Um dos triunfos da televisão em democracia (ou da democracia televisiva) é a livre organização de debates. Escusado será insistir sobre o valor comunicacional e a importância simbólica do debate enquanto figura específica da prática televisiva.
Em todo o caso, temos assistido a um desenvolvimento pornográfico da lógica dos debates. Porquê pornográfico? Porque baseado na filosofia simplista segundo a qual a acumulação de protagonistas (como a multiplicação de imagens dos órgãos genitais) é um passaporte automático, único e incontestável para a verdade das questões (ou para a compreensão do prazer sexual).
Assim, fazer um debate, em televisão, transformou-se muitas vezes na criação de uma verdadeira arena de feira onde o que menos conta são as ideias de cada um, promovendo-se antes o ruído, a balbúrdia, eventualmente a insinuação e o insulto como mecanismos "ideais" de produção de verdade. A moderação de um debate tornou-se um valor raro em televisão — entendendo-se por moderar a capacidade (e o gosto) de iluminar diferenças, promovendo a sua coabitação discursiva e a sua coexistência mediática.
Ao favorecer debates que redundam em meras guerrilhas de incidentes mais ou menos escabrosos, as televisões estão a contribuir activamente — será que ingenuamente? — para deseducar gerações e gerações de espectadores, a começar, inevitavelmente, pelos mais novos. É espantoso que a maioria dos actores da cena política nada diga sobre o assunto, limitando-se a participar nesses mesmos debates.
sábado, junho 06, 2009
Clichés televisivos (1): o debate
Quase todos os formatos televisivos são poten-cialmente interessantes. A televisão é também uma linguagem sempre em aberto. Mas, por vezes, o formato enreda-se na celebração da sua própria retórica — aí, nasce um cliché.