Cenário: uma praia algarvia. A Optimus montou uma campanha de promoção que convida os veraneantes a um jogo de roleta para ganharem chapéus de praia, lenços, bonés... (pareciam lenços, pareciam bonés). Muito cedo forma-se uma fila, não de muitas crianças a gritar e alguns adultos, mas de muitos adultos e algumas incautas crianças, todos com ar sofredor sob a inclemência do sol.
Na praia, há já muitos chapéus da promoção. Alguns, na ligeireza do seu design, voam quando a brisa se intensifica e mostra a sua indiferença perante o marketing das telecomunicações. Atrás de cada chapéu, há sempre um adulto ansioso: "Não o magoou, não?..."
Entretanto, a promoção completa-se com cartões desdobráveis, daqueles que servem para colocar nos vidros dos automóveis. Não são oferecidos directamente às pessoas, mas deixados presos nos pára-brisas — alguns voam, outros são abandonados por cidadãos descrentes nos valores ecológicos. Resultado: o chão da zona de chegada à praia tornou-se uma nova área promocional, selvagem e de cores garridas, resultante dos muitos cartões espalhados pelo chão...
Dir-me-ão os mais ofendidos: a Vodafone ou a TMN serão capazes de fazer o mesmo... Daí a precisão que se impõe: não se trata de avaliar uma marca e as qualidades dos seus produtos. Estamos tão só perante um risonho exemplo da felicidade civilizacional que o marketing espalha pelos espaços sociais. Com a cumplicidade de muitos consumidores? Claro que sim. Nenhuma destas palavras significa que o consumidor é um ser abstracto e inimputável no funcionamento do nosso quotidiano.
Dir-me-ão os mais ofendidos: a Vodafone ou a TMN serão capazes de fazer o mesmo... Daí a precisão que se impõe: não se trata de avaliar uma marca e as qualidades dos seus produtos. Estamos tão só perante um risonho exemplo da felicidade civilizacional que o marketing espalha pelos espaços sociais. Com a cumplicidade de muitos consumidores? Claro que sim. Nenhuma destas palavras significa que o consumidor é um ser abstracto e inimputável no funcionamento do nosso quotidiano.
Qual a cena final deste drama burlesco? Alguém que entra e pergunta: "Então a Câmara não limpa?..." A resposta é, em princípio, muito singela: não, não limpa. Mais ainda: promotores, poderes autárquicos e muitos consumidores estarão todos disponíveis para nos fazer crer que tudo isto, de tão festivo e exuberante, apenas contribui para o bem estar das férias de todos os cidadãos. Se ainda nos restar uma réstea de caridade cristã, agradeceremos com humildade e vamos tentar aprender a enterrar bem os chapéus na areia.