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quinta-feira, junho 28, 2007

"Eu, Michael Moore"

Pode gostar-se ou não, mas Michael Moore não engana ninguém: não faz documentários "objectivos", mas sim verdadeiros panfletos cinematográficos em que o assumir da primeira pessoa é elemento vital da estratégia de encenação & reportagem. O seu filme sobre o sistema de saúde nos EUA — Sicko — está a chegar às salas do seu país e tem, além do mais, um cartaz que é uma bela proeza formal e de marketing.
Depois da sua passagem em Cannes, depois de uma divulgação agitada e polémica, Sicko estreia amanhã (dia 29) em 441 salas americanas (francamente menos que o anterior filme de Moore, Fahrenheit 9/11, que ultrapassou as 2 mil salas). O seu trailer é uma peça elucidativa da estratégia narrativa de Moore. Quanto ao mercado português, Sicko, para já, não consta de nenhuma lista dos distribuidorers portugueses.

domingo, maio 20, 2007

Postal de Cannes, 19 de Maio de 2007

Michael Moore não é, evidentemente, uma personagem pacífica. E bastará recordar todas as ondas de choque geradas pelo seu Fahrenheit 9/11, curiosamente, desencadeadas em Cannes, com a conquista da Palma de Ouro de 2004. Ao reaparecer com Sicko (fora de competição), o mínimo que se pode dizer é que Moore se mantém fiel a si próprio. Ou seja: podemos discutir infinitamente a sua visão (profundamente negativa) do sistema de saúde dos EUA, duvidando até de alguns momentos em que o seu tom naïf parece mais fabricado que sincero. Em todo o caso, na sua lógica documental e, mais especificamente, de reportagem, Sicko funciona também como uma critica implícita às muitas imposturas televisivas que se encenam como uma reposição automática da “verdade”. Ora, Moore é um cineasta que diz que a verdade é sempre construída – sobretudo porque se trata, claramente, da sua verdade, exposta na primeira pessoa e sustentada por uma elaborada teia de entrevistas e documentação de arquivo.
Quem volta também a propor um trabalho eminentemente pessoal é a actriz Valeria Bruni Tedeschi (que se estreou na realização, em 2003, com É Mais Fácil um Camelo…). Desta vez, ela filma actores e actrizes no turbilhão do seu trabalho, por assim dizer divididos entre o “teatro” e a “vida”. O filme [na foto] chama-se Actrices, o que é, talvez, uma descrição algo parcelar da matéria humana que o habita. Mas… porque não? Afinal de contas, no centro de tudo está a fascinante personagem de Marcelline (a própria Valeria), uma actriz com uma vocação trágica que perpassa nas suas composições, mas que se transfere, por vezes de modo selvagem, para o espaço da sua intimidade. Mathieu Amalric e Chiara Mastroianni são alguns dos cúmplices desta aventura entre teatro e cinema.
Um registo importante: o filme israelita na competição - Tehilim, de Raphaël Nadjari - pode ser uma pedagógica porta de entrada no imaginário familiar e religioso de Israel, através da história de uma família dilacerada pelo insólito desaparecimento do seu chefe. É, por isso, um objecto que cumpre uma preciosa função: a de nos confrontar com aquilo (e aqueles) que não conhecemos, sobretudo arrancando-os à ditadura do cliché televisivo.

quarta-feira, julho 25, 2007

5º Doc Lisboa em Outubro

A quinta edição do Doc Lisboa foi oficialmente apresentada na semana passada. Decorre de 18 a 28 de Outubro e uma das novidades corresponde a uma maior rede de salas ao serviço do festival, que este ano se alarga da Culturgest ao Cinema São Jorge e Cinema Londres. Outra das novidades é o programa Maratonadoc, mostra ininterrupta dos 15 filmes preferidos dos comissários, a mostrar no último dia do certame. A informação já disponível pode ser consultada no site oficial do festival. Destaque, para já, para dois filmes que já deram que falar: Sicko de Michael Moore e When The Levees Broke: A Requiem In Four Acts, de Spike Lee (na foto), este sobre a cidade de New Orleans depois do Katrina.

sábado, junho 30, 2007

Veludo 1967

Título: Uma Jovem Hippie, 1967. Esta é uma imagem do lendário "Verão do Amor", há 40 anos. Segundo o seu autor, Baron Wolman, a fotografia resume toda uma época: "Esta é a minha metáfora visual sobre o que foi o Verão do Amor. Ela está descalça, usa um vestido de veludo e tem uma vela. Mas tem aquela pequena bandeira americana. Tudo isso junto, para mim, condensa o sonho que eles trouxeram a São Francisco, no Verão do Amor."
Baron Wolman, um dos fotógrafos de referência na história da Rolling Stone é entrevistado na mais recente edição da revista. Para além das suas memórias, propõe-nos a (re)descoberta de 18 das suas fotografias de finais da década de 60. Outros temas desta edição: um ensaio de Sean Wilentz sobre "A herança de 1967", uma entrevista com Michael Moore, a propósito do filme Sicko, e um relato sobre o embaraçoso momento em que Larry King, ao entrevistar em directo Paul McCartney e Ringo Starr, se dirigiu a Ringo chamando-o... George.

sábado, junho 18, 2016

A demagogia de Michael Moore (1/2)

De que falamos quando falamos dos EUA? Michael Moore propõe uma visão "europeizada" que, mesmo na sua dimensão mais demagógica, vale a pena discutir — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Junho), com o título 'E se a América fosse culpada de todos os males do mundo?'.

Michael Moore cultiva um bizarro amor pelo seu país: por um lado, gosta de lembrar que os fundamentos da democracia e da tolerância estão inscritos nas páginas mais gloriosas da história dos EUA; por outro lado, parece acreditar que todos os males deste mundo se podem explicar, não apenas através dos suspeitos do costume (Richard Nixon, Ronald Reagan, George W. Bush, etc.), mas por acções políticas e militares de entidades americanas. Vendo o seu novo filme, E Agora Invadimos o Quê?, dir-se-ia que podemos pensar em tudo o que vai mal no planeta Terra, das guerras às atribulações da segurança social, concluindo com uma exuberante palavra de ordem: “A culpa é dos americanos!”
Depois de títulos como Fahrenheit 9/11 (2004), questionando a ressaca política do 11 de Setembro, ou Sicko (2007), sobre os desequilíbrios do sistema de saúde americano, estamos, agora, perante um filme assumidamente político que se apresenta como um documentário temperado por um desconcertante sentido de humor.
Tudo começa com a definição dos EUA como “o país que invade outros países” (Coreia, Vietname, Afeganistão, etc.). A partir daí, Moore resume tudo o que aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial (cujas “invasões”, curiosamente, não são citadas) em dois vertiginosos minutos de abertura para, logo a seguir, propor o programa de trabalho que está condensado no título do seu filme: porque não “continuar” as invasões, agora “ocupando” outros países?
Com que objectivo? Inventariar o que, no plano social e laboral, funciona bem nesses países, de modo a “exportar” os seus métodos e valores para os EUA. Quem vai protagonizar essa missão redentora? Um “repórter” angelical munido de uma bandeira americana, quer dizer, o próprio Michael Moore.

Em Portugal, com a CGTP

O realizador visita a Itália e depara com uma elaborada protecção dos direitos dos trabalhadores, desde as férias pagas até às licenças de maternidade; em França, fica maravilhado com a qualidade das refeições servidas na cantina de uma escola e também com a transparência das aulas de educação sexual; passa por Portugal, canta a Internacional num comício da CGTP no 1º de Maio e mostra toda a sua admiração por um sistema de combate às drogas que deixou de penalizar os consumidores; enfim, na Islândia, além de uma entrevista com Vigdís Finnbogadóttir, primeira mulher do mundo a ser eleita como presidente de um país, celebra a muito significativa percentagem de figuras femininas nas instâncias políticas e económicas do país.
Não é fácil seguirmos a lógica de raciocínio de Michael Moore. A abordagem da Islândia é significativa: será que o facto de o país se distinguir por uma tão invulgar (e meritória) igualdade de oportunidades entre homens e mulheres justifica que se conclua que o próximo passo para o Paraíso seria a entrega da gestão do nosso destino... apenas a mulheres?
A pergunta não pode deixar de envolver alguma irónica distanciação, mas convenhamos que quem convoca a arma da ironia é o próprio Michael Moore. Dir-se-ia que ele passou uma fronteira que torna o seu trabalho (cinematográfico) cada vez mais discutível. A comparação com filmes anteriores pode ser elucidativa — e até pedagógica.
Em Fahrenheit 9/11, por exemplo, mesmo que pudéssemos não concordar com a sua leitura dos factos, colocava-se na posição do documentarista que recusa a ilusão muito televisiva da transparência: a sua câmara via e ouvia, observava e perscrutava, e o resultado possuía as virtudes de uma visão que se assumia por inteiro na sua irredutibilidade (“eu vejo assim o mundo”). Agora, em E Agora Invadimos o Quê?, prevalece a facilidade de um estilo televisivo de “apanhados”, por vezes próximo da abjecção documental (por exemplo, quando Michael Moore finge “corromper” as crianças com que almoça na escola francesa, oferecendo-lhes... Coca Cola!).
Seja como for, não deitemos fora o bebé com a água do banho — para além do ruído dos super-heróis, típicos do nosso Verão cinematográfico, Michael Moore é, pelo menos, alguém que nos fala de gente viva e problemas reais.

>>> Site oficial de Michael Moore.

quinta-feira, outubro 18, 2007

DocLisboa começa hoje

Começa hoje a edição 2007 do DocLisboa que, além da Culturgest, toma este ano também os espaços do Cinema São Jorge e Londres. Programação muito política com alguns filmes imperdíveis, da qual vamos tentar dar conta aqui, regularmente. Já se sabia que pelo Doc passaria, em primeira mão, Sicko de Michael Moore ou When The Levees Broke: A Requiem in Four Acts, de Spike Lee (sobre o Katrina e New Orleans). Atenção contudo para Zidane, un Portrait du 21ème Siècle, de Douglas Gordon e Philippe Parreno (passa dia 25), Compilation, 12 Instants D’Amour Non Partagé, de Frank Beauvais (passa dia 21 e foi um dos “casos” mais elogiados este ano em Vila do Conde) ou a “maratona” Andy Wahrol: a Documentary Film, de Ric Burns (dia 28). Hoje a abertura faz-se com Taxi To The Dark Side (na foto), de Alex Gibney (Culturgest, 19.00), que parte da notícia da morte de um taxista afegão para depois descobrir as suas causas. A autópsia revelou que tinha sido pendurado ao tecto pelas mãos e pontapeado até à morte... Um documentário sobre o que o governo americano actual designa por “técnicas de interrogação de suspeitos”. Será tortura? Restante programação aqui.

quinta-feira, maio 24, 2007

Postal de Cannes, 23 de Maio de 2007

Dá que pensar…
É impressão minha ou chegámos à era dos “filmes-anti-depressivos”, tão suaves e tão equívocos como a filosofia (!) médica (?) que confunde a complexidade da vida interior de cada pessoa com a quantidade, maior ou menor, de pílulas que essa pessoa anda a engolir?...
Não me interpretem mal: Cannes está a ser magnífico, com filmes assombrosos – que pena que o Paranoid Park, de Gus Van Sant, tenda a ser olhado “apenas” como o Elephant 2 –, alguns deles quase descobertas absolutas, como o coreano Secret Sunshine [foto aqui ao lado], de Lee Chang-Dong (um belo estudo sobre uma mulher cujas tragédias familiares a conduzem ao envolvimento com os valores de uma “religiosidade” normativa e castradora).
Mas Cannes está a ser também o festival desse novo tipo de filmes que se fundamentam num programa estratégico – simultaneamente narrativo e ético – que os faz funcionar como uma espécie de obrigatórios objectos “terapêuticos”.
Caso exemplar entre todos: A Mighty Heart [foto em cima], uma revisão do caso de Daniel Pearl, jornalista do Wall Street Journal (chefe da respectiva delegação asiática), raptado e assassinado em 2002. A Mighty Heart centra-se no drama da mulher de Daniel, Mariane Pearl, baseando-se, aliás, no seu livro de memórias. Angelina Jolie interpreta a personagem num filme em cuja produção está envolvido o seu marido, Brad Pitt. A realização pertence a Michael Winterbottom.
O envolvimento de Brad Pitt e Angelina Jolie com este projecto decorre do seu empenho em defender causas humanitárias e, em particular, em denunciar o terrorismo, procurando criar condições políticas e psicológicas para o seu progressivo desmantelamento. É uma atitude que só me suscita admiração e respeito (e espero que se entenda que esta é uma afirmação em que não coloco nenhuma ironia ou ambiguidade).
Em todo o caso, há qualquer coisa de “compulsivo” no facto de vermos, em Cannes, na conferência de imprensa de A Mighty Heart, Brad Pitt, Angelina Jolie e, como uma espécie de irrecusável caução, a própria Mariane Pearl. Dir-se-ia que já não há espaço para um filme existir já que, em última instância, o próprio filme é apenas o elo mais fraco (porque “ilustrativo”) deste dispositivo de ritualização moral da história do nosso presente. Trata-se tão só de garantir ao espectador que o seu empenhamento o coloca necessariamente do lado bom. Resultado? Certamente alguma atenção mediática para os factos evocados, as suas implicações políticas e a sua gravidade moral. Mas também a redução do espaço social do cinema (e da própria discussão de ideias) a uma “catequese” colectiva onde apenas conta o simbolismo, concreto mas equívoco, de participarmos numa gigantesca cerimónia de suposta purificação.
O mesmo se poderá dizer de alguns outros títulos já passados em Cannes: Sicko, de Michael Moore [foto neste parágrafo], embora neste caso a assunção de um discurso na primeira pessoa, para mais em tom assumidamente panfletário, favoreça um genuíno confronto de pontos de vista; Import Export, de Ulrich Seidl, sobre os marginais sociais da Europa, nomeadamente na Áustria e na Ucrânia; ou ainda Persepolis, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, baseado na BD de Satrapi e centrado na sua experiência, por vezes dramática, de cidadã iraniana dentro e fora do seu país.
São, todos eles, filmes eminentemente televisivos – e no sentido mais esquemático de tal “inspiração”: alimentam a ilusão de que é possível colocarmo-nos numa espécie de “exterior” da história colectiva a partir do qual tudo se tornaria transparente e, no final de tudo, redentor.
… Ou como a boa vontade dos filmes pode favorecer a infantilização dos espectadores.
(À suivre).

terça-feira, julho 10, 2007

Michael Moore na CNN

De um lado Michael Moore e o seu filme Sicko (recentemente lançado nos EUA). Do outro, Wolf Blitzer, isto é, a CNN. Ou melhor, Michael Moore esteve em directo na CNN (9 de Julho) e o mínimo que se pode dizer é que não utilizou a televisão para "promover" o seu filme, antes para desafiar o próprio dispositivo mediático em que o seu discurso se insere e, em particular, para denunciar aquilo que ele considera as "mentiras" da CNN aos americanos, nomeadamente sobre a entrada dos EUA na guerra no Iraque. Por uma vez, a lógica dominante do pró & contra televisivo excede as suas fronteiras académicas, revelando o que todos sabem e muitos ocultam (e que, aliás, o próprio Moore sublinha): não é possível falar, pensar e compreender o mundo através da mera acumulação de soundbytes.
São 10 minutos que vale a pena ver. E escutar.