quarta-feira, setembro 03, 2008

Violência dos blogs (9)

CHRISTOPHER LEE
Charlie e a Fábrica de Chocolate (2005), de Tim Burton


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A nossa boa consciência liberal leva-nos a dizer que os blogs abertos — isto é, em que os visitantes podem deixar automatica-mente os seus comentários — são uma forma de democratização, logo uma contribuição positiva para a circulação de ideias. Na verdade, talvez tenha chegado o tempo de nos confrontarmos com a realidade dos factos (mesmo virtuais), reconhecendo que, na esmagadora maioria dos casos, tal abertura só tem servido para favorecer a marginalização de todas as formas de inteligência, com toda a consequente promoção da indigência argumentativa, da miséria intelectual e da mediocridade moral.
Isto porque, com os blogs abertos, surgiu um novo tipo de "democrata". É aquele que lança no espaço do outro — porque, de facto, estamos a falar de um espaço que alguém lhe abriu — as palavras mais torpes e agressivas, se for preciso chamando ao autor do blog um "monte de esterco" (hipótese muito branda, aliás), para depois lhe lançar esse grande exemplo de "sensibilidade democráti-ca": "Vá lá, agora responde se és capaz!" (desgraçadamente, alguns autores respondem, multiplicando o negrume de tudo isto).
Mais uma vez, insisto, todas as descrições pecam por defeito. A questão é: como ignorar que, a coberto da santíssima defesa da "democracia", estão a proliferar pequenas mentes ditatoriais que perderam o mais simples — e mais lúdico — prazer de pensar?
Em tal espaço de (falta de) ideias, ignora-se que o exercício de qualquer direito envolve uma imensa responsabilidade, individual e colectiva, em relação aos outros e em relação a nós próprios. Mais do que comunicacional, este drama que todos os dias se agudiza é eminentemente existencial, logo visceralmente filosófico e político — assistimos, impotentes, ao triunfo de um prazer sem ideias e sem corpo, alheio à carnalidade do mundo, assustadoramente virtual.