Quase todos os formatos televisivos são poten-cialmente interessantes. A televisão é também uma linguagem sempre em aberto. Mas, por vezes, o formato enreda-se na celebração da sua própria retórica — aí, nasce um cliché.
[O debate]
"Vamos saber o que pensam os portugueses..." — quase sempre, esta frase significa que, na sequência de uma notícia cujo conteúdo é suposto ter alguma importância, se vai passar para uma reportagem (?) de rua, na maioria das vezes algures num recanto do Rossio ou Terreiro do Paço, em Lisboa, acidentalmente na Avenida dos Aliados, no Porto.
Que acontece, então? Quatro ou cinco pessoas — sublinho e insisto: quatro ou cinco pessoas — são questionadas sobre um determinado tema, não poucas vezes induzidas a responder por adjectivos isolados ("bom/mau", "simpático/antipático", etc., etc.), para depois se regressar ao apresentador de telejornal que sorri, satisfeito, com tão eloquente "imagem do país".
Seria assunto do mais banal anedotário mediático. Mas não: as televisões, as mesmas televisões que investem dinheiro em sondagens científicas (por vezes, acabando por reconhecer que a sua "cientificidade" falhou...) oferecem-nos alguns encontros imediatos do primeiro grau com incautos cidadãos que iam ali a passar e... assim pensam os portugueses.
Que aconteceu para que o quotidiano tenha sido reduzido a esta irrisão mais ou menos pitoresca? E que efeito se produz nos espectadores quando se difundem estes grosseiros "inquéritos" de rua? Como é que as próprias televisões avaliam os mecanismos de responsabilidade que envolvem a identificação, o retrato e a valoração de um povo?
[O debate]
"Vamos saber o que pensam os portugueses..." — quase sempre, esta frase significa que, na sequência de uma notícia cujo conteúdo é suposto ter alguma importância, se vai passar para uma reportagem (?) de rua, na maioria das vezes algures num recanto do Rossio ou Terreiro do Paço, em Lisboa, acidentalmente na Avenida dos Aliados, no Porto.
Que acontece, então? Quatro ou cinco pessoas — sublinho e insisto: quatro ou cinco pessoas — são questionadas sobre um determinado tema, não poucas vezes induzidas a responder por adjectivos isolados ("bom/mau", "simpático/antipático", etc., etc.), para depois se regressar ao apresentador de telejornal que sorri, satisfeito, com tão eloquente "imagem do país".
Seria assunto do mais banal anedotário mediático. Mas não: as televisões, as mesmas televisões que investem dinheiro em sondagens científicas (por vezes, acabando por reconhecer que a sua "cientificidade" falhou...) oferecem-nos alguns encontros imediatos do primeiro grau com incautos cidadãos que iam ali a passar e... assim pensam os portugueses.
Que aconteceu para que o quotidiano tenha sido reduzido a esta irrisão mais ou menos pitoresca? E que efeito se produz nos espectadores quando se difundem estes grosseiros "inquéritos" de rua? Como é que as próprias televisões avaliam os mecanismos de responsabilidade que envolvem a identificação, o retrato e a valoração de um povo?