domingo, fevereiro 12, 2012

"Give Me All Your Luvin' " (5/5)

MATERIAL GIRL (1985)
GIVE ME ALL YOUR LUVIN' (2012)

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A imitação de Marilyn Monroe por Madonna tende a ser vista como um modelo de emulação simbólica: "Eu consigo possuir o peso iconográfico que ela teve, repetindo-a e, de algum modo, superando-a"... É uma visão "competitiva" que, em boa verdade, simplifica a inteligência do trabalho narrativo de Madonna. Vale a pena relembrar uma declaração sua, precisamente sobre o teledisco de Material Girl em que ela recupera, ponto por ponto, uma lendária cena de Marilyn em Os Homens Preferem as Louras (1953), de Howard Hawks. Está na Wikipedia e diz assim: "Num certo sentido, Marilyn foi transformada numa coisa não humana, e eu consigo relacionar-me com isso."
Que coisa é essa? É a própria abstracção que acompanha os êxtases, e também a crueldade, de qualquer forma de entertainment: ser e parecer, podendo, no limite, apenas ser através do parecer. Daí o calculado efeito de duplicação que assombrou Marilyn e que Madonna repete, embora resgatando sempre a sua identidade e, até certo ponto, devolvendo Marilyn a uma radical liberdade iconográfica (a única possível, hélas!).
Em Material Girl, Madonna não se enreda na imitação, assumindo também uma personagem de actriz que desvaloriza os diamantes que Keith Carradine lhe oferece (será preciso recordar que a canção de Marilyn no filme de Hawks se chama Diamonds Are a Girl's Best Friend?). Em Give Me All Your Luvin' já estamos no domínio da duplicação da própria citação: Madonna surge como uma sósia angelical de Marilyn e, por sua vez, as vozes convidadas — Nicki Minaj e M.I.A. — duplicam Madonna, duplicando Marilyn, quer dizer, aceitando submeter-se às leis de um universo que não abdica do seu elaborado jogo de espelhos. Sem esquecer que a sedução do espelho só faz sentido através do carácter lúdico do jogo.