A revista Egoísta assinalou os 50 anos do Casino Estoril com uma edição especial dedicada ao número "50" — este texto integra essa edição, com o título 'She's not me' [fotogramas do video de Love Don’t Live Here Anymore (1996), dirigido por Jean-Baptiste Mondino].
[1/5] [6/10] [11/15]
16. De formas muito diversas, com preocupação ou sarcasmo, somos levados a pensar que a exposição mediática das estrelas decorre da maior ou menor “visibilidade” dos seus espaços privados. Em boa verdade, essa é uma forma redutora (e, por fim, moralista) de lidar com a questão. O que está em causa é de outra natureza e decorre de uma ideologia agressiva liderada pelo programa televisivo “Big Brother”: a vida privada deixou de ter valor.
17. O problema ético do espaço mediático contemporâneo (com inevitável destaque para o “jornalismo” televisivo) não nasce da exposição mais ou menos obscena das vidas privadas. Essa é apenas a ponta do iceberg do anti-humanismo dos nossos dias. O mais trágico joga-se através da quotidiana desvalorização de qualquer forma privada de viver, sentir ou pensar. Este é um processo em que, nem que seja por ignorância, todos somos actores.
18. Na entrevista que deu à “Vanity Fair” (Maio 2008), a propósito do lançamento de “Hard Candy”, Madonna fala da violência social dos paparazzi: ““Os paparazzi estão fora de controlo. (...) Aproximam-se muito das pessoas, sem se importarem de assustar as crianças. Ser famoso mudou muito, porque agora há imensas plataformas, entre revistas, programas de televisão e a Internet, para haver quem nos vigie e persiga. Fomos nós que criámos o monstro.”
19. A consciência de que não há a “vida” de um lado e as “imagens” do outro é, hoje em dia, o núcleo fundamental das grandes clivagens políticas. Para a maioria das personagens da “cena política”, o pensamento não é capaz de ir mais além da ideia pueril segundo a qual precisamos de “boas” imagens e de imagens “limpas”. Para tais personagens, pensar que as imagens são parte integrante da vida é algo que transcende as suas capacidades (ou os seus programas).
20. Quase todos os dirigentes políticos passaram a ter uma visão meramente instrumental das imagens, em particular das imagens (e sons) televisivos. Na prática (e, não poucas vezes, nos respectivos discursos), tais dirigentes só se interessam pela televisão em termos cronométricos. São capazes de criar grande agitação por causa de “tempos de antena”. Não dizem, nunca dirão, uma única palavra sobre a televisão como sistema de linguagens.
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16. De formas muito diversas, com preocupação ou sarcasmo, somos levados a pensar que a exposição mediática das estrelas decorre da maior ou menor “visibilidade” dos seus espaços privados. Em boa verdade, essa é uma forma redutora (e, por fim, moralista) de lidar com a questão. O que está em causa é de outra natureza e decorre de uma ideologia agressiva liderada pelo programa televisivo “Big Brother”: a vida privada deixou de ter valor.
17. O problema ético do espaço mediático contemporâneo (com inevitável destaque para o “jornalismo” televisivo) não nasce da exposição mais ou menos obscena das vidas privadas. Essa é apenas a ponta do iceberg do anti-humanismo dos nossos dias. O mais trágico joga-se através da quotidiana desvalorização de qualquer forma privada de viver, sentir ou pensar. Este é um processo em que, nem que seja por ignorância, todos somos actores.
18. Na entrevista que deu à “Vanity Fair” (Maio 2008), a propósito do lançamento de “Hard Candy”, Madonna fala da violência social dos paparazzi: ““Os paparazzi estão fora de controlo. (...) Aproximam-se muito das pessoas, sem se importarem de assustar as crianças. Ser famoso mudou muito, porque agora há imensas plataformas, entre revistas, programas de televisão e a Internet, para haver quem nos vigie e persiga. Fomos nós que criámos o monstro.”
19. A consciência de que não há a “vida” de um lado e as “imagens” do outro é, hoje em dia, o núcleo fundamental das grandes clivagens políticas. Para a maioria das personagens da “cena política”, o pensamento não é capaz de ir mais além da ideia pueril segundo a qual precisamos de “boas” imagens e de imagens “limpas”. Para tais personagens, pensar que as imagens são parte integrante da vida é algo que transcende as suas capacidades (ou os seus programas).
20. Quase todos os dirigentes políticos passaram a ter uma visão meramente instrumental das imagens, em particular das imagens (e sons) televisivos. Na prática (e, não poucas vezes, nos respectivos discursos), tais dirigentes só se interessam pela televisão em termos cronométricos. São capazes de criar grande agitação por causa de “tempos de antena”. Não dizem, nunca dirão, uma única palavra sobre a televisão como sistema de linguagens.
[continua]