Cartaz da campanha eleitoral / Presidenciais 2010 |
A. A renúncia de Fernando Nobre ao cargo de deputado pelo PSD, embora esperada, é uma notícia que condensa de forma dramática o simplismo intelectual e filosófico que tem vindo a minar muitos sectores da nossa classe política. E de acordo com uma lógica que, não alimentemos ilusões, tem sido transversal a todos os partidos.
B. De facto, faz-se política como se se tratasse de vencer concursos de televisão — e escusado será dizer que a referência televisiva não tem nada de irónico: é na televisão e pela televisão que tem triunfado uma visão (e, sobretudo, uma prática) da política que fulaniza todas as questões, em boa verdade não conseguindo eximir-se ao imaginário dos "famosos" que alimenta a nossa obscena ideologia dominante. Afinal de contas, foi essa ideologia, na sua desavergonhada pornografia argumentativa, que conseguiu convencer muito boa gente de que o mero afastamento de uma figura maligna (leia-se: "José Sócrates") nos abriria as paisagens redentoras dos amanhãs que cantam.
C. A patética solidão de Fernando Nobre fica como um verdadeiro case study do poder devastador que a ideologia da "fama" e dos "famosos" instalou nas entranhas mais vivas do nosso mais triste viver. Como é possível que alguns, incluindo Pedro Passos Coelho e Fernando Nobre, tenham suposto que dois actos eleitorais (um do país, outro na Assembleia da República) constituiriam o caminho "normal" para alguém, fosse quem fosse, se tornar a segunda figura do Estado português? Há, aqui, uma ingenuidade cuja violência conceptual mete medo. Ainda assim, com a retirada de Fernando Nobre, o nosso tão abalado Estado consegue uma rara e preciosa vitória simbólica.