As mulheres dos filmes de David Cronenberg não existem. Aliás... existem como grãos de areia na engrenagem masculina. Ou ainda: as mulheres dos filmes de Cronenberg tentam existir para além — e, num certo sentido, através — do misto de cegueira e pânico com que os homens as vêem, ou desejam ver. Daí a sua estranha condição de objectos pré-sexuais: quando a sua relação (com os homens) adquire alguma componente sexual, aí começa o jogo da perdição masculina. Em Um Método Perigoso, isso adquire uma dimensão ainda mais perturbante, se tal é possível, já que são os homens — Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) — que, por assim dizer, convocam Sabina (Keira Knightley) para dizer o mistério da sua inadequação. Dito de outro modo: a história do nascimento da psicanálise é também, no começo do século XX, o capítulo fundador de uma nova idade do feminino. E das palavras que nos faltam. Há uma beleza única em tão singela tragédia.