A Alice de Lewis Carroll já conheceu várias visões, da leitura “clássica” da Disney (de 1951) à leitura psicadélica na canção White Rabbit dos Jefferson Airplane (em 1967). Poderia parecer figura exausta e o universo “maravilhoso” à sua volta um campo já estéril de tantas vezes lavrado. Tim Burton, porém, mostra-nos o contrário, num filme que em tudo reinventa a figura de Alice (na pele de Mia Wasikowska), repartindo protagonismo com o Chapeleiro Louco (em mais uma magnífica interpretação de Johnny Depp) e explorando ainda ao tutano o jogo de contrários entre o mal e o bem, projectados nas cortes das rainhas vermelha (Helena Bonham Carter) e branca (Anne Hathaway).
Tim Burton é um pouco como a sua Alice. Não quer ficar refém de um mundo em que os outros decidem por si. Devolve Alice ao “país das maravilhas” uns anos mais tarde, reencontrando figuras, bizarrias e lugares que, apesar de (por si) esquecidos, não deixam nunca de sugerir marcas de familiaridade. A “nova” Alice de Tim Burton explora assim, além de que as heranças do texto que a criou, as características que podemos encontrar na sua identidade. Junta-se um universo visual traçado uma vez mais a direito segundo linhas (literalmente) “tortas”, a música de Danny Elfman contribuindo depois para adensar as atmosferas que acolhem as personagens e situações que se sucedem... Ao contrário do que se discutiu perante Avatar, de James Cameron, o 3D é aqui não mais que uma ferramenta ao serviço da imagem. Ou seja, não ofusca nunca Alice, a sua história nem a visão de Tim Burton.
Imagens do trailer de Alice no País das Maravilhas