sexta-feira, agosto 01, 2008

Madonna 50 vezes (11/15)

A revista Egoísta assinalou os 50 anos do Casino Estoril com uma edição especial dedicada ao número "50" — este texto integra essa edição, com o título 'She's not me' [fotogramas do video de Love Don’t Live Here Anymore (1996), dirigido por Jean-Baptiste Mondino].

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11. Hoje em dia, nenhum discurso político propõe nenhuma alternativa “libertadora”, muito menos “libertária”. Não é tanto que a liberdade seja dada como adquirida (o que, em si mesmo, já é uma forma de droga intelectual). Num mundo em que, por imposição da publicidade, a festa é ininterrupta, a liberdade é entendida como um mero “gadget”, disponível no quotidiano como o novo perfume da marca X ou o automóvel Y com novo conceito aerodinâmico.

12. Na prática (porque tudo isto pressupõe uma prática de rotinas e métodos), a ilusão instalada de uma liberdade sem lei nem sofrimento gera um sistema de visceral menosprezo pelo radicalismo potencial de qualquer desejo. Instante a instante, os cidadãos-consumidores são mobilizados para os mais variados rituais de satisfação. Mais do que isso: a satisfação esgota-se sempre em algum protocolo consumista. Não há desejo. Nem desejo de desejar.

13. Nem a satisfação nem o êxtase são elementos para esgotar o desejo. Para esgotar a sua definição, antes do mais. A ideia segundo a qual nos definimos pelas gratificações que podemos encontrar (atrair, seduzir ou comprar) funciona como mecanismo de normalização dos comportamentos e, em última instância, como factor de acomodação e conformismo. O desejo é sempre desejo de desejar. Mesmo em silêncio, é selvagem e anti-social.

14. Não é possível sustentar nenhuma política sem reconhecer que cada indivíduo é um sujeito de desejo(s). A política pode ser mesmo a arte de pensar a infinitude dos desejos. A canção que remete para o título “Hard Candy” chama-se “Candy Shop” e começa assim: “See which flavor you like and I’ll have it for you / Come on in to my store, I’ve got candy galore / Don’t pretend you are not hungry, I’ve seen it before / I’ve got turkish delight baby and so much more.”

15. Uma estrela, seja de que universo for (música, cinema, futebol, etc.), está condenada a lidar com as expectativas de satisfação do público. A estrela é mesmo alguém que foi colocada no seu pedestal para garantir ao colectivo de espectadores, real ou virtual, o cumprimento de uma promessa de satisfação. Só é possível gerir isso com a frieza de um líder político (Madonna). Não o fazer, é uma sentença de morte, nem que seja simbólica (Britney Spears).

[continua]