[1] [2] Quando Sabina Spielrein (Keira Knightley) se senta para a primeira sessão com Carl Jung (Michael Fassbender), não estamos apenas a assistir ao nascimento da psicanálise — é toda uma reconfiguração do espaço humano que está em jogo. Aliás, Jung começa por chamar a atenção de Sabine para a sua mise en scène das cadeiras e para o modo como ela pressupõe um desejo de mais verdade. Ao filmar Um Método Perigoso, David Cronenberg não está, por isso, a ceder aos lugares-comuns das "reconstituições" históricas de raiz televisiva e ao seu banal determinismo. Nada disso. Antes de Jung, é ele que decide a posição das cadeiras, emprestando à composição da imagem uma tensão preciosa, para mais enraizada na dinâmica de dois olhares que não se cruzam. Filmar essa ignorância que nos aproxima, sobretudo filmá-la como um dado espacial, eis a marca de um cineasta de génio.