No sábado, 20 de Novembro, ficou a saber-se que o filme Harry Potter e os Talismãs da Morte - Parte I acumulou mais de 60 milhões de dólares de receitas no primeiro dia do seu lançamento nas salas dos EUA. Na prática, isto significa que o filme irá concluir o fim de semana ultrapassando claramente a marca dos 100 milhões (valor ao qual se poderá começar a acrescentar as receitas dos outros territórios onde já estreou, incluindo Portugal).
Daí o boletim meteorológico — aliás, mediático — que, na manhã do dia 21, se pode traçar para as próximas horas e, em boa verdade, com grande margem de segurança, para toda a semana que vai começar:
1) os números serão assunto abundante de abundantes notícias;
2) quase ninguém lembrará que a perspectiva financeira sobre a vida dos filmes não autoriza nenhuma dedução sobre as suas componentes artísticas;
3) quase ninguém referirá que a compreensão da vida económica dos filmes, em particular de uma gigantesca produção como esta, deve implicar também os números do orçamento e das campanhas publicitárias;
4) a boa performance comercial de qualquer outro filme cujos valores (de produção e bilheteira) sejam menores (e são quase todos os outros...) será sistematicamente ignorada.
Esta meteorologia da cultura financeira dominante do cinema, e para o cinema, pode ainda incluir um complemento caricato que seria apenas involuntariamente divertido, se não fosse apoteoticamente contrário a qualquer forma de inteligência:
5) com o mesmo à vontade com que se celebram as proezas financeiras de "Harry Potter" pode sempre, ao lado, no noticiário político, deixar-se uma sugestão mais ou menos explícita contra o "imperialismo" americano — não se compreende, aliás, como o jornalismo que celebra de forma tão grosseira as finanças do cinema americano, ignorando a sua fascinante pluralidade criativa, continua a alimentar uma ideologia do mais rasteiro anti-americanismo.