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Curiosamente, o novo corpo cibernético funciona ainda a partir de um pressuposto antigo de desnudamento. Como se pode verificar por esta Kate Moss que se despe, algo das imagens — ou do modo como as olhamos — anseia por conservar essa ansiedade primitiva, utopicamente libertadora, que ligamos à exposição da pele. Mais do que isso: à candura de a expor, aceitando o olhar do outro.
Mas que acontece quando a pele já não é a derradeira barreira deste striptease existencial? De que falamos — ou que contemplamos — quando o corpo se transfigurou em máquina, a ponto de o mais secreto das suas vísceras ter dado lugar à frieza sedutora do metal? Entramos, assim, no território de um novo sistema de pudor. Já não se trata de, pela moral colectiva ou individual, definir protocolos de acesso ao corpo — como tocá-lo? Face a esta nudez escancarada e perfeita, nenhuma troca é possível — aquele corpo não é para ser tocado.
Se o romantismo nos ajudava a lidar com a solidão primordial do ser, agora já não nos podemos dar ao luxo de ser românticos. A beleza tornou-se literalmente intocável, a ponto de a imagem dispensar a carnalidade do corpo.