segunda-feira, junho 30, 2014

Para (re)descobrir François Dupeyron

O francês François Dupeyron (n. 1950) continua a ser um cineasta mal conhecido entre nós. A estreia de Minha Alma por Ti Liberta aí está para nos ajudar a (re)descobrir a beleza interior do seu cinema — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Junho), com o título 'A doença dos sentimentos'.

François Dupeyron escapa a todas as grelhas de classificação. Por um lado, o seu trabalho desafia os géneros correntes, mesmo se aceita tomá-los como ponto de partida: Drôle d’Endroit pour une Rencontre (1988), a sua estreia na longa-metragem, utilizava um par emblemático do cinema francês — Catherine Deneuve/Gérard Depardieu — para construir uma fascinante desmontagem das ilusões românticas [trailer]. Por outro lado, na sua tocante humanidade, as suas histórias são também viagens às fronteiras da identidade humana: Perigo Alucinante (1994), de novo com Depardieu, surgia como uma parábola sobre os pesadelos da tecnologia.


Não admira que, face a um filme tão belo como Minha Alma por Ti Liberta, hesitemos em convocar qualquer referência ou inspiração. A história de Frédi (espantoso Grégory Gadebois) que herdou, ou julga ter herdado, os dons curativos da sua mãe, tem tanto de crónica social sobre uma certa marginalidade, como de observação da possibilidade de haver alguma troca, genuína e consistente, entre as sensibilidades humanas.
Pressente-se, aqui, uma doença dos sentimentos que não encontra alternativa no cinismo que assombra as relações sociais. Aliás, vale a pena referir que a tradução exacta do título original (Mon Âme par Toi Guérie) seria “Minha Alma por Ti Curada”. É, de facto, uma forma de cura que Frédi vislumbra no amor de Nina (composta pela brilhantíssima Céline Sallette), mesmo se nada disso nos abre as paisagens redentoras de qualquer romantismo clássico [cena do filme].


Dir-se-ia que Dupeyron é um romântico consciente do anacronismo do seu olhar face ao materialismo do mundo contemporâneo. A actualidade de Minha Alma por Ti Liberta começa nessa obstinada procura de uma outra imaginação, e um outro imaginário, para as convulsões do amor — não há nada mais político.

O iPhone como máquina fotográfica

Esta fotografia de Jill Missner, de Ridgefield, Connecticut, ganhou o terceiro prémio da oitava edição do concurso internacional de fotografias obtidas com iPhone.
Vale a pena conhecer o portfolio dos vencedores e, em particular, deixar um sublinhado, afinal, óbvio: o uso do iPhone — e de todos os chamados smartphones (Nokia, Samsung, Sony, etc.) — está a transfigurar o próprio quadro imaginário da fotografia como prática. Dito de outro modo: assistimos à consolidação de um novo contexto fotográfico em que a sensação de instantâneo se combina com os valores culturais & comerciais da chamada personalização através dos nossos gadgets. Em qualquer caso, não tenhamos ilusões: uma fotografia interessante impor-se-á sempre pelas suas singularidades, não pelo dispositivo técnico da sua produção. Ou não?

Ver + ouvir:
MGMT, Kids (ao vivo)




Esta semana vamos espreitar algumas atuações da edição deste ano do festival de Glastonbury. E começamos com os MGMT, num tema já “clássico” do seu álbum de estreia Oracular Spectacular.

Hoje há Sound + Vision Magazine
às 18.30 na Fnac Chiado


As representações da I Guerra Mundial no cinema, na música e nos livros são o assunto central da edição deste mês do Sound + Vision Magazine que logo tem lugar na Fnac Chiado, pelas 18.30.

Haverá ainda espaço para falar de algumas novidades, como as edições de álbuns dos Teleman, de Brian Eno ou Lana del Rey, assim como os lançamentos em DVD do documentário sobre os The National ou ‘O Acto de Matar’ e a recente edição de um novo livro de Herberto Hélder.

Novas edições:
Klaxons, Love Frequency

Klaxons
“Love Frequency”
Red UK
2 / 5

Alguém se lembra ainda de ouvir falar na “cena” da floresta de Dean?... Pois. A menos que sejam grandes admiradores dos EMF ou tenham nos últimos tempos passado os olhos por uma revista musical britânica de inícios dos anos 90, a “cena” ser-vos-á o mesmo que uma qualquer realidade alienígena. Recordo este como um entre os muitos casos de “movimentos” que tantas vezes servem mais a preguiça de quem deles fala que a realidade das músicas em questão. E tudo isto para chegar ao nu-rave, um micro-fenómeno que deu que falar há uns sete ou oito anos e que, passada a vaga de acontecimentos (ou das conversas sobre eles), acabou mergulhado no esquecimento de algo que na verdade quase não existiu, consigo afogando alguns dos nomes e discos que então faziam a “cena” (atenção que não defendo aqui a não existência de movimentos e géneros – apenas refiro que muitos são artificialmente gerados para servir taxonomias fáceis e, com o tempo, afinal se revelam inconsequentes ou mesmo inexistentes). Os Klaxons (que não se afogaram, fique claro), foram um dos nomes de que mais de falava quando se falava de nu-rave. E de facto tiveram em singles como Magick, Gravity’s Rainbow ou Golden Skanks verdadeiros motores de fulgor dançável com uma alma indie rock como ponto de partida. Singles que definiram um patamar de entusiasmo que os demais temas do álbum de estreia, Myths of The Near Future (2007) não conseguiram contudo alcançar. Três anos depois, em Surfing The Void, propunham uma mais incaracterística investida por um maior protagonismo das guitarras. E agora regressam após um hiato de quatro anos com um disco que parece desejar um reencontro com caminhos que seguiam no início de carreira, todavia com um ainda mais claro favorecimento das eletrónicas. Love Frequency é contudo um disco sem um único rumo evidente. Por um lado transporta ecos dos modelos de canção que praticavam há alguns anos. Por outro ensaia experiências de uma pop electrónica mais elaborada, que resulta ocasionalmente em belos instantes como os que escutamos no tema-título, no instante mid tempo (com tempero R&B) de Show Me a Miracle e no melhor momento de todo o disco que se mostra no delicado e discreto The Dreamers. Algures num caminho entre a memória dos seus singles de 2006 (que não eram nada maus, convenhamos) e um terreno pop eletrónica de vistas largas onde nos últimos anos vimos emergir nomes que vão de um Washed Out aos Delphic (entre tantos outros), os Klaxons procuram agora novo caminho. Este parece mais um disco de busca que um eureka. A ver onde chegam depois...

Para ler (e ver): Glastonbury 2014

Terminou a edição de 2014 do festival de Glastonbury (por onde passou um elenco versátil e com nomes de primeiro plano). Aqui ficam alguns ecos do que se passou, entre textos e imagens.

Galerias e textos no The Guardian para ver aqui.
Reportagens da BBC aqui.

domingo, junho 29, 2014

Hamilton Leithauser — contenção romântica

Depois de um belo álbum de Walter Martin, já sabíamos que os membros de The Walkmen andam a experimentar alguns caminhos a solo. Agora, é a vez de descobrirmos Hamilton Leithauser, também com um registo em nome pessoal: chama-se Black Hours e, sendo ele o vocalista da banda, é natural que a sua proposta evoque de modo mais directo as respectivas sonoridades. Seja como for, este é um álbum de alguém que, na melhor tradição made in USA, evidencia uma clara dimensão de crooner, num romantismo contido que sabe combinar sofisticação formal e acutilância dramática.
Duas das canções de Black Hours foram compostas em colaboração com Rostam Batmanglij, dos Vampire Weekend; as restantes oito são co-assinadas por Leithauser e Paul Maroon, outro elemento de The Walkmen. Aqui fica o magnífico tema de abertura do álbum, 5 AM, em sessão gravada na rádio novaiorquina WFUV.

"Tu não percebes nada de futebol..."

ROLAND BARTHES
(1915-1980)
O futebol é uma festa televisiva... Festa deprimente, simplista, sado-masoquista, em que, alegremente, todos se tratam por "tu" — esta crónica de televisão foi publicada na revista "Notícias TV", do Diário de Notícias (27 Junho), com o título 'Para perceber o futebol'.

1. Analisando as formas de manutenção de um determinado sistema de linguagens e valores, Roland Barthes escreveu: “Insinuar dentro da Ordem o espectáculo complacente das suas próprias fraquezas tornou-se desde agora um meio paradoxal, mas peremptório, de a reforçar.”

2. São palavras escritas há mais de meio século, nesse livro admirável que dá pelo nome de Mitologias (1957). O certo é que a sua contundência permanece actualíssima, em particular pelo modo como nos pode ajudar a compreender o aparato televisivo em torno do futebol.

Cristiano Ronaldo
3. Observe-se o que aconteceu depois do empate da selecção portuguesa com a equipa dos EUA. Na semana anterior, antes da derrocada perante a Alemanha, Portugal pairava no céu dos candidatos ao título de campeão do mundo — era “o ano de Portugal”, profetizara Cristiano Ronaldo perante a reverência quase geral do universo televisivo. Depois, passámos a ser uma selecção mal treinada, mal planificada, recheada de jogadores cansados ou mal utilizados...

4. O próprio Ronaldo contribuiu para este “tele-sado-masoquismo”, proclamando, entre outras coisas, que “temos uma equipa limitadíssima”. Digamos, para simplificar, que qualquer outra personalidade pública que se atrevesse a semelhantes inflexões discursivas, estaria a ser friamente torturada no tribunal “popular” das televisões.

5. Entretanto, prossegue a disparatada integração de retóricas anglo-saxónicas da fala, em particular na tradução (?) do pronome “you”, independentemente de ser singular ou plural e da sua função na frase. Jogadores, treinadores e os mais inspirados comentadores passaram a cultivar esse “glamour” de trazer por casa que os faz esquecer qualquer sujeito indefinido. Assim, já não se diz, por exemplo, “quando se joga com três defesas, consegue-se outra dinâmica...”; agora, passou a ser chique dizer “quando jogas com três defesas, consegues outra dinâmica...” Enfim, quando te falam assim, podes até supor que estão a gozar contigo. Percebeste?

Um disco para escutar as árvores


Os espaços e influências diretas das escolas eletroacústicas que marcaram alguma da música europeia na segunda metade do século XX têm interessante herdeiro no compositor polaco Michal Jacaszek (n. 1972) que apresenta no seu novo disco uma ideia que, por um lado, o inscreve numa tradição (ainda mais antiga) de relacionamento da música com a vontade em retratar expressões da natureza e, por outro, assinala uma associação à forma como Olivier Messiaen soube escutar o mundo ao seu redor como fonte de inspiração, tomando mesmo a ideia do seu Catalogue d’Oiseaux como pólo de reflexão para o que agora apresenta. Com uma discografia que conta já com alguns títulos editados desde que se estreou em 2004 com Lo-Fi Stories, Jacaszek apresenta em Catalogue d’Arbres (título desde logo assumidamente inspirado em Messiaen) uma série de composições que partiram da arte de escutar... árvores. O método de trabalho levou-o a tomar gravações de campo como ponto de partida. Ali, na natureza, microfone na mão, escutou o marulhar das folhas, o ressoar do vento sobre os cascos, as “vozes” da floresta... Carvalhos, choupos, sabugueiros, bétulas... Esta é a aqui a matéria prima primordial. Dessas gravações partir depois para a etapa de construção de peças – de génese improvisada - que juntam às sugestões das “telas” reais uma primeira expressão de espaço ambiental, dali emergindo elementos que, sempre discretos, acabam por compor oito retratos das árvores que, assim, escutamos. Contando com a colaboração do ensemble Kwartludium (que junta a presença de um violino, clarinete, piano, vibrafone e percussões), manipulando depois eletronicamente todas as fontes de som, Jacaszek apresenta em Catalogue d’Arbres (editado pela Touch) uma ideia que transcende as fronteiras da música ambiental e de periferias da música electrónica improvisada (atenção que algumas experiências recentes de David Sylvian e seus colaboradores não circulam muito longe deste patamar sonoro) para propor uma expressão atual de descendências da música eletroacústica num terreno claramente marcado pela identidade de uma música sem barreiras de género que começa a afirmar, aos poucos, o que é a alma do século XXI.

Para ler: uma entrevista com Iman no 'Guardian'

Uma entrevista com a supermodelo Iman para o Guardian, onde se fala da sua carreira, do trabalho que hoje desenvolve na Somália, de racismo na moda e da vida ao lado de David Bowie nos últimos 22 anos (com histórias de umas recentes férias em Londres onde estiveram sem que a imprensa desse pela sua presença). 

Podem ler aqui.

David Bowie a 45 RPM (64)


O segundo single extraído do alinhamento de Let’s Dance apresentava uma versão de Bowie para uma canção que ele mesmo havia composto com Iggy Pop e que este último havia gravado no álbum The Idiot, em 1977. Contando com Iggy nos coros, Bowie abordou China Girl segundo uma perspetiva pop distinta da que a versão original mostrara, juntando mesmo sugestões de sonoridades orientais e uma participação nas guitarras de Stevie Ray Vaughan num todo que a produção de Nile Rogers arrumou com grande nitidez. Editado em maio de 1983 com o belíssimo Shake It no lado B (um claro herdeiro direto de Let’s Dance), o single atingiu o nº 2 no Reino Unido, Áustria, Canadá e Irlanda e foi número um na Suíça.

Eli Wallach (1915 - 2014)

Nome grande de mais de meio século do cinema dos EUA e da Europa, membro original do Actors Studio, o actor americano Eli Wallach faleceu no dia 24 de Junho, na sua casa de Manhattan — contava 98 anos.
Não deixa de ser desconcertante que a imagem mais universal de Wallach seja a de cowboy de Os Sete Magníficos (1960), de John Sturges, ou O Bom, o Mau e o Vilão (1966), de Sergio Leone. De facto, antes de tais títulos, ele tinha-se afirmado como uma figura nobre do teatro americano, ligado ao Método e, mais concretamente, ao Actors Studio desde a respectiva fundação, em 1947. Estreou-se em cinema sob a direcção de um dos seus fundadores, Elia Kazan, em Baby Doll (1956), escrito por Tennessee Williams. Com Marilyn Monroe, Clark Gable e Montgomery Clift, integrou o elenco de Os Inadaptados (1961), com argumento de Arthur Miller e realização de John Huston, obra tradicionalmente encarada como um encerramento simbólico do classicismo de Hollywood. O Bom, o Mau e o Vilão abriu-lhe as portas das produções europeias, mantendo-se activo década após década, afirmando o seu invulgar talento de composição — um exemplar character actor.
Vimo-lo ainda em acção, em 2010, sob a direcção de Roman Polanski (O Escritor Fantasma) e Oliver Stone (Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme). Em 2011, no âmbito dos chamados 'Governors Awards', a Academia de Hollywood distinguiu-o com um Oscar honorário, "por uma vida de trabalho marcada por personagens inesquecíveis".

>>> Marilyn Monroe e Eli Wallach numa cena de Os Inadaptados (1961), de John Huston.


>>> O discurso de agradecimento de Eli Wallach nos 'Governors Awards', a 13 de Novembro de 2010.


>>> Eli Wallach era tio-avô de A. O. Scott, crítico de cinema do New York Times — este video regista uma visita de Scott a Wallach, no seu apartamento do Upper West Side de Manhattan, por ocasião do seu 95º aniversário.


>>> Obituário no Los Angeles Times.

Memórias de "Um Dia de Cão"

Dog Day Afternoon/Um Dia de Cão (1975) é um dos grandes filmes de Sidney Lumet e também uma das mais espantosas composições de Al Pacino, interpretando o chefe de um pequeno e desastrado grupo de assaltantes de um banco de Brooklyn — as coisas correm mal e o grupo barrica-se no banco, fazendo vários reféns... O argumento valeu um Oscar a Frank Pierson que se inspirara na história verídica de John Wojtowicz (1945-2006), tal como tinha sido contada por P.F. Kluge's, em 1972, na revista Life, num artigo intitulado 'The Boys in the Bank'.
Pois bem, agora o cinema regressa à mesma história, mas em registo documental: The Dog, de Allison Berg e François Keraudren, propõe-se recuar aos factos originais, investigando a odisseia de Wojtowicz, antes de todas as adaptações ou reduções próprias do trabalho da ficção — eis o trailer.

sábado, junho 28, 2014

Bobby Womack (1944-2014)


Muito certamente lembram aquela sequência na abertura de Jackie Brown, de Quentin Tarantino, com Pam Grier de mão na sua pequena mala, deslizando sobre uma passadeira, ao som de Across 110th Street... As imagens servem aqui para localizar o som num episódio mais recente da história de uma canção que, na verdade, surgiu para um outro filme. Corria então o ano de 1972 e Bobby Womack e J.J. Johnson eram convidados para assinar a banda sonora de um filme de Barry Shear, realizador então associado ao universo blaxploitation. Com o título Across 110th Street, o filme deixou-nos sobretudo uma das mais marcantes das canções de Womack, músico que morreu hoje, aos 70 anos. Sofria de um cancro e alzheimer, não tendo ainda sido oficialmente divulgadas as causas da morte.

Nome importante no panorama da história do rhythm’n’blues e de várias periferias da soul com uma carreira que remonta a meados dos anos 50 (quando integrava os Valentinos, banda familiar e que chegou a contar com Sam Cooke como guitarrista), Bobby Womack cedo foi reconhecido como um grande escritor de canções. Tanto que, em 1964, a ele coube a autoria de It’s All Over Now, aquele que foi então o primeiro single dos Rolling Stones a atingir o número 1 no Reino Unido.

Com os momentos maiores da sua carreira vividos entre as décadas de 60 e 70, Bobby Womack conheceu alguns dos seus episódios de maior visibilidade nos anos 80 e 90 em colaborações com nomes como os de Mica Paris, Lulu ou os Patti LaBelle. Já depois do milénio Damon Albarn desaviou-o a colaborar com os Gorillaz. Os bons resultados desse encontro poderão ter motivado o reativar da sua atividade criativa, apresentando em 2012 o álbum The Bravest Man In The Universe, na verdade o seu primeiro disco de originais inéditos desde 1994 e que contou com Albarn na equipa de produção e juntou colaborações de Lana del Rey e Gil Scott Heron, entre outros. O disco surgiu então em várias listas dos melhores do ano.



Imagens de um teledisco (sim, a imagem não é uma fotografia) que acompanhou Please Forgive My Heart, single extraído do álbum que Bobby Womack editou em 2012.

Vale a pena visitar aqui o arquivo da BBC dedicado a Bobby Womack.

Para ler: nos 100 anos da I Guerra Mundial

Passam hoje 100 anos sobre o momento em que o jovem Gavrilo Princip disparou sobre o Arquiduque Francisco Fernando e a sua mulher, perto de uma ponte em Sarajevo, episódio que teria como consequência maior a ecolsão da I Guerra Mundial.

Pela imprensa internacional há hoje vários trabalhos sobre este tema, em alguns deles debatendo-se a forma como, cem anos depois, é visto não apenas o papel de Princip na História mas até mesmo o seu legado enquanto figura com impacte no mapa presente das tensões que se vivem naquelas regiões da Europa. Vilão ou herói?, eis a questão...

Podem ler aqui um texto no Guardian (com links para vários outros).
E aqui um trabalho (em várias frentes) apresentado pela BBC.

O primeiro romance de Cronenberg

Anuncia-se como a história de Naomi e Nathan, dois jornalistas enredados na notícia da morte de um filósofo francês... O primeiro romance de David Cronenberg chama-se Consumed e será lançado em Setembro. E porque os velhos hábitos são difíceis de abandonar, o cineasta de Videodrome (1983), Irmãos Inseparáveis (1988) e Cosmopolis (2012) decidiu promover o seu livro através de... um filme! São dois espantosos minutos de um singularíssimo cineasta, quer dizer, um obstinado escritor.

sexta-feira, junho 27, 2014

Gainsbourg por Leibovitz

Charlotte Gainsbourg está na nova campanha de malas Louis Vuitton, fotografada por Annie Leibovitz; Bruce Weber e Juergen Teller assinam outras imagens da mesma campanha — o site models.com dá a conhecer o sugestivo portfolio.

O cinema e os jovens de John Green

Como representar os jovens contemporâneos? Que histórias com eles (e para eles) se podem contar? Os livros de John Green parecem tentar responder a tais interrogações, pelo menos a avaliar pelo filme A Culpa É das Estrelas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 Junho), com o título 'Por uma nova "espiritualidade?"'.

Apesar de asfixiado pela conjuntura mediática que tende a reduzi-lo a um histérico festim de “efeitos especiais”, o cinema continua a existir — e, sem dúvida, a resistir — como sistema de linguagens ancorado na história contemporânea e, em particular, nas suas dinâmicas sociais. Um esclarecedor sintoma poderá ser A Culpa É das Estrelas, filme de Josh Boone que, a partir de um “best-seller” de John Green, encena a dramática paixão vivida por dois adolescentes, ambos atingidos pelo cancro.
Se qualquer filme se distingue, antes do mais, pelo seu trabalho especificamente cinematográfico, então talvez seja inevitável começar por reconhecer a fragilidade da proposta: A Culpa É das Estrelas evoca matrizes devedoras do melodrama clássico mas, em boa verdade, vai sendo contaminado pelo academismo de muitos telefilmes. Apesar de tudo, com um trunfo a não menosprezar: no par de protagonistas, Shailene Woodley supera o esforçado Ansel Elgort, confirmando-se como um dos grandes jovens talentos do actual cinema americano (vimo-la, por exemplo, em 2011, contracenando com George Clooney em Os Descendentes, de Alexander Payne).
Dito isto, importará reter o mais significativo, precisamente aquilo que faz de A Culpa É das Estrelas um caso “sociológico” a ter em conta. Estamos perante um filme que reflecte um certo processo de “espiritualização” que tem contaminado alguns projectos cinematográficos e, sobretudo, televisivos. O Filho de Deus, de Christopher Spencer, com Diogo Morgado, será a ilustração mais medíocre de tal tendência, tentando “colar” a rotina televisiva às memórias dos épicos bíblicos de Hollywood. No registo de “saga juvenil”, Divergente — curiosamente com Shailene Woodley — pode ser visto como expressão da mesma tendência, encenando os jovens a partir de uma certa solidão “social” com vagas, mas curiosas, ramificações no imaginário político dos nossos dias.
A Culpa É das Estrelas reflecte, assim, a preocupação de encontrar um espaço simbólico de caracterização dos mais jovens que os liberte da estupidez narrativa de muitos “folhetins” dos nossos dias (entre nós ligados à inanidade do modelo consagrado por Morangos com Açúcar). Por vezes, tal preocupação conduz o filme a paralelismos “metafóricos” de pura demagogia — veja-se a sequência em que os protagonistas visitam a Casa Museu de Anne Frank, em Amsterdão. Outras vezes, assistimos a uma insólita tentativa de “purificação”: e se o calvário do par central fosse a expressão de uma nova “transcendência” juvenil?
Tendo em conta que os mais jovens são todos os dias instrumentalizados em função do consumo (observe-se a proliferação das suas imagens estereotipadas nos anúncios de telemóveis e “gadgets” electrónicos), A Culpa É das Estrelas emerge, pelo menos, como uma alternativa figurativa. Vale a pena tentar acompanhar os diversos sinais deste fenómeno.

Ver + ouvir:
Alexis Taylor, Without A Crutch



Do segundo álbum a solo de Alexis Taylor, voz que conhecemos bem a bordo dos Hot Chip, mas aqui em regime "e agora para algo completamente diferente"...

Novas edições:
Silva, Vista Pro Mar


Silva

“Vista Pro Mar”
4 / 5
Sony Music

Chega até nós um fragmento do que é o (certamente mais) vasto espaço da produção pop made in Brasil. Há mais que MPB ou baile funk a acontecer por aqueles lados... De resto, e se estivermos atentos à história pop/rock de uma cidade como, por exemplo, São Paulo, encontraremos até ecos de acontecimentos marcantes que não são menos interessantes que os de algumas das principais capitais internacionais desses mesmos espaços musicais e que, em muitos casos, escaparam às nossas janelas de atenção. E não é preciso rumar aos caminhos de opção anglo-saxónica de umas Cansei de Ser Sexy para reconhecer ali focos que vale a pena colocar no mapa mundo da pop do presente. Silva é um bom exemplo do que por ali acontece e que justifica que olhemos mais vezes para aqueles lados. Ele chama-se Lúcio Silva, tem uns 25 anos (a caminho dos 26) e tem desenvolvido uma carreira com alguma relação com o espaço português, tanto que não apenas atuou entre nós na recente edição do Rock in Rio como criou este seu segundo álbum por este lado do oceano. Deu primeiros sinais (discográficos, claro) há dois anos quando lançou o álbum de estreia a que chamou Claridão e no qual juntava inéditos a temas de um EP anterior. Vista Pro Mar é um espantoso passo adiante, aprofundando (e melhorando) o trabalho de escrita de uma pop suave, luminosa e doce que a voz cativante do músico junta a cenografias dominadas por delicadas electrónicas às quais, ocasionalmente junta um sóbrio trabalho de arranjos para metais, caldeirão de sabores que uma atenta produção arruma com cuidado e nitizez. O tema-título – que é outro fortíssimo candidato a ser uma das canções do verão de 2014 – lança as coordenadas emocionais de um disco que apresenta uma belíssima coleção de canções pop que são acontecimentos do aqui e do agora, talhados com personalidade e com aquele agradável sabor do calor que fica no fim de tarde dos dias mais soalheiros com o mar por perto. Um bom verão em 2014 não perde nada em juntar este disco à sua banda sonora.

Um fim de tarde entre discos de vinil


Amanhã ao fim da tarde – a partir das 17.00 horas – estarei na Fnac Chiado para uma sessão Sound + Vision especial dedicada aos discos de vinil. Com alguns convidados em cena vamos falar de discos, de coleções, de gostos... E, naturalmente, escutar algumas das propostas que cada um ali levará.