Rudo e Cursi é uma história do futebol sem Cristiano Ronaldo. Dito de outro modo: uma comédia mexicana, com um olhar cru e amargo sobre a exploração a que são sujeitos dois irmãos vindos de um meio muito pobre — este texto foi publicado no Diário de Notícias (13 de Junho), com o título 'Futebol em comédia, quase tragédia'.
Beto (Diego Luna) e Tato (Gael García Bernal) são dois irmãos mexicanos que trabalham na apanha de bananas. Subitamente, a sua existência miserável é alterada pelo aparecimento de “Batuta” (Guillermo Francella), um empresário de futebol de estatura moral ligeiramente duvidosa, mas que lhes oferece um destino radioso na Cidade do México... Beto, como guarda-redes, vai passar a ser conhecido como “Rudo”, devido à rudeza das suas entradas sobre os adversários; Tato será “Cursi” (campónio), já que o sonho de triunfar no campo musical fazem com que seja considerado um eterno nostálgico das suas origens. A sua experiência vai desenvolver-se como uma fábula exemplar sobre os mais pobres e os sonhos de riqueza.
Dirigido por Carlos Cuarón, Rudo e Cursi teve produção de nada mais nada menos que três cineastas mexicanos: Alfonso Cuarón (irmão do realizador), Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro. Não admira que esteja a emergir nos mercados internacionais como um caso exemplar do sentido crítico do mais popular cinema do México. De facto, se há, aqui, uma imediata eficácia emocional, isso decorre do carácter genuíno das personagens e da acutilância da crónica social.
O tom geral do filme é de comédia. Em todo o caso, à medida que as atribulações dos dois irmãos se enredam num beco sem saída, vai-se instalando um sentimento quase trágico de generalizada crueldade. Temos, aqui um contraponto a todos os discursos fáceis que tendem a descrever o mundo do futebol como uma espécie de utopia automática para os mais jovens (e, sobretudo, para os que, como Beto e Tato, sobrevivem com imensas limitações materiais). A força do filme provém da desencantada generosidade do seu olhar, evitando qualquer “tese” moralista e, afinal, preservando as marcas de um registo de raiz realista.
Não serve de padrão universal, mas quando se discute o que seja um cinema popular, vale a pena dizer que um filme como Rudo e Cursi deixa uma lição muito simples: a de que a dimensão popular nasce, não do marketing, mas da linguagem, quer dizer, da disponibilidade para olhar para as coisas da vida com esta paixão e sinceridade.
Beto (Diego Luna) e Tato (Gael García Bernal) são dois irmãos mexicanos que trabalham na apanha de bananas. Subitamente, a sua existência miserável é alterada pelo aparecimento de “Batuta” (Guillermo Francella), um empresário de futebol de estatura moral ligeiramente duvidosa, mas que lhes oferece um destino radioso na Cidade do México... Beto, como guarda-redes, vai passar a ser conhecido como “Rudo”, devido à rudeza das suas entradas sobre os adversários; Tato será “Cursi” (campónio), já que o sonho de triunfar no campo musical fazem com que seja considerado um eterno nostálgico das suas origens. A sua experiência vai desenvolver-se como uma fábula exemplar sobre os mais pobres e os sonhos de riqueza.
Dirigido por Carlos Cuarón, Rudo e Cursi teve produção de nada mais nada menos que três cineastas mexicanos: Alfonso Cuarón (irmão do realizador), Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro. Não admira que esteja a emergir nos mercados internacionais como um caso exemplar do sentido crítico do mais popular cinema do México. De facto, se há, aqui, uma imediata eficácia emocional, isso decorre do carácter genuíno das personagens e da acutilância da crónica social.
O tom geral do filme é de comédia. Em todo o caso, à medida que as atribulações dos dois irmãos se enredam num beco sem saída, vai-se instalando um sentimento quase trágico de generalizada crueldade. Temos, aqui um contraponto a todos os discursos fáceis que tendem a descrever o mundo do futebol como uma espécie de utopia automática para os mais jovens (e, sobretudo, para os que, como Beto e Tato, sobrevivem com imensas limitações materiais). A força do filme provém da desencantada generosidade do seu olhar, evitando qualquer “tese” moralista e, afinal, preservando as marcas de um registo de raiz realista.
Não serve de padrão universal, mas quando se discute o que seja um cinema popular, vale a pena dizer que um filme como Rudo e Cursi deixa uma lição muito simples: a de que a dimensão popular nasce, não do marketing, mas da linguagem, quer dizer, da disponibilidade para olhar para as coisas da vida com esta paixão e sinceridade.