevistado.
Nada disso tem a ver com qualquer tipo de contundência jornalística, por certo legítima, ou com a simples e salutar vontade de escutar & conhecer. Em muitos casos, o entrevistador entende o outro como alguém cuja incoerência importa expor, porventura denunciar, na televisão — num certo sentido, se ele é escolhido para estar ali, isso significa mesmo que é potencialmente incoerente (em certos casos, perpassa um subtexto de "tribunal popular").
[O debate] [O inquérito] [O repórter] [O jovem repórter]
Do mesmo modo que o conceito dominante de debate favorece a acumulação arbitrária, tendencialmente confusa, de discursos mais ou menos gritados, os modelos correntes de entrevista são estruturados para anular o entrevistado. No sentido mais "vingativo": é mesmo tido como grande proeza televisiva apontar contradições — ou até meras diferenças gramaticais de enunciação — no discurso do entrevistado.
Nada disso tem a ver com qualquer tipo de contundência jornalística, por certo legítima, ou com a simples e salutar vontade de escutar & conhecer. Em muitos casos, o entrevistador entende o outro como alguém cuja incoerência importa expor, porventura denunciar, na televisão — num certo sentido, se ele é escolhido para estar ali, isso significa mesmo que é potencialmente incoerente (em certos casos, perpassa um subtexto de "tribunal popular").
Daí que, sobretudo para os políticos, se tenha tornado "perigoso" manter em televisão um discurso aberto à hesitação, à dúvida ou à especulação. Muitos deles, pela sua atitude, legitimam e apliam este estado de coisas: aceitando o simplismo discursivo a que são induzidos, especializaram-se mesmo em falar com o mínimo de sobressaltos, repisando meia dúzia de ideias mecânicas, sem qualquer operacionalidade real, mas com reconhecida "fluência" mediática.
Insolitamente, a preocupação de fazer cair o outro em contradição desfaz-se quase sempre quando o entrevistado é do mundo do futebol, sobretudo quando se trata de um jogador — nesse caso, o entrevistado pode mesmo gastar o seu tempo fechado num discurso demagógico sobre o "trabalho" e o "sofrimento", que não haverá da parte do entrevistador outra coisa que não seja uma contemplação mais ou menos embevecida.