quinta-feira, junho 11, 2009

Discos da semana, 8 de Junho

Nos últimos tempos temos assistido à progressiva entrada em cena de uma série de propostas que tomam a noção de desafio adiante das velhas fronteiras de género como característica fulcral de uma identidade que busca novos horizontes e experiências, tomando os terrenos indie rock (e suas periferias) como ponto de partida e a canção como unidade estrutural. Podemos pensar em discos de nomes que vão de um Sufjan Stevens ao projecto Final Fantasy, ou muito recentemente a estreia em álbum de DM Stith, para compreender a vasta amplitude de ideias lançadas nos últimos tempos, que têm garantido a este final de década estimulantes focos de constante reinvenção de linguagens. O novo disco do quarteto (com sede em Brooklyn) Grizzly Bear traz novas ideias a esta família de acontecimentos num álbum que sabe juntar esta mesma noção de desafio a uma produção que deixou para trás os devaneios lo-fi (e agora busca o detalhe) e uma escrita segura que faz de cada canção um pequeno e sólido mundo a descobrir. Veckatimest (o título usa o nome de uma ilha no Massachussets) sucede a Horn Of Plenty (2004) e Yellow House (2006) e mostra, mais que nunca, as ideias bem arrumadas. Da canção perfeita (que é Two Weeks) a espaços de aventura e ensaio entre texturas e cenografias, contando com a presença de quartetos de cordas (com arranjos do cada vez mais precioso Nico Muhly), coros e aquela luminosidade que caracteriza os que ousam inventar, Veckatimest não só é o melhor disco da banda (superando também as magníficas experiências em paralelo nos Department Of Eagles) como, certamente, um dos álbuns que vão ficar na história dos grandes acontecimentos musicais de 2009.
Grizzly Bear
“Veckatimest”

Warp Records
5 / 5
Para ouvir: MySpace


Há três anos, com o muito aclamado Rather Ripped, os Sonic Youth mostraram porque são, na essência, uma das referências fundamentais da identidade indie rock, desde cedo entregues à expressão de uma demanda que vinca identidade, mas capazes de manter firme a composição reencontrando, sempre que o desejando, a estrutura clássica da canção. Passaram três anos. Sairam da Geffen para onde gravaram longos anos a fio. E estreiam-se agora em nova editora com um álbum que, se por um lado acolhe algumas sugestões do disco anterior (tomando a faixa de abertura como que uma ponte), parece antes querer vincar uma noção de vitalidade e consequência. É um disco mais tenso, mais intenso. Mais político. Mas nem por isso afastado do que podemos entender como o cânone Sonic Youth, aqui estando as suas marcas de identidade na composição, nos diálogos entre as guitarras, novos jogos entre as vozes. Menos imediato que Rather Ripped, pede mais atenção. Não repete contudo a excelência invulgar do alinhamento do álbum anterior. Mas a caminho dos 30 anos de vida, quem pede que todos os novos discos sejam candidatos a obra-prima? E, para continuidade, estamos acima da média de muitos dos feitos recentes dos seus contemporâneos. Ainda vitais, portanto!
Sonic Youth
“The Eternal”

Matador / Popstock
4/5
Para ouvir: MySpace


Por vezes há aventuras em paralelo que se revelam mais estimulantes e nos dão discos mais interessantes que as “casas principais” onde residem muitos criadores. Sem significar esta ideia uma secundarização dos feitos dos Black Mountain, a verdade é que através do projecto paralelo Pink Mountaintops temos conhecido algumas das mais belas canções de Stephen McBean. O que em tempos começou por ser um projecto a solo evoluiu, entretanto, para um esforço de colaboração que convoca uma cada vez maior e mais versátil) família de participantes. Outside Love, o terceiro álbum que Stephen McBean edita como Pink Mountaintops, é disso um exemplo, convocando músicos de proveniências várias, dos Godspeed You! Black Emperor aos Sweet Herafter e Jackie O Motherfucker, naturalmente convocando o velho colaborador Amber Webber (dos Black Mountain). Apresentado (com humor) como um disco de “dez canções sobre amor e ódio que se lêm como um romance de Danielle Steele, Outside Love é um concentrado de belíssimas canções de perfil melodista em ambiente atmosférico e elegante. Arranjos magníficos, escrita delicada, num disco que pode abrir portas a novos públicos.
Pink Mountaintops
“Outside Love”

Jagjaguwar / Popstock
4 / 5
Para ouvir: MySpace


Tem nome de banda, mas na verdade é coisa de uma alma criativa só, chamando necessariamente mais músicos em hora de subir ao palco. Papercuts é assim o rosto público do californiano Jason Robert Quever, há já alguns anos a morar em São Francisco e, aos poucos, a traçar um rumo que lhe começa a trazer atenções. Começou por trabalhar com nomes como os de Cass McCombs, Casiotone For The Painfully Alone ou Vetiver e ganhou maior visibilidade quando, recentemente, fez primeiras partes para os Grizzly Bear e Beach House. Daí que o presente You can Have What You Want possa vir a conhecer um destino diferente do belíssimo Can’t Go Back, que ficou para a história de 2007 como um dos melhores entre os menos falados discos do ano! Nos discos de Papercuts cruzam-se linhas várias de um sentido pop clássico, evocando grandes nomes e escolas de 60, dos Byrds aos Love… O novo álbum em nada parece querer mudar essa identidade, mantendo em campo uma produção enevoada que esconde a voz (muito característica) de Quever entre os instrumentos e ao todo confere um tom narcotizado. Com a colaboração, entre outros, de Alex Scally (Beach House) e maior presença de teclas, é uma evolução na continuidade face ao álbum de 2007. E enquanto não há novidades dos The Shins, pode assegurar boa banda sonora a almas pop de gosto “clássico”.
Papercuts
“You can Have What You Want”

Gnomonsong
3 / 5
Para ouvir: MySpace


E agora o que é “giro” é ser os novos MGMT… Vai daí, não há quem não tente. Verdade seja dita, não há quem tenha conseguido. Até porque, sendo os MGMT o resultado de um interessante (mas certamente inesperado) cruzamento bem nascido de um sem fim de ideias, linhas e referências, não vale a pena colocar os mesmos ingredientes no shaker e esperar que, com mais ou menos gelo a coisa soe a nada mais senão uma imitação de sabores… Mesmo assim vários têm sido os candidatos a ser os MGMT de 2009, os mais recentes dos quais os Passion Pit… São do Massachussets, andam por aí há já dois anos e já abriram concertos para nomes como os RJD2 ou These New Puritans… Manners, o seu álbum de estreia, junta o sentido indie pop dançável dos MGMT a uma atitude mais próxima das genéticas da música de dança que das heranças do psicadelismo que caracterizou a essência da alma de Oracular Spectacular. O disco vive porém mais de temperos, cremes e sombras que de canções de carne e osso, sendo a escrita (assim como uma voz de falsete limitada, a querer piscar o olho aos TV On The Radio), os seus elos mais fracos. Há instantes interessantes, potencial a desenvolver. Mas depois dos silnges The Reeling e, sobretudo, Sleepyhead, o álbum traz alguma desilusão.
Passion Pit
“Manners”

Sony Music
2 / 5
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Também esta semana:
Little Boots, Kasabian, Placebo, The Housemartins (reedição), Neil Young (archives), Orbital, Ray Davies, George Harrison, Chris Isaak, Lemonheads, Sunset Rubdown

Brevemente:
22 de Junho: Regina Spektor, Gossip, Tortoise, Dinosaur Jr, God Help The Girl, Wilco, Rodrigo Leão
29 de Junho: Tortoise, Duran Duran (reedições + DVD), Jeff Buckley, Frankmuzik, Peter Hammil, Gossip, Dirty Projectors, Fiery Furnaces, Carminho, Moby
6 de Julho: Bombay Bycicle Club, Nick Lowe, Florence and The Machine, David Bowie (VH-1), The Marvelettes

Julho: Chris Garneau, Cass McCombs, A-ha, VV Brown, Riceboy Sleeps
Agosto: Arctic Monkeys, Julian Plenti, Dolores O’Riordan, Stone Roses (Collectors Edition)