[O debate] [O inquérito] [O repórter]
O jovem repórter é, obviamente, uma derivação de todas as componentes que encontramos no repórter. Com essa particula-ridade: a de poder exibir uma mais-valia juvenil. Porquê? Porque a "juventude" funciona, em termos televisivos, como a apoteose da arbitrariedade, tendencialmente da irresponsabilidade. Aliás, se observarmos com atenção, as televisões conseguem mostrar adolescentes ou crianças em contextos muito diversos, mas na esmagadora maioria das situações reduzindo-os a um grupo mais ou menos ululante, especializado em gritar para a câmara.
Naturalmente (registe-se a ironia do advérbio de modo: a televisão é, por excelência, o lugar onde não há natureza, porque tudo é encenação), o jovem repórter tem a seu "favor" o facto de ser... jovem. Dito de outro modo: pode permitir-se ser vago, irónico, insolente ou apenas pateticamente ignorante... porque a juventude funciona como um factor automático (?) de des-responsabilização.
Para que isto aconteça, foi preciso fazer nascer uma geração de repórteres que, além da sua condição juvenil, se distinguem pelo vazio jornalístico e deontológico da sua formação. De facto, são incautos guerreiros lançados para o campo de batalha com um microfone na mão e a preocupação de se mostrarem "à vontade" face a uma câmara. Na maior parte dos casos, nunca foram ensinados a pensar o que significa apropriar-se de uma realidade através de imagens e sons, ainda menos que significações pode arrastar o facto de se construir, in loco, um discurso sobre essa mesma realidade. Não admira que tenham como valor fundamental o falar muito depressa, sem gaguejar — em televisão, a velocidade do débito oral é entendida como um factor de transparência e uma caução de verdade.