segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Bola de Berlim (2)

N. G.: Fechou ontem, na Neue Nationalgallerie, em Berlim, um conjunto de exposições que marcaram o final do ano passado e o início de 2009 por estes lados. No piso superior, "JeffKoons Celebration" mostrava um conjunto relativamente pequeno, mas representativo, de parte da obra de Jeff Koons nos anos 90 e presente década. Grandes formas, cores nada tímidas, balões trabalhados para sugerir figuras — perfeito, sob a estrutura criada no pós-guerra pelo arquitecto Mies van der Rhoe. No piso inferior, "Das Universum Klee" era uma mostra organizada de obras que cobriam todas as etapas da vida criativa de Paul Klee. A organização dos espaços fazia-se não por uma mais imediata lógica ditada pelo tempo, mas por grupos temáticos. Magníficos os estudos sobre cor da época em que foi professor na Bauhaus. Inesperada, mas reveladora, uma pequena sala que sublinhava a relação de Klee com a música — na verdade, o reflexo natural do filho de um professor de música e uma cantora.
Na competição da Berlinale passou ontem Mamooth [foto], de Lukas Moodison, realizador que em anos anteriores já havia apresentado outros filmes no festival, mas na secção Panorama. O filme é um descendente directo de Babel, porém sem a mesma dispersão de histórias, gentes e lugares. De comum partilha o mesmo sentido de história global e uma vontade em olhar para as diferenças abissais entre quotidianos e expectativas de vida entre quem esteja nas grandes metrópoles ocidentais ou no Terceiro Mundo. A história evolui entre Nova Iorque, Filipinas e Tailândia: Nova Iorque é ponto de partida e residência da família de uma médica e de um (inesperado) empresário de sucesso na indústria dos jogos; este (interpretado por Gael García Bernal) parte para a Tailândia para fechar um negócio; em casa fica mulher (Michelle Williams), filha e uma ama, esta última de BI filipino, acompanhando à distância a vida dos dois filhos que deixou para que, com salário em dólares, nada lhes falte. Moodison constrói uma história feita de fragmentos, unidos de forma mais consistente do que aquilo que vimos no nada convincente Babel — porém, alguns furos abaixo da expectativa. Destaque-se uma recorrente (e interessante) utilização de canções dos Ladytron em vários momentos do filme.