JE VOUS SALUE, SARAJEVO (1993), de Jean-Luc Godard
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Num post publicado no seu blog 'As Aranhas', Luís Miguel Oliveira teve a simpatia de reagir ao que aqui foi escrito a pretexto da sua intervenção, no Público, sobre Quem Quer Ser Bilionário? — vale a pena ler o respectivo post intitulado 'O mundo que a internet promete'.
Por mim, gostaria de sublinhar, sobretudo, a lucidez com que o Luís descarta a excessiva personalização do ocorrido em torno do filme, sublinhando o terrível sintoma cultural que aqui se detecta. Escreve ele, com amarga ironia: "O gosto maioritário não deixa, lá por ser maioritário, de ansiar por quem o legitime - e quando não se vê legitimado, escarra. Há uma máxima godardiana (peço desculpa por tão pseudo-intelectual referência) expressa em mais do que um filme dele: 'faz parte da regra querer a morte da excepção'. É justamente disto que se trata. E transcende em muito a crítica, a de cinema ou outra qualquer."
O post vai mais longe e deixa algumas dúvidas muito pertinentes sobre o que tudo isto — entenda-se: a violência ideológica da turba — está a fazer ao espaço da comunicação social: "Porque se o desejo exterminador da turba por enquanto só se manifesta figuradamente, virá o dia em que os directores e editores, de jornais, de revistas, de sites, se sentirão por sua vez intimidados. Mas agora temos aqui tipos que irritam os leitores? A crítica, a de cinema ou outra qualquer, transformar-se-á num simples eco do rumor geral, na mera confirmação de consensos pré-estabelecidos. Numa grande celebração colectiva: as mesmas coisas para as mesmas pessoas, sem perigo de encontrar essa incómoda rugosidade que é uma opinião discordante."
Permito-me rimar Godard com Godard e acrescentar a gélida confissão existencial do autor de One + One: "Vi tantas pessoas viver tão mal e tantas morrer tão bem."
Num post publicado no seu blog 'As Aranhas', Luís Miguel Oliveira teve a simpatia de reagir ao que aqui foi escrito a pretexto da sua intervenção, no Público, sobre Quem Quer Ser Bilionário? — vale a pena ler o respectivo post intitulado 'O mundo que a internet promete'.
Por mim, gostaria de sublinhar, sobretudo, a lucidez com que o Luís descarta a excessiva personalização do ocorrido em torno do filme, sublinhando o terrível sintoma cultural que aqui se detecta. Escreve ele, com amarga ironia: "O gosto maioritário não deixa, lá por ser maioritário, de ansiar por quem o legitime - e quando não se vê legitimado, escarra. Há uma máxima godardiana (peço desculpa por tão pseudo-intelectual referência) expressa em mais do que um filme dele: 'faz parte da regra querer a morte da excepção'. É justamente disto que se trata. E transcende em muito a crítica, a de cinema ou outra qualquer."
O post vai mais longe e deixa algumas dúvidas muito pertinentes sobre o que tudo isto — entenda-se: a violência ideológica da turba — está a fazer ao espaço da comunicação social: "Porque se o desejo exterminador da turba por enquanto só se manifesta figuradamente, virá o dia em que os directores e editores, de jornais, de revistas, de sites, se sentirão por sua vez intimidados. Mas agora temos aqui tipos que irritam os leitores? A crítica, a de cinema ou outra qualquer, transformar-se-á num simples eco do rumor geral, na mera confirmação de consensos pré-estabelecidos. Numa grande celebração colectiva: as mesmas coisas para as mesmas pessoas, sem perigo de encontrar essa incómoda rugosidade que é uma opinião discordante."
Permito-me rimar Godard com Godard e acrescentar a gélida confissão existencial do autor de One + One: "Vi tantas pessoas viver tão mal e tantas morrer tão bem."