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Muitas imagens de Madonna são imagens, não apenas de prazer, mas sobre o prazer. Na gíria mediática, isso diz-se da maneira mais simplista, falando de erotismo na melhor das hipóteses, muitas vezes apenas inventariando as "provocações" por ela encenadas ou que lhe são atribuídas. Quase sempre se omite o outro rosto do prazer, isto é, o medo, essa força visceral que nos confronta também com o indizível da morte — quando fez o livro Sex (1992), Madonna agradeceu mesmo ao seu fotógrafo, Steven Meisel, por ele a ter ajudado a "lidar com o medo".
Esta imagem de uma Madonna a abastecer o seu corpo é digna do ícone de que se apropria — afinal de contas, ela é também uma artista do desgaste e da quietude que o prazer pressupõe, mesmo se aquilo que a interessa é sempre, em última instância, a maneira de o dizer, a terrível verbalização do medo (express yourself).
Na sua ambivalência de cyborg, apenas lhe falta a dimensão do riso, essa dimensão inerente aos corpos que já integraram o património do sofrimento, do êxtase ou apenas o silêncio em que tudo isso ecoa. Que riso? Por exemplo, aquele com que termina o teledisco de Justify My Love (1990), com Madonna a sair de campo em franca gargalhada, enquanto no ecrã se descreve a pobreza de alguém cujo prazer "depende da permissão de outro". E como diria o outro, em descrever há escrever.
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