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Será que o filme A Rede Social (2010), sobre a fundação do Facebook, vai ter uma sequela? Quem adianta tal hipótese é o seu argumentista, Aaron Sorkin — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 Janeiro).
Estas linhas servem, sobretudo, para fazer eco de uma notícia veiculada por Aaron Sorkin. Em declarações recentes (reproduzidas por The Hollywood Reporter), o argumentista “oscarizado” pelo seu trabalho em A Rede Social (2010), de David Fincher, veio dizer que poderá haver condições para uma sequela: o tema do filme — a fundação do Facebook por Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) — pode ser retomado tendo em conta o que aconteceu em anos recentes, nomeadamente o escândalo de partilha de dados com a Cambridge Analytica.
Sorkin estreou-se, entretanto, como realizador com o admirável Molly’s Game/Jogo da Alta Roda (2017). Seja como for, não especulou sobre quem poderá dirigir o novo projecto. Em boa verdade, o único nome que citou foi o do produtor de A Rede Social, Scott Rudin, que já lhe enviou vários emails perguntando se “não será altura de uma sequela?”.
A notícia é tanto mais interessante quanto nos leva a (re)valorizar, não apenas a excelência cinematográfica de A Rede Social, mas o seu premonitório sentido crítico. O filme mostrava de forma muito clara que o conceito de “social” da rede criada por Zuckerberg decorria, acima de tudo, da conjugação de determinadas potencialidades tecnológicas (multiplicar ad infinitum os links virtuais) com um apurado sentido de negócio.
O que está em jogo, repare-se, não pode ser reduzido a um qualquer maniqueísmo entre o “bom” e o “mau” Facebook. Trata-se, isso sim, de (re)lançar no espaço mediático uma reflexão que alguns elementos do meio jornalístico nem sempre se têm mostrado disponíveis para fazer. A saber: importa resistir à apropriação da palavra “social” pelos circuitos em rede, perguntando que sociedade estamos a construir quando aceitamos que todas as relações humanas podem ser codificadas, organizadas e, no limite, geridas por máquinas como a que Zuckerberg criou.
Não há, de facto, muitos sinais de disponibilidade para tal reflexão — uma excepção recente foram as palavras pedagógicas e contundentes de Clara Ferreira Alves no programa O Eixo do Mal (SIC Notícias — a partir dos 29m 15s). Acima de tudo, importa superar o lirismo virtual que, na altura do lançamento de A Rede Social, circulava quase sem entraves. Desde logo, por parte do próprio Zuckerberg que considerou o filme de Fincher um objecto recheado de “invenções” e, por isso, “ofensivo”. E acima de tudo através desse discurso vago, mas muito poderoso, segundo o qual se estava a dramatizar desnecessariamente uma invenção (o Facebook) que teria doado à humanidade uma nova era de transparência cognitiva, porventura de redenção moral.
Será tempo, enfim, de ver e pensar o cinema de Hollywood para além do barulho do marketing em torno das aventuras de super-heróis com chancela Marvel ou DC Comics. Filmes como A Rede Social são notáveis objectos políticos — não porque se colem a qualquer força política (longe disso!), mas porque nos ajudam a pensar o mundo à nossa volta.